“Por isso, eis que, eu mesmo a seduzirei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração. Dali lhe restituirei suas vinhas, e o vale de Acor será uma porta de esperança” (Oséias 2,16-17).
Segundo o rodapé da bíblia de Jerusalém, o vale de Acor (um dos vales dos arredores de Jericó, que dão acesso ao interior do país) foi o lugar de ato de infidelidade a Deus. Seu nome significa vale da desgraça (segundo Jz 7,26). Este mesmo vale se tornará porta de esperança, dando acesso a uma Terra Santa renovada.
Vivemos sob o peso de uma cultura de morte e talvez não nos damos conta do quanto isso nos faz cair espiritualmente, emocionalmente e fisicamente numa profunda desesperança, em que o valor da vida humana tem sido cada vez mais trocado pela posse de bens materiais. Mas há esperança! Há um lugar onde Deus quis iniciar a sua obra nova de salvação e ecoar por toda eternidade: o corpo da mulher.
A eterna canção de amor de Deus ecoa com força de urgência em nossos tempos e como homens e mulheres, criados à sua imagem e semelhança, precisamos ouvir e reproduzi-la em nossos corpos. O corpo da mulher foi criado para ser esse lugar de esperança, como uma bela e harmônica sinfonia. Infelizmente, o pecado, as ideologias, as feridas nos deixam perdidos e vazios, não sabemos mais ouvir o que Deus diz através da nossa corporeidade.
Queremos negar a fecundidade, como se fosse uma doença, o que na verdade é um dom que reflete o Criador.
Imagine quando damos um presente muito belo para alguém e ele é recebido como um problema a ser eliminado? Não seria grande a nossa frustração!?
Mas a promessa de Deus é que esse lugar tido como desgraça torne-se novamente um lugar de esperança, um portal que dará acesso a uma Terra Santa renovada. É preciso viver uma acolhida profunda do corpo feminino, suas características, suas fragilidades.
As promessas de felicidade para a mulher que o mundo oferece são inúmeras, caso ela rejeite o dom da maternidade: segurança profissional, liberdade, beleza estendida etc. Porém, há uma felicidade que está na nossa essência: amar até as entranhas, ser no mundo um sinal visível do amor misericordioso de Deus. Existe uma capacidade de amar muito particular dada por Deus à mulher e é de grande frustração não conhecermos esse amor ao longo da vida.
Ainda que tenhamos ganhado o mundo todo, se não tivermos vivido a nossa vocação ao amor, teremos vivido uma vida sem sentido. A mulher é chamada a amar, a dar-se, seja numa vocação matrimonial ou numa vida consagrada ao celibato. O dom precioso da maternidade é para as duas, seja biológica, seja espiritual. E enquanto o mundo fala dessa alegria momentânea de gastar a vida em vista de si mesma, a palavra de Deus nos chama a viver a alegria aqui que já aponta para o céu.
A alegria da maternidade é uma alegria escondida, como o Magníficat de Maria, que foi cantado dentro de uma casa, sem likes e visualizações de atores. Alegria que se dá em pequenas coisas, mas que carregam um sentido profundo de eternidade: quando o filho come toda a comida, quando o bebê aprende a andar, quando a pneumonia vai embora…
Uma mãe vive dessas pequenas alegrias e de uma maneira simples, cotidiana e escondida aos olhos do mundo, que vai ecoando a melodia do amor redentor de Deus pela humanidade, que quis fazer sua obra no ventre de uma mulher. Ele atualiza seu mistério de amor no corpo de cada uma de nós, quando no deserto do mundo, paramos para ouvi-lo e deixamo-nos seduzir por sua voz cheia de doçura a nos conduzir para o amor que não passa! Em um mundo cheio de desesperança, a mãe será sempre um motivo de esperança.
Que nesse dia das mães, nossos ouvidos sejam despertados para a eterna canção de amor de Deus e que possamos nos abrir a uma renovada graça de alegria pelo dom que nos foi dado.
“Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida”(São João Paulo II).
Viviane Lopes, mãe, Consagrada da Comunidade de Aliança
Missão Aparecida – SP
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