Nasci, cresci, e num susto descobri que era gente! Descobri o que era o mundo, o que era injustiça, e que, por melhor que fosse, meu pai também mentia. Descobri que o mundo guardado nas minhas brincadeira de infância precisava ser mudado. E durante muito tempo sustentei que EU iria mudar o mundo!
Adolescência e pela precocidade dos nossos tempos, descobri muito cedo que não conseguiria realizar tal proeza. Não sei ao certo quando se deu esta descoberta, mas bem lembro que passei a me preocupar mais com o que poderia fazer de melhor pela minha vida, pelo meu futuro, pelos meus interesses. Afinal, se o mundo não podia ser mudado, eu deveria tratar de tentar salvar o que fosse possível do ambiente neo-liberal que me continha.
Foi bem nessa época que tive uma experiência com Deus. Com meus insólitos 17 anos, como que um turbilhão de desejo de mudança, estocado da época da desilusão adolescente, começou a aflorar. Neste tempo, lembro-me bem, que uma esperança ganhou espaço, ainda é claro, muito imatura e incerta. Na flor dos meus 17 anos, recomecei o meu plano fantástico de mudar o mundo, afinal, pois nesta mão, se Deus tinha se encarnado, morrido, ressuscitado, tinha falado comigo e mudado a minha vida e inclusive me amava, com certeza, mudar o mundo não era uma tarefa tão difícil de ser realizada. Se tornou inclusive possível! Imagine!
Neste meio tempo, uma pergunta no mínimo capciosa apareceu. Ela estava escondida a um bom tempo, inerte, sob a penumbra da minha ignorância. Para o quê eu queria mudar o mundo? E mais: Por que eu queria mudá-lo?
Verdade que muito me intriguei com essas perguntas, quando levei-as a sério e percebi que na minha adolescência sonhadora nunca havia posto-me a pensar sobre o que eu desejava concretamente neste mundo mudado. Se era verdade que eu queria mudar o mundo, na mesma mão era verdade que nem sabia ao certo como eu queria este mundo novo! Querer paz simplesmente era uma resposta muito vaga, ante a complexa teia que forma o nosso cotidiano, quere-la de forma vaga, a imaginar que de repente, todos acordariam sendo educados, corteses , prestativos, caridosos e o mundo seria um sonho onde todos se amariam sempre, era no mínimo uma proposta ridícula.
Percebi, que a minha proposta de mudança de mundo necessitava na realidade de ser adequada. Ela não deveria morrer, entregue aos meus pessimismos e o meu ceticismos. Não! A grande mudança era que agora ela deveria ter pés bem firmes, objetivos bem claros. Para mudar o mundo com toda a intensidade que eu desejava, com toda a profundidade e beleza que almejava, era necessário evangelizar. Mas evangelizar mesmo! Evangelizar no martírio do testemunho, na prontidão das oportunidades inoportunas, na consumação do SIM, diário. Nunca imaginei, em nenhum sonho infantil, que mudar o mundo fosse tão árduo quanto o é! Porém, de igual maneira, também nunca imaginei que fosse possível! Nesta matemática, a aridez é compensada, e em muito!
Quanto o porquê mudar o mundo, o vejo sendo purificado constantemente. Passo a passo, sob a luz do Cristo, deponho minha vaidade , orgulho, voluntarismo. Quão árdua derrubada! Mas se desejamos abrir caminho na confusa e densa floresta, precisamos ir adiante e deixar cair (ou mesmo podar) os galhos. O mundo de hoje, necessita ser mudado! Transfigurado ao Cristo! O mundo carente de Deus confirma esta necessidade.
Não nos enganemos a desprezar ou superestimar o contexto sócio-econômico. Sua colaboração é estéril sem a novidade evangélica, que apresenta o homem ao seu criador, ao Amor que justifica tudo.
O homem que conhece a Deus ama, e só amando torna-se capaz de lançar um olhar ao seu redor, e ir de encontro ao outro. O Amor recebido torna-se força cinética a impulsionar o homem, e num efeito dominó amplia a esfera de amor, e conseqüente Paz.
Ante as desgraças que nos rondam, ante a miséria que nos corrói, ante a mentira que nos laça, a resposta sempre será o Amor, que na cruz apresenta seu cume de expressão amorosa, sua maior medida, e na eucaristia, por vezes tão minorada, torna-se alcançável.
Marcela Mendonça
Postulante da Comunidade de Aliança de Salvador
