A pergunta feita pelo padre Cristiano Pinheiro no Congresso de Jovens Shalom em Brasília ainda ressoa no meu coração. Na ocasião o sacerdote falava sobre redes sociais, o personagem que criamos de nós mesmos e nossa falta de coragem de ser aquilo que queremos ser. Mas decidi levar o questionamento para um todo.
No último final de semana segui a sugestão dada pelo blog Projeções de Fé e assisti o filme “O quarto de Jack”(contém spoilers). O filme conta a história de mãe e filho feitos reféns, que habitam em um quarto minúsculo. Para o filho, Jack, um garotinho de cinco anos, o “mundo” é aquele quarto e não existe nada fora dele. Até que ao conseguir fugir do cativeiro, Jack passa a conhecer a realidade. Para o garoto tudo é novo e de início bem assustador. Passei a observar a semelhança entre Jack e cada um de nós.
Durante toda a nossa vida tivemos um olhar sobre nós mesmos, o mundo, as pessoas, a vida. Até que em um determinado momento tivemos uma real experiência com Deus que transformou a nossa história. O se sentir olhado pelo Amado nos faz olhar para todas as certezas que tínhamos e perceber que tudo é bem diferente. Nossa visão sobre nós mesmos, sobre o mundo, as pessoas, a vida, muda. O que antes era visto de forma limitada passa a ter novos horizontes. Mas não é fácil. O novo assusta.
Depois dessa experiência nosso desejo é de amar a Deus, torná-Lo conhecido, ajudar o próximo, ser santo. No entanto, por muitas vezes, nos falta a coragem de nos determinarmos por corresponder a esse anseio mais profundo do nosso coração. Tudo isso porque insistimos em nos prender aos limites que a vida sem Deus nos impunha. Focamos nas nossas feridas, impomos limites a ilimitada misericórdia de Deus, nos fechamos ao amar, ao deixar-se amar. Preferimos nos encerrar naquele “quarto” aparentemente cômodo para nós, do que descobrir o mundo que Deus nos apresenta. Desejamos ser santos, mas temos medo de deixar Deus tocar as marcas do passado que buscamos esconder a todo custo. Queremos ser santos, mas evitamos aprofundar a nossa vida de oração para não se deparar com as nossas próprias misérias e enfrentá-las. Queremos ser santos, mas nosso conhecimento limitado do amor deseja algo perfeito, sem dor e sacrifício, bem diferente do que Cristo nos apresentou. Queremos ser santos, mas nos omitimos na hora de evangelizar aquele que Deus nos pede para alcançar. Queremos ser santos, mas não temos coragem de sê-lo.
Mas calma, nem tudo está perdido. Antes do nosso coração ansiar pelo céu, é o próprio Deus que anseia pela nossa santidade. De fato, pelas nossas próprias forças jamais seríamos capazes de optar por renunciar a nós mesmos, pela castidade, pela pobreza, pelo sair de si. É o próprio Deus que nos santifica, que por providência nos faz redescobrir os limites do nosso ser, que nos faz desbravar o nosso interior e aprender o que é verdadeiramente o amor. É Ele a fonte da coragem para sermos quem realmente desejamos ser. É Ele o próprio sentido do anseio do nosso coração.
Finalizo com um um trecho de uma pregação do Ronaldo Pereira que sempre me auxilia no meu desejo pelo céu:
“Deus oferece maiores condições para sermos santos do que as que temos para sermos pecadores.[…] Somos frágeis, todos sabemos. Contudo, a partir do momento em que nos determinamos a fazer a vontade de Deus, o Espírito Santo derrama suas graças e nós somos capazes de acolhê-las. Ele vai nos educando e fortalecendo para crescer na graça. A vontade de Deus, como ensina Jesus, é que todos sejamos santos!¹ Se a vontade de Deus para nossa vida é que sejamos santos, quem terá o poder de impedir isso? Somente nós mesmo! Somente nós próprios através de nossa livre vontade!
Que saiam do nosso meio todas essas mentiras. Somos, sim, chamados a ser santos! Ser santo não é impossível! A felicidade está na santidade! É, sim, o próprio Deus, com o poder incomparável do seu Espírito que nos educa para a santidade. Ser santo é possível! É a vontade de Deus. Aliás, é mais que possível, pois é a vontade de Deus.”²
Que o próprio Deus nos dê a coragem de ser aquilo que queremos ser: SANTOS!
Shalom.
¹“Sede santos, porque eu sou santo.” 1 Pe 1, 5 – 15
² Escolhi a Santidade, Ronaldo Pereira – Edições Shalom
Mayara Raulino