Formação

Maria, mestra da oração

“Que alegria pensar que a Virgem Imaculada é nossa mãe! Ela nos ama e conhece nossa fraqueza, que temos a temer?” (Santa Teresinha).

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Queremos voltar a contemplar Maria como mestra e modelo da nossa oração. O amor feminino, a delicadeza da mulher se abre à ternura de Deus e nos ensina novos caminhos para nos aproximar do Senhor. Maria não começou a rezar depois que foi visitada pelo anjo Gabriel e depois da Encarnação. A Igreja apresenta-nos Maria orante antes da aurora da plenitude dos tempos, antes que ela fosse escolhida como mãe de Jesus.

Maria de Nazaré

Não é difícil reconstruir a vida da jovem Maria, filha de Ana e de Joaquim, que vivia num povoado da Galiléia chamado Nazaré. Uma vida de gente pobre, simples, que devia lutar de sol a sol para garantir o próprio sustento e cuidar dos afazeres diários de uma família: limpar a casa, buscar água na bica, socar o arroz no pilão, ir às casas vizinhas para manifestar a solidariedade nos momentos de sofrimento pela morte de alguém, alegrar-se pelo nascimento de um filho ou repartir o pão preparado no forno a lenha… Uma vida simples, mas cheia de amor.

A família de Joaquim e Ana era conhecida e estimada pelo seu trabalho, honestidade e zelo pela Lei do Senhor. Não havia nada de especial. Sua rotina era marcada pela união, amor e compreensão. De manhã, ao meio-dia e ao anoitecer, imagino que a pequena família de Nazaré, deixando de lado os trabalhos, unia-se em oração. Não há dúvida de que Joaquim repetia os textos sagrados ouvidos na sinagoga e convidava a família a estar atenta aos sinais para reconhecer a vinda do Messias, anunciado pelos profetas. Maria prestava atenção a tudo e se colocava em oração. E sonhava com a vinda do Messias, suplicava a Deus que lhe fizesse contemplar a chegada daquele que devia salvar o povo de Javé. Estes desejos e esperança se fazem oração na vida de Maria.

“A oração de Maria nos é revelada na aurora da plenitude dos tempos. Antes da Encarnação do Filho de Deus e antes da efusão do Espírito Santo, sua oração coopera de maneira única com o plano benevolente do Pai” (Cat 2617).

Por isso Maria faz-se para nós mestra de oração. Como cada um de nós, ela fundamentou a sua oração na fé e no amor ao Senhor, que vem em socorro do seu povo.

Esperança na oração

Uma característica da oração de todos os tempos é a esperança. Saber esperar o que ainda não possuímos. O Deus da esperança não leva em conta a nossa matemática; para Ele, mil anos são como um dia, e um dia como mil anos. Nós, homens e mulheres, somos cada vez mais triturados pela pressa, a pressa de tudo. Não sabemos mais esperar.
No entanto, Deus é o Deus da esperança e suas promessas se realizam no decorrer do tempo, lenta mas inexoravelmente.

É preciso carregar em nós esta certeza de que toda promessa vai se realizar, e passar esta teologia da esperança a todos os que vivem conosco para que seja transmitida aos que vierem depois. Maria é a janela da esperança aberta sobre o mundo. Quem tem esperança não pode deixar de rezar, de acreditar que o Deus da história vai mudar o curso das coisas. Todos nós esperamos e, alcançando o que esperamos, assumimos outro ideal, e outra esperança nos anima. A oração de Maria começa a se realizar quando ela se abre ao mistério da concepção, quando pronuncia o seu “sim”.

Quem reza não faz muitas perguntas a Deus, não duvida de sua ação. Sente, como Maria, medo e insegurança, tenta compreender, mas entrega-se plenamente nas mãos do Senhor. Por isso encontramos Maria plenamente dócil à ação do Espírito Santo que a conduz por caminhos para ela desconhecidos. Maria reza “na Anunciação para a concepção de Cristo, em Pentecostes para a formação da Igreja, Corpo de Cristo” (Cat 2617).

O nosso fiat… Sim incondicional

Há momentos em que dizer “sim” ao projeto de Deus é extremamente difícil, mas é o que Deus quer dos seus amados. A Deus não se pode dar resposta medíocre ou parcial. Contemplar o Fiat de Maria é descer ao íntimo de sua humanidade, de seu mistério. O mistério não se revela uma vez por todas, mas lentamente se abre os nossos olhos e Deus nos faz compreender o que irá acontecer.

Por isso Maria conservava todas as coisas no seu coração, ia meditando-as para que tudo se fizesse realidade. Toda pessoa de fé caminha na noite, mas tem no coração a certeza que, um dia, o sol brilhará em todo o seu esplendor. Aprender na escola de Maria, mestra da oração, a dizer “sim” é deixar-se conduzir plenamente pela mão de Deus, sem saber aonde Ele nos conduzirá. O Fiat envolve toda a nossa inteligência e exige a resposta da fé.

O nosso sim, à imitação de Maria, deve ser total, incondicional, mesmo quando não compreendemos, mesmo na revolta da nossa natureza; ou quando a cruz nos parece mais pesada; ou ao nosso redor as trevas se fazem mais espessas; quando o grito da dor rompe do nosso coração; quando nada parece ter sentido e nos sentimos sozinhos, sem apoio, é exatamente nesses momentos que devemos ter a coragem de dizer FIAT – faça-se!

“Na fé de sua humilde serva, o dom de Deus encontra o acolhimento que esperava desde o começo dos tempos. Aquela que o Todo-poderoso tornou ‘cheia de graça’ responde pela oferenda de todo seu ser: ‘eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra’. Fiat, esta é a oração cristã: ser todo dele porque Ele é todo nosso” (Cat 2617).

Contemplação de olhos abertos

Ensinaram-nos que a contemplação acontece quando ficamos de olhos fechados, despreocupados de tudo o que pode acontecer ao nosso redor. Que o contemplativo é alguém meio alienado, que mergulha no seu próprio ser sem sentir mais o peso da vida e sem se angustiar pelas milhares de pessoas que, a cada dia, morrem de fome ou lutam para reconquistar a própria liberdade.

Deram-nos a imagem do contemplativo como alguém meio estranho, distante de tudo, preocupado apenas com seus cânticos e rezas, mas pouco atento ao que acontece na vida de cada dia, afinal, “ser contemplativo é interceder pelos outros sem saber por que; é Deus quem vai saber como ‘distribuir’ as orações que recebe”. Nada de mais aberrante e sem fundamentação!

Maria, a intercessora, contemplativa, está toda atenta nas bodas de Caná; não foge para se retirar em oração, esconder-se aos olhos dos outros. Gosto de imaginar Maria de pé, entre a sala dos convidados e a cozinha, olhando tudo o que vai acontecendo. E ao perceber que os servidores não passam mais rapidamente para servir o vinho, ela não fica indiferente, mas se preocupa e tenta solucionar o problema.

“Não têm mais vinho!” Estas palavras têm uma força toda especial na nossa vida orante. Não é suficiente suplicar, é preciso conhecer os sofrimentos dos irmãos pelos quais rezo. A oração nasce da realidade, da vida. Quanto mais estivermos no meio do povo, mais perceberemos suas necessidades. Portanto, a Igreja quer que os contemplativos e as contemplativas estejam informadas sobre o que acontece no mundo e na Igreja. Viver os problemas dos outros estando ao lado… Não se pode assumir o que não se conhece.

Maria, nas bodas de Caná, nos faz compreender que a vida é sempre festa, alegria, aliança, matrimônio. Não se celebra uma festa sozinho, separado dos outros. Mas muitas vezes a festa é estragada pela falta de pequenas ou grande coisas. O maior pecado é o egoísmo, que nos impede de ver que vinho falta na grande festa da vida: o vinho da fé, do amor, da esperança.

“O Evangelho nos revela como Maria ora e intercede na fé: em Caná a mãe de Jesus pede a seu filho pelas necessidades de um banquete de núpcias, sinal de outro Banquete, o das núpcias do Cordeiro que dá seu Corpo e Sangue a pedido da Igreja, sua Esposa. E é na hora da nova Aliança, ao pé da Cruz, que Maria é ouvida como a Mulher, a nova Eva, a verdadeira ‘mãe dos vivos'” (Cat 2618).

Olhando o futuro

O orante não pode se fixar no passado, agradecendo; ou no presente, louvando; mas o seu olhar profético enxerga longe e contempla o futuro. O Magnificat de Maria é o canto do futuro. Ela mesma, tomada pelo Espírito Santo na visita à sua prima Isabel, diz: “Todas as gerações me chamarão de bem-aventurada”… O bem que fazemos hoje não pode permanecer enterrado, mas será cantado por todas as gerações que virão. Como é maravilhoso contemplar a história dos grandes profetas, santos que continuam vivos na história de sempre. Suas palavras e gestos permanecem para nós como modelo de vida e nos estimulam!

Maria contempla o futuro. Sabe que pelo seu “sim” o mundo não será mais o mesmo, algo extraordinário acontecerá. A nossa oração deve ser fermento escondido que vai transformando o futuro; somos semeadores. Uma vez Jesus disse, para animar os apóstolos no ministério às vezes árduo e difícil: “Vocês recolhem o que os outros semearam, e os outros recolherão o que os outros semearem”… O orante não se preocupa em fazer colheita, mas em lançar as sementes abundantemente, sabendo que elas, quer estejamos dormindo ou acordados, germinarão pela força que lhes é própria.

O Magnificat

“Por isso o cântico de Maria, o ‘Magnificat’ latino, o ‘Megalynário’ bizantino, é ao mesmo tempo o cântico da Mãe de Deus e o da Igreja, cântico da Filha de Sião e do novo Povo de Deus, cântico de ação de graças pela plenitude de graças distribuídas na Economia da salvação, cântico dos ‘pobres’, cuja esperança é satisfeita pela realização das promessas feitas a nossos ‘pais’ em favor de Abraão e de sua descendência para sempre” (Cat 2619).

A nossa oração, com Maria, recupera o sentido genuíno da fé, da esperança e do amor. Maria nos convida a olhar o nosso futuro, a sermos semeadores de esperança, a dizer corajosamente no “aqui e agora” o nosso ‘sim’, grávido das consequências do amor e da libertação. Em momento algum da vida de Nossa Senhora encontramos desesperança ou tristeza, mas sempre ânimo e coragem. A oração é a fonte de todo o bem que está escondido dentro de nós. O orante nunca, seja qual for a situação em que se encontra, será desanimado, ele vive a chama da esperança e do amor.

Aprender a rezar com Maria é percorrer novamente a sua vida, de Nazaré ao Calvário, do Calvário ao Cenáculo… Sempre animada e dócil ao Espírito Santo, que faz dela a primeira mulher evangelizada e a primeira evangelizadora. Maria se apresenta como modelo pleno de todas as virtudes; nela o amor habitou em plenitude, por isso se torna nossa mãe, modelo e mestra.

Releia lentamente o Magnificat (Lc 1,46-55) e as Bodas de Caná (Jo 2,1-11). Reviva em seu coração as atitudes de súplica e louvor, e se entregue, nos momentos difíceis e incompreensíveis de sua vida, nas mãos de Deus, pronunciando as palavras de Maria, grávidas de fé pura: FIAT. Esta é a assinatura que deve constar no final de todas as nossas orações.

 

 


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