“Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham vida”. Esse é o lema da Quinta Conferencia Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, inaugurada pelo Papa Bento XVI.
A América Latina e o Caribe são 43 países e colônias com 558.595.318 pessoas. São centenas de povos, alguns milenares, como os quéchuas e os yanomamis. A América Central é hoje governada por partidos de direita (exceto o Panamá e Costa Rica) enquanto a América do Sul foi para a esquerda, excetuando a Colômbia, Paraguai e o Suriname. A América Latina passou do Consenso de Washington à recusa continental do neoliberalismo. A região investe 31 bilhões em mísseis antiaéreos, e paradoxalmente tem o maior índice de desigualdade entre ricos e pobres do planeta.
A Igreja Católica atende às culturas locais com estes recursos: 425.599.389 milhões de católicos, organizados e reunidos em 800 dioceses, 31.530 paróquias, 104.331 centros de evangelização, coordenados por 1201 bispos, 66.684 sacerdotes, 10.302 diáconos permanentes, 5.484 irmãos, 129.813 freiras e 1.350.495 catequistas.
Os dados sobre a pertença religiosa mostram uma grande diversidade. Vejamos os números do continente: católicos: 425.599.389 (76%); Muçulmanos: 4.450.000 (0,8%); hinduístas: 1.327.000 (0,2%); budistas: 2.701.000 (0,5%); judeus: 6.024.000 (1,14%); espíritas: 151.000 (0,03%); xintoístas: 56.000 (0,01%); ateus e não-religiosos: 30.153.000 (5,7%); outras religiões: 596.000 (0,1%); cristãos de fronteira: 10.531.000 (1,9%) como Mórmons, Testemunhas de Jeová e Adventistas; protestantes e pentecostais: 49.549.200 (9,42%) basicamente no Brasil, Bolívia e Guatemala.
O Cardeal Aloísio Lorscheider nos recorda que se a primeira Conferência Geral foi guardada pela idéia-chave da defesa da fé e das vocações, a segunda o foi pela idéia da libertação, a terceira pela comunhão e participação e a quarta pela inculturação. Nesta quinta Conferência a Igreja Católica não poderá trair os pobres. Deve testemunhar a fé dos mártires, como d. Oscar Romero assassinado em 1980, após sua volta do encontro de Puebla. Ele sela com sangue o que assinara no documento do episcopado. Será preciso manter a tradição magisterial destes encontros continentais. A missão da Igreja não pode ser cristalizada no passado. É preciso transmitir o legado e atualizá-lo. Cultivar sementes, atentos aos novos sinais dos tempos, para acompanhar a ‘floresta que cresce’ pela graça de Deus.
Que vinhas podar para o melhor vinho degustar?
– Assumir uma visão mais global da teologia do Espírito cultivando a profundidade mística;
– Assumir os pobres, os jovens, as mulheres e os migrantes como protagonistas da fé.
– Valorizar a Igreja Povo de Deus, bebendo das fontes da revelação abertos ao ecumenismo,
– Priorizar o missionário leigo no mundo urbano.
– Condenar a corrida armamentista e o imperialismo norte-americano como fracassos civilizatórios.
– Viver a sapiencial lição das Irmãzinhas de Jesus de Charles de Foucauld, que vieram da França ao Araguaia para ser ‘tapirapé com os tapirapés’, mudando a prática missionária ao acompanhar a doce aventura do ‘renascer de um povo’.
É preciso propor um perfil alegre do missionário como aquele desenhado pelo padre Louis-Joseph Lebret: “Eis o perfil de um missionário de Cristo Jesus: alguém capaz de amar e ter consciência desse amor”.
Fernando Altemeyer Junior
Teólogo, doutor em ciências sociais e Ouvidor da PUC-SP
Fonte: CNBB