Distinguir entre o bem e o mal leva a pessoa a ter consciência de valores e contra valores, por noção subjetiva ou objetiva. A formação do caráter leva o indivíduo a ter conduta conforme a consciência bem formada. O Papa Paulo VI lembrava um grande problema, ou seja, confundir o mal com o bem. De fato, os atrativos estimulados à nossa fantasia são muito apaixonantes e até quase irresistíveis aos apetites sensoriais. Mais: há quem busque a felicidade na experiência contínua de gratificações dos sentidos e do intelecto.
Não importam, nessa perspectiva, valores maiores da vida e da dignidade humana. Nem mesmo verdades e bens transcendentes. O mal é considerado somente na ordem material, visto na perspectiva da brevidade do tempo em que durar a vida terrestre. Há até a convicção: “Se não prejudico ninguém, que mal tem?”. Ou: “Rouba mas faz!”. O mal moral tem sido muito esquecido. E, justamente dele, provêm os demais: falta de ética, corrupção, uso da religião para o enriquecimento pessoal, mentiras, injustiças, acúmulo de bens sem compromisso social, degradação do meio ambiente, discriminações, abuso dos indefesos, má administração da coisa pública, desmantelamento da Família, banalização do sexo…
A consciência do bem, deixada como impulso do desejo ou do instinto natural, torna a pessoa altamente egocêntrica. Sem a relação adequada com o Criador a pessoa humana não é capaz de encontrar a base do bem e a sustentação da conquista de sua real felicidade. O bem absoluto se encontra em Deus. O próprio Jesus afirma que, sem Ele, nada podemos fazer. O Mestre nos ensina a rezar, pedindo para Deus nos livrar do mal. Muitos, desviando a responsabilidade humana da prática do mal, atribuem ao demônio todos os desmandos e tentações.
Há quem parece ser pior do que o diabo, por provocar tantos males! Vivemos numa realidade em que minorias têm tudo, deixando grandes parcelas na miséria. Alimento, possibilidade de estudo, assistência à saúde, segurança, boa política, formação de Família saudável, orientação da juventude, respeito e promoção da infância, dos idosos, dos doentes, dos excluídos, dos negros, dos índios e de minorias discriminadas teríamos para todos. Eis um grande mal, a ausência de tudo isso!
Livrar-nos seria possível com união de esforços para promovermos a formação da boa consciência, em que nos responsabilizaríamos efetivamente pela promoção da vida pessoal e social com valores marcados pelo bem. Se todos nos orientássemos pela Palavra de Deus teríamos a prática do bem, com a formação do caráter verdadeiramente cidadão.
O Apóstolo Paulo lembra: “Rezai também para que sejamos livres dos homens maus e perversos, pois nem todos têm a fé! Mas o Senhor é fiel; ele vos confirmará e vos guardará do mal” (2 Tes 3, 1-2). Nossa cultura atual, marcada pela subjetividade, tende a fazer da pessoa e sua vontade a regra suprema da verdade e do bem. No entanto, precisa-se estar atento para se formar a consciência do bem com a assunção de valores a serem respeitados, como os inerentes à natureza da pessoa humana, da justiça e do bem apresentado pelo Criador.
Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (MG).
Fonte: Site CNBB