Dom Orani João Tempesta
Começamosa celebrar no Brasil mais um mês temático: o Mês da Bíblia. O despertardessa comemoração hoje é um constante reavivamento e aprofundamento na fé, criandoconvicções sobre a missão de cada cristão à luz da Palavra.Ultimamente, a insistência tem sido a de nos alimentarmos da LectioDivina ou Leitura Orante da Bíblia como modo de acolher no coração e namente a Palavra que Deus que será transformada em vida e prática cristãna vida diária como testemunho evangélico.
Paraeste ano, a CNBB nos propõe a Epístola de São Paulo aos Filipenses paranossa meditação na celebração do Mês de Setembro. Com o tema “Alegriade servir no amor e na gratuidade”, e com o lema “Tende em vós osmesmos sentimentos de Jesus Cristo” (Fl 2,5), ainda sob os eflúvios doAno Paulino, deixamo-nos guiar pelo Apóstolo dos gentios, daqueles quenão conheceram a Luz.
ACarta aos Filipenses é muito específica para uma reflexão sobre nossavida em comunidade. A essência de nossas comunidades, paróquias, casasreligiosas em nada se difere dos primeiros grupos cristãos, dosprimórdios da Igreja de Cristo: homens e mulheres, em torno da mesa doSacrifício Perene, vivendo e compartilhando a sua vida e o que possuíam.
Aorientação que São Paulo dirigia aos fiéis de Filipos, na Macedônia, éa mesma que ainda ecoa até nossos dias. No momento em que vivemos apressão do consumismo, da vontade do ter sempre mais, distraindo-nos emnossa caminhada, prendendo-nos aos bens terrenos, banaliza nossaatitude a letra do Apóstolo: “Eu aprendi a me adaptar às necessidades;sei viver modestamente e sei também como me comportar na abundância.Estou acostumado com toda e qualquer situação” (Fl 14,11-13).
Consegue-seabandonar tudo, até de si mesmo, de suas pretensões, de seu orgulho, apartir do momento em que se ouve a mensagem do Cristo e se a vive.Assim Paulo o fez e incitava seus caros irmãos no amor de Deus afazê-lo também, “pelo entranhado amor de Jesus Cristo” (Fl 1,18), quese deu até à morte pela nossa redenção.
Nasprimeiras páginas desse livro bíblico, São Paulo testemunha a sua fé,pregando o Cristo, vivendo n’Ele: “Meu ardente desejo e minha esperançasão que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristoserá glorificado no meu corpo (tenho toda a certeza disto), quer pelaminha vida quer pela minha morte. Porque para mim o viver é Cristo e omorrer é lucro” (Fl 1,20-21).
ODocumento de Aparecida clareia esta esperança iluminadora pela Palavrarevelada: “A Igreja tem como missão própria e específica comunicar avida de Jesus Cristo a todas aspessoas, anunciando a Palavra, administrando os sacramentos epraticando a caridade. É oportuno recordar que o amor se mostra maisnas obras do que nas palavras, e isto vale também para nossas palavrasnesta V Conferência. Nem todo o que diz Senhor, Senhor… (cf. Mt7,21). Os discípulos missionários de Jesus Cristo têm a tarefaprioritária de dar testemunho do amor de Deus e ao próximo com obrasconcretas. Dizia São Alberto Hurtado: “Em nossas obras, nosso povo sabeque compreendemos sua dor” (cf. DAp 386).
É esse mesmo anseio, da busca do amor que Cristo nos oferece pelo seu seguimento e pelo seu discipulado, que devemos alimentar anossa vida. Unidos a Cristo, aprofundaremos na contemplação de suadivindade e outra coisa não desejaremos, senão viver unidos a Ele, “semmurmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes,filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa,onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a palavra da vida” (Fl2,15-16). Tudo isso porque “somos cidadãos dos céus. É de lá queansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, quetransformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpoglorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura”(Fl 3,20-21).
Estedeve ser o nosso desejo, com a certeza de que, lutando contra as másinclinações de nossa natureza e buscando viver mais intimamente com oSenhor, estaremos mais unidos a Ele, e “Deus há de provermagnificamente a todas as vossas necessidades, segundo a sua glória, emJesus Cristo” (Fl 4,19).