Formação

Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades: Dom para acolher e v

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Moysés Louro de Azevedo Filho

Fundador e Moderador Geral da Comunidade Católica Shalom

 

Movimentos eclesiais e Novas Comunidades: respostaprovidencial do Espírito para a Igreja hoje.

Vivemos as dores de parto de uma nova época (Docum. departicipação, 94 ). No século XX vimos o ruir das ideologias que tanto impactoe atração exerceram e, de outras formas, ainda exercem na América Latina. Noinício deste novo milênio enfrentamos o pensamento relativista que quer seimpor como único. Estas propostas não são capazes de responder à necessidade deplenitude da pessoa, como também são incapazes de solucionar os graves ecrescentes problemas do nosso continente e do mundo.

Foi neste quadro histórico que surgiram os MovimentosEclesiais e as Novas Comunidades “como resposta providencial do Espírito” (JoãoPaulo II).

Somos novos carismas para novos tempos. Penso que não noscabe fixarmo-nos nas dificuldades do passado; isto não seria suficiente. Osmovimentos e as novas comunidades não são contraposições a projetos ou esquemasideológicos ou eclesiásticos.

Os Movimentos e as novas comunidades são verdadeiros dons doEspírito. Sua força está no carisma que receberam de Deus para, na Igreja e coma Igreja, propor de forma positiva aos homens do nosso tempo uma experiênciareal com a pessoa viva de Jesus Cristo. Esta experiência nos dá a alegria deser cristãos, a necessidade de pertencer à Igreja e de vivenciar osSacramentos. Ela gera comunidades cristãs autênticas, com laços de amor efraternidade, nos faz descobrir a força da Palavra de Deus e da oração, o amore o serviço aos Pobres (materiais e morais) e nos impulsiona a Evangelizar.

 

Tarefas das Novas Comunidades e Movimentos Eclesiais como sujeitosda Nova Evangelização

Pela diversidade e quantidade de movimentos e novascomunidades nascentes e presentes na América Latina, fica difícil esgotar otema das tarefas desta “primavera da Igreja”. Pensei em dar algumascolaborações e pistas:

 

a. Ser fiel ao carisma original colocando-o a serviço detoda a Igreja.

Um carisma é um dom de Deus, que dever ser acolhido, vividoe exposto para ser discernido pelas autoridades competentes da Igreja,colocando-o assim a serviço dela. Como nos disse João Paulo II:

“Cada movimento se submeta ao discernimento da Autoridadecompetente. Por esta razão, nenhum carisma dispensa da referência e submissãoaos Pastores da Igreja” (Vigília de Pentecostes 98).

Ser o que somos, em fidelidade ao carisma original, não é sóum serviço ao movimento ou comunidade, mas também à própria Igreja, já que estedom “só é dado para o bem comum, isto é, em benefício de toda a Igreja!” (JoãoPaulo II). Colocados a serviço da Igreja, estes carismas geram autênticosdiscípulos e missionários de Cristo. Uma geração cuja meta é a santidade.

 

b.         Cultivar etransmitir a experiência com a pessoa viva de Jesus Cristo

Uma das características de um movimento ou nova comunidade étransmitir e cultivar, com características e métodos próprios de seu carisma,uma experiência atraente e amorosa com a pessoa viva e vivificante de JesusCristo. Esta experiência é contagiante e aglutina pessoas que desejam, a partirdelas, viverem sua pertença à Igreja.

A evangelização do nosso continente entra em uma fasedecisiva. Além do avanço galopante do secularismo, da indiferença religiosa,enfrentamos o grave fenômeno do crescimento das seitas. No coração de muitosainda ecoam as Palavras do Cardeal Hummes no último Sínodo da Eucaristia: Atéquando a América Latina será um continente católico? A resposta que ele mesmosugeria e que o documento de participação também nos aponta é uma “grandemissão continental” (cfr. par. 173). Não se trata de uma cruzada, mas decumprir com alegria o dever de anunciar Cristo aos nossos povos.

A primazia do anúncio kerigmático, da experiência pessoalcom Jesus Cristo é comum nos movimentos e comunidades. Somente em seguida lhespropomos um caminho de seguimento evangélico com todas as conseqüências damoral cristã. É um principio chave a primazia do anúncio do kerigma.

A presença destes nos variados segmentos da sociedade, desdeos mais populares até aqueles chamados “construtores da sociedade” (Ecclesia inAmerica, 44), são de uma importância inestimável para responder ao apelo de gerarmosuma rede de discípulos e missionários de Cristo em todo o tecido da sociedadeda América Latina.

Em meio às inúmeras tarefas da Evangelização gostaria departicularmente salientar um aspecto:

Parresia: palavra grega usada no Novo Testamento que significaousadia, audácia, intrepidez, destemor no anúncio de Cristo, se necessárioenfrentando até o martírio. A parresia, dom do Espírito, gera um amor inflamadoe compassivo para anunciar a uma multidão de jovens, famílias, homens emulheres que sofrem por desconhecer a felicidade que é Cristo. Com parresiavai-se ao encontro das pessoas onde elas vivem, convivem, trabalham, sofrem ouse divertem, e com criatividade de meios e linguagem, apresenta-se a felizverdade de Cristo e da Igreja.

Precisamos ter ousadia e audácia para abordar os “Tomés” donosso tempo que estão longe da Igreja e não acreditam que Jesus está vivo.Estes, ao verem, ouvirem e tocarem o discípulo, vêem, ouvem e tocam o próprioCristo Ressuscitado e recebem o choque da sua Ressurreição tornando-se pessoasde perfeita fé, capazes de exclamar: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28).

Não tenhamos medo de anunciar explicitamente a pessoa deJesus Cristo!

Temos descoberto que a melhor resposta ao desafio dasecularização se chama “Parresia”: Apresentar com audácia Cristo!

 

c.         A formaçãointegral e os itinerários de educação na fé

Outra característica destes Movimentos e Novas Comunidades éoferecer aos seus participantes um caminho ou itinerário de crescimento eamadurecimento em Cristo. Fazer que a nossa formação persiga sempre aqueleobjetivo da formação integral do discípulo (no plano espiritual, humano,doutrinal, social e apostólico) é uma tarefa inesgotável.

Como vimos estes dias estes processos formativos eeducativos têm faces diversas. Entretanto, o que chama atenção é que o fiocomum que os une, é o empenho sincero de fidelidade incondicional ao Magistérioda Igreja. Isto é uma resposta providencial a um tempo marcado pelas ondas dorelativismo que também agitaram “a pequena barca do pensamento de muitoscristãos”. (Cardeal Ratzinger, homilia de abertura do Conclave).

O fato de que tais processos formativos ou educativos tragamelementos e pedagogias diferenciadas, permite que atinjam pessoas comsensibilidades distintas, despertando e atingindo uma multidão de fiéis, comonos lembrava João Paulo II:

“Como é grande, hoje, a necessidade de personalidadescristãs amadurecidas, conscientes da própria identidade batismal, da própriavocação e missão na Igreja e no mundo” (Vigília de Pentecostes 98).

É admirável a contribuição que os movimentos e as novascomunidades, têm dado para ajudar a construir na Igreja aquelas “autênticas «escolas » de oração (NMI 33)”. Sem corações apaixonados por Cristo, seráimpossível fazer surgir uma nova geração de discípulos e missionários deCristo.

 

 

PARTE 2

 

 

d.         Ser celeirosde vocações cristãs maduras

Um grande fruto destes movimentos e novas comunidades é quesão celeiros de vocações cristãs maduras.

Neles vemos surgir matrimônios com forte e concretotestemunho de amor e abertura à vida, serviço à sociedade e grandedisponibilidade na missão da Igreja.

Da mesma forma, onde existe uma experiência autêntica comCristo surgem saudáveis e sólidas vocações sacerdotais e para vida consagrada.São abundantes estas vocações nestes ambientes. Cabe aqui, como tarefa,multiplicar o empenho no despertar e apoiar estas vocações, em favor dasgrandes necessidades da missão.

Em alguns movimentos, mas mais especialmente nas novascomunidades, encontramos os diversos estados de vida unidos em uma mesma vidacomunitária. Isto traz um grande enriquecimento do ponto de vista humano,espiritual e missionário, pois torna mais visível a beleza da complementaridadedos estados de vida no mistério da Igreja, além de se constituir em umextraordinário impulso para a missão evangelizadora.

 

e.         “A Revoluçãodo Amor” e a “Fantasia da Caridade”

Vivemos em um continente marcado por desigualdadeseconômicas escandalosas, violência e insegurança. Tudo isto conjugado a umabaixa qualidade dos valores éticos e morais na vida pública.

Uma das características destes novos carismas é irradiar asua ação na sociedade, colaborando assim para a construção de um mundo marcadopor Cristo.

Foi impressionante ver nestes dias como os carismasirradiam-se na caridade de Cristo de maneira concreta e criativa na vida daspessoas e da nossa sociedade. Entretanto torna-se urgente multiplicar estatarefa! Gerar na força dos carismas, personalidades cristãs maduras,competentes e coerentes, que assumam o histórico e necessário compromisso delevar a verdade de Cristo para as realidades mais desafiantes do nossocontinente, seja no campo da vida, da família, da juventude, da educação, dosmeios de comunicação, da cultura, da economia, da política, da justiça e daPaz. Isto não com a força das ideologias, seja do passado ou do presente, e simcom a potência da graça que brota do Evangelho para produzir aquilo que o PapaBento XVI chama de “a revolução do amor”.

Conjugado a isto e diante das feridas sociais e morais donosso continente, urge também multiplicar o que já existe e criar novas açõesno tecido das obras caritativas da Igreja. Os carismas se encarnam nasrealidades onde estão inseridos. Por isto na América Latina necessitamos sercada vez mais criativos para contribuirmos ainda mais com a “fantasia dacaridade” no nosso continente. Falando dos agentes desta fantasia, Bento XVInos lembrou:

“Devem ser pessoas movidas antes de mais nada pelo amor deCristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com seu amor, nele despertando oamor ao próximo” (Deus Caritas est, 35)

 

f.          OsMovimentos e as Novas Comunidades e os Pastores

 

Acolhimento e Paternidade

Em relação ao pastoreio dos Bispos os movimentos e novascomunidades esperam um acolhimento de paternidade e benevolência, a valorizaçãoda identidade do carisma na sua Igreja Particular, a largueza de espíritodiante das tensões normais que o novo e a profecia que cada carisma é portador podemproduzir.

Pedimos que nos ajudem a viver o nosso carisma em cada Igreja local equando necessário nos corrijam para que, com obediência, em tudo possamosfavorecer a comunhão.

Para que isto seja real e frutuoso é muito importante que osPastores possam conhecer melhor os novos carismas que se encontram nas suasdioceses, evitando o risco tão comum de juízos que não são fruto do contatodireto e pessoal com estas novas realidades. Isto se faz ajudando também aformar, sobretudo nos párocos, uma comum atitude de acolhida na comunhão.

Como Movimentos e Novas Comunidades esperamos usufruirdaquele espaço de liberdade que todo carisma precisa para crescer e frutificar,sendo valorizados pelo que são e pelo que eles podem efetivamente contribuirpara a edificação da Igreja Local, evitando enquadramentos pastorais rígidos,que, antes de ajudar, podem sufocar sadias novidades para a Igreja local,conforme nos lembra o Vaticano II falando do papel dos leigos:

“Abram-lhes, pois, todos os caminhos para que, segundo assuas forças e as necessidades dos tempos, participem também eles,ardorosamente, na tarefa salvadora da Igreja” (LG 33).

O caminho de comunhão com as estruturas ordinárias de umadiocese tais como paróquias e pastorais exige dos movimentos ou comunidades umempenho de humildade e colaboração, contribuindo assim para a renovação destesmeios. Do lado inverso é necessário abertura e valorização dos carismas naquiloque eles podem contribuir e renovar. “Expressando, na prática, seu caráter deComunidade de comunidades e de movimentos” (Docum. de participação, 36)

Além disso, creio ser preciso compreender que estescarismas, suscitados para novos tempos, trazem meios e métodos que por vezesvão além das estruturas ordinárias, atingindo pessoas e ambientes que jamaisseriam alcançados. Para “vinho novo”, são necessários “odres novos”.

 

Espaços de comunhão

Além dos tradicionais e saudáveis instrumentos de comunhãoque existem nas Igrejas Locais, temos testemunhado por iniciativa de algunsbispos, experiências inovadoras, como a criação de espaços de comunhão quereúnem estas novas realidades e que são respostas ao apelo do “testemunhocomum” do Pentecostes de 98.

Eles nos ajudam a cultivar uma “espiritualidade de comunhão”(NMI 43) descobrindo a riqueza e a complementaridade dos outros carismas,evitando assim a tentação da auto-referência ou do fechamento, favorecendo umcolocar a serviço da Igreja Local sua riqueza carismática, formativa emissionária.

 

Confiando-nos a Nossa Senhora Aparecida

Para finalizar, invoco Nossa Senhora Aparecida. As redesdaqueles pobres pescadores do vale do Paraíba, apesar de árduos trabalhos, nãoproduziam a pesca necessária. Depois que seus braços cansados retiraram comsuas redes, do leito estéril do rio, a imagem da Virgem Aparecida, estas mesmasredes reproduziram o milagre da pesca milagrosa.

Por isto, também nós, discípulos e missionários de Cristohoje, a ti invocamos, oh Virgem Aparecida. Que vás à nossa frente, a fim que asnossas redes lançadas produzam uma magnífica e milagrosa Nova Evangelização emnosso sofrido e amado Continente.


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