Quando descobri que estava grávida encontrei em mim a alegria de poder testemunhar um Deus que cumpre todas as suas promessas, mas também experimentei o medo. O medo de perder o bebê, de não ser o suficiente, de não ter tudo o que ele precisava pra nascer e pra crescer saudável.
E por isso, a Providência de Deus me surpreendeu e “humilhou”. O Pai havia me prometido que não me deixaria órfã, e que a Virgem Maria cuidaria de cada detalhe do enxoval. E assim de fato aconteceu.
Nada, absolutamente nada, foi como eu havia desejado/sonhado/planejado. Foi melhor. Infinitamente melhor. Foi do jeito do Pai.
Foi tempo de entender que eu tive na gestação aquilo que deveria ter, abrir mão de coisas que antes eu achava serem essenciais e que no final das contas não eram. Foi um tempo de sair de mim e viver situações que eu havia pedido a Deus que Ele jamais me permitisse viver. E foi um tempo de me perceber absurdamente amada pelo Pai, pela Virgem Maria e São José.
Não precisei abrir a boca para expor minhas necessidades, bastava reparar em algo, e pensar: “Meu Deus, e agora? Está faltando isso… Como eu vou fazer?” ou simplesmente testemunhar a providência que se antecipava a realizar até mesmo alguns desejos do meu coração que eu sequer ousava pensar muito a respeito.
A cada ecografia fui sentindo a alegria pela chegada do meu filho aumentar e dar sentido às dores e as marcas que a cada dia eu via surgir no meu corpo. Meus ossos que se deslocavam para acomoda-lo, a azia insuportável em alguns momentos por causa dos órgãos espremidos para dar espaço ao útero, a pele e os músculos que se esticavam, ficando com marcas que surgiram independente dos cremes que eu passava, detalhes dolorosos que sinalizavam que ele estava crescendo bem, e se tornaram lembranças do tempo que eu o carreguei em mim.
O que realmente importava era a felicidade de vê-lo crescendo saudável, imaginar seu rosto, seus detalhes, ouvir seu coração batendo forte em mim e a cada dia se aproximando o dia do seu nascimento.
Percebi na maternidade uma grande semelhança com a Cruz. Dar de mim, da minha carne, por e com amor, para que meu filho tenha a vida. É impossível passar pela Cruz sem as chagas, assim como é impossível se tornar mãe sem que marcas fiquem pra sempre gravadas no corpo e no coração. É ver a mulher que eu fui até então, morrer, para dar espaço a uma vida nova.
É de fato um amor inexplicável e que me fez chorar de gratidão quando olhei a primeira vez para o meu filho, para o meu Elias, e percebi que aquele amor que parecia tomar todo o meu ser de forma tão completa, não é nada perto do que o Pai sente por mim.
Ele estava previsto para o dia 07 de abril, terça-feira da Semana Santa. E um vírus apareceu, ceifando vidas e instaurando o medo no mundo todo. Todos estavam isolados em casa, trancados, com medo de morrer, de perder o emprego, de passar fome… Enfim, o caos e a desesperança ameaçava tomar conta dos corações.
E o pico da pandemia estava previsto para a semana do parto. Algumas pessoas começaram a me ligar me questionando se eu não deveria marcar logo uma cesárea para antecipar, como eu faria com um bebê tão pequeno, lamentando a minha gravidez e a época do nascimento dele e querendo me fazer murmurar junto.
Mas com ajuda dos meus irmãos de comunidade e minhas autoridades, fixei meu olhar em Deus, e diante de tudo o que Ele já fez, confiei que também o dia do nascimento do meu filho estava no Seu coração.
Elias nasceu no dia 09 de abril de 2020, quinta-feira santa, dia da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. E como todas as crianças nascidas nesse tempo, um sinal de esperança e alegria, prova de que o Amor realmente tudo pode, a tudo dá sentido, são sinais de que a vida vence a morte.
Ana Luiza Sousa
Consagrada da Comunidade de Aliança