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Luzes e sombras que pairam sobre o matrimônio

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Sombras que assustam: Diante da responsabilidade matrimonial, que incumbe aos nubentes, muitos analisam razões “pró e contra”, ficando indecisos. Descrevo algumas dessas sombras e luzes para – no próximo artigo – falar sobre a graça do Sacramento do Matrimônio.

A insegurança: nota-se, cada vez mais, uma generalizada e assustadora insegurança, especialmente dos jovens, diante do Matrimônio.

Esta insegurança tem como origem uma série de causas externas, tais como: habitação, subsistência condigna, trabalho, salário, higiene e saúde, a angústia mundial, a situação política e cultural… Muitos autores que escrevem sobre a família atribuem a dissolução de tantas famílias jovens apenas, ou quase exclusivamente, a essas situações insustentáveis de ordem meramente externa.

Mas esta insegurança tem, por certo, raízes muito mais profundas: no íntimo mais íntimo das pessoas em causa. A própria escolha definitiva e irreversível de um ou de uma consorte para a vinculação vital parece limitar o campo quase infinito das opções, frustrando ou até tolhendo a liberdade. Pode ser bom e desejável o que me limita, porquanto “escolher é limitar-se”?

Pergunta-se sobre a realidade, sobre o realismo do amor. Este tão decantado amor em que consiste, afinal? Será que existe de fato e duradouramente? Os desquites, divórcios, as separações e traições à fidelidade parecem evidenciar o contrário… Qual será, em última análise, a razão de ser do verdadeiro amor e as causas do fracasso do mesmo? Parece questionável a construção de uma vida sobre base tão frágil e misteriosa: O amor humano é realidade frágil e sujeita a insídias.

Confusão e dúvida: ligada a esta insegurança de ordem intelectual, ideológica e espiritual, surge uma enorme confusão e dúvida quanto à relação existente entre amor-sexo-fecundidade e fertilidade. Não raro, o amor parece restringir-se ao mero intercâmbio sexual que constantemente vem agredido pela “ameaça” de uma eventual gravidez…

Fecundidade, potência geradora, parecem contrariar a verdadeira felicidade na vida do amor, assim pensam não poucos.

Ademais, o relacionamento conjugal, ordinário e freqüente, aparenta desgastar a própria “originalidade” do amor: por vezes, já não se sente o mesmo atrativo, a mesma afetividade, a mesma “paixão” pela pessoa amada, com o andar do tempo…

Em semelhante ambiente ou psicologia de confusão, seria o maior desatino, a maior aventura estabelecer aliança definitiva de amor com alguém. Desaparece o casamento – como um ideal, na vida de muitos e em seu lugar surge o chamado “amor livre”, o concubinato, o “amantismo”. Perguntam os jovens: por que correr o risco de ser infeliz por toda uma existência? Por que entrar num túnel cujo termo não vejo e nem posso imaginar? Será apenas uma aventura?

Medo: insegurança, confusão e dúvida geram o medo. Por um lado, percebe-se conaturalmente, e se aprecia a beleza da vida de amor, da vida familiar. Por outro, paira a constante ameaça de que essa beleza, esse encanto venham a depauperar-se e a desaparecer ao embate do eterno cotidiano, da dor, do sofrimento. Haverá lugar para o peso da cruz, espaço possível para o sofrimento na vida do amor? O amor parece em constante perigo!

A sociabilidade (que afeta outras vidas): dentro desta já enorme problemática do amor-liberdade-incerteza-medo, ainda se infiltra a possibilidade de outras vidas que venham a vincular-se, como que intrometer-se na vida-a-dois.

Sabem muito bem os jovens, que seu amor afeta a outras pessoas, quer esse amor os conduza à felicidade, quer à desgraça.

Sentimos o peso da sociabilidade, que não nos permite sermos ilhas em meio a um mar de colegas, companheiros, irmãos… Não se consegue, embora se queira, descartar a possibilidade de novas vidas que venham a surgir como conseqüência dos relacionamentos de amor e da potência geradora, inerente a ele. Surge para muitos, desejosos de amor livre e descompromissado, o verdadeiro pavor dos filhos. Parecem-lhes seres nocivos, importunos e indesejáveis num contexto de amor-sexo, de liberdade sem fronteiras e sem moral ou ética.

O Mundo da permissividade: dentro de um mundo de permissividade quase absoluta, aparece, sustentada e alimentada por múltiplos interesses materiais, apregoada como ideal pela maioria da mídia a oferta-procura de todo tipo de contraceptivos, simplesmente para anular a fertilidade e, assim, liberar a sexualidade. Crê-se, ingenuamente, ter aberto, assim, espaço para uma vida de amor sem conseqüências indesejáveis. Quando os anticoncepcionais, por motivos de saúde ou outros, já não franqueiam o caminho do prazer e da paixão…ainda resta a evasiva do aborto contra a gravidez inoportuna. A sombra negra do aborto envolve o nosso planeta como a maior vergonha, a pior chaga e o maior crime do nosso século.

Luzes que encantam – O ideal da vida familiar no plano de Deus: cremos firmemente na palavra do Papa João Paulo II, que nos exorta a construir a base da Humanidade e da Igreja sobre a família.

Para que isso aconteça, temos que lutar pela família, não apenas como um dado sociológico, mas enquadrá-la no plano de Deus, na visão de Igreja com as exigências morais e espirituais que regem a vida familiar. Paternidade-maternidade responsável é impensável sem uma séria preparação para a vida de amor, para a vida familiar, sem a visão exata da sexualidade, fecundidade. Há que incluir, outrossim, a aceitação livre e consciente dos filhos “como o dom mais excelente do Matrimônio”, a educação e acompanhamento dos mesmos em seu crescimento em “idade, graça e sabedoria diante de Deus e dos homens”.

Além disso, não podem ser preteridos, na vida dos casais, os novos relacionamentos que a vida familiar possibilita e exige, com os demais parentes e com a comunidade em que estão ou vão ser inseridos.

Valor da pessoa: não podemos tolerar que jovens idealistas, pais sensatos e bem intencionados sejam transformados em joguetes de interesses escusos, de opiniões ou ideologias da moda, de impulsos repentinos e descontrolados. A pessoa humana tem valor absoluto em si mesma e como tal, vai encarada pela Pastoral Familiar, abstraindo de leis ou decretos posteriores à família, não raro contrários e nocivos à mesma. Fazemos referência explícita ao divórcio, concubinato e ao aborto.

Processo lento e gradativo: estamos cientes de que paternidade-maternidade responsável é um processo gradual, geralmente lento, que vem se consolidando desde a catequese, passando pela preparação e pelo esclarecimento sério para o namoro, desembocando numa preparação para a vida familiar, que não seja apenas de prescrição e rotina, mas, participada com interesse, amor e boa vontade. A responsabilidade recebe um grande impulso nesta fase de preparação imediata para o Matrimônio.

Sabe-se da boa vontade de tantos e tantos jovens, desejosos de se prepararem condignamente para o casamento, para a vida familiar, mas, que se sentem impotentes diante das forças negativas que tentam subtrair-lhes qualquer idealismo. Há que ajudá-los a superar essas barreiras!

Libertar para o amor: um casal somente superará a insegurança, a perplexidade, o medo, a onda da permissividade e de “amor livre”, quando se libertar, decidida e definitivamente, para o amor, mediante a paternidade e a maternidade responsável que lhe revelará todo o valor, o apreço da pessoa humana em si mesma e no seu relacionamento “familiar”.

Cardeal Dom Eusébio Oscar Scheid


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