Formação

Mistério da iniqüidade

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Como é bom ver palmilhantes de maus caminhos mudarem de vida. Nos ensinamentos de Jesus é mesmo uma advertência constante: devemos nos converter. Chega a ser um ato de amor: “O Senhor corrige os que ama” (Hb 12, 6). Como é encorajador para os pais ver que um filho modifica seu comportamento, depois de uma amorosa advertência. Mas, ao contrário, como é decepcionante ver que um amigo, mesmo depois de “tragédia anunciada”, nada faz para andar pelas “sendas da justiça” (Sl 23, 3). Continua tudo da mesma forma, como sempre. Por que acontece isso? É uma pergunta que me intriga. Eis uma tentativa de resposta, externada nos pontos a seguir:

Algumas vezes pode ser:

1 – Porque a pessoa não acredita que está errada. É como rezava S.Agostinho: “converte-me, Senhor, mas não logo”. Lembra certos elementos de nossa classe política que, após ser desmascarada dezenas de vezes, continua urdindo novos golpes contra o erário público, com a certeza de que nada acontecerá.

2 – A não mudança de vida pode também provir de falsa posição psicológica. Alguém, erradamente, se convence de que aquilo que acontece é sina. Chega a exclamar: “eu sou assim mesmo”. Tal atitude não é madura. Isso de dizer que o erro faz parte de seu destino, não existe. O espírito precisa se libertar das amarras desse falso determinismo.

3 – Pode também a perseverança nos maus caminhos vir de uma “carga genética” negativa, de um estado de saúde. Nesses casos a pessoa precisa ser ajudada, com os recursos da ciência, para escapar dessa camisa de força.

4 – Mas inúmeras vezes a perseverança no erro vem da falta de vontade sincera. O indivíduo não quer mesmo. É o mistério da iniqüidade das Escrituras. O faltoso gosta de brincar com o perigo, despreza as pessoas virtuosas, acha a prática de bem uma atitude cafona. Quer fazer o papel de “espírito aberto”, vencer na vida pelo arrojo. Por isso continua a ser um orgulhoso intratável, um devasso conhecido na região, um ladrão refinado…Faz meio mundo sofrer, por causa de seus “ínvios caminhos”. “Para o perverso não há conversão” (Sl 119, 155). Persiste mesmo que um amigo corajoso e bem intencionado lhe tenha mostrado caminhos melhores. Enfim, é uma pessoa que “entortou o eixo”, e jamais alcançará nobres objetivos. Um pouco de temor de Deus não lhe faria mal.

Dom Aloísio Roque Oppermann, scj
Arcebispo de Uberaba, MG


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