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Formação | Na fonte da palavra de Deus

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Aprendendo com o papa emérito Bento XVI

A imagem da árvore, firmemente plantada no solo através dasraízes, que a tornam estável e a alimentam. Sem raízes, seria arrastada pelovento e morreria. Quais são as nossas raízes? Naturalmente, os pais, a famíliae a cultura do nosso país, que são uma componente muito importante da nossaidentidade.

A Bíblia revela outra. O profeta Jeremias escreve:”Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é oSenhor. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para acorrente; não teme quando vem o calor, a sua folhagem fica sempre verdejante.Não a inquieta a seca de um ano; continua a produzir frutos” (Jr 17, 7-8).Estender as raízes, para o profeta, significa ter confiança em Deus. Deleobtemos a nossa vida; sem Ele não poderíamos viver verdadeiramente. “Deusdeu-nos a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho” (1 Jo 5, 11). O próprioJesus apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6).

Por isso a fé cristã não é só crer em verdades, mas é antesde tudo uma relação pessoal com Jesus Cristo, é o encontro com o Filho de Deus,que dá a toda a existência um novo dinamismo. Quando entramos em relaçãopessoal com Ele, Cristo revela-nos a nossa identidade e, na sua amizade, a vidacresce e realiza-se em plenitude.

Há um momento, quando somos jovens, em que cada um de nós sepergunta: que sentido tem a minha vida, que finalidade, que orientação lhe devodar? É uma fase fundamental, que pode perturbar o ânimo, às vezes também pormuito tempo. Pensa-se no tipo de trabalho a empreender, quais relações sociaisestabelecer, que afetos desenvolver.

Enraizados em Cristo

Nosso tempo traz consigo a superação das barreiras derelacionamento entre as pessoas e, ao mesmo tempo, o fortalecimento dascaracterísticas nacionais ou regionais. Somos uma “aldeia global” eao mesmo tempo florescem e crescem novas “tribos”. Há um mecanismo dedefesa nas pessoas! Podemos radicalizar os conflitos ou considerá-los pólos detensão capazes de gerar uma nova energia, capaz de suscitar um mundo diferente,de acordo com o plano de Deus.

Quando uma pessoa ou uma cultura se dispõem a fazer-se umcom o outro, os dois lados ganham! É que a Deus interessa o acordo, a caridade,não tanto que vença um lado ou outro. Quais são as suas raízes culturais? Quetipo de vida você vive? Procure valorizar aquilo que recebeu de sua família.Meu trabalho como Bispo e como Sacerdote me colocou em contato com populaçõesindígenas tradicionais, com as quais aprendi muitas coisas. Uma delas é avalorização do “velho”, o ancião que acumulou sabedoria (saberviver!) e pode comunicar às novas gerações.

Lembra-se das histórias de família contadas em sua casa? Jápercebeu que existe um filtro natural, deixando de lado as coisas negativas, osfracassos? Olhar para o passado pessoal e familiar com duas atitudes. Se houveerros, aprender a pedir perdão. Os acertos, muita ação de graças a Deus e àspessoas. Viver bem o presente, pois cada momento tem seu cuidado. Quanto aofuturo, esperar que se torne presente. Nós o preparamos vivendo bem.

Raízes de fé! Muitos jovens continuam adolescentes em suasescolhas, pois continuam brigando com o que significa autoridade, paternidadeou maternidade. Lá na sua infância, quando você punha as mãos postas, ali seencontrava a raiz a ser recolhida e valorizada hoje. Raízes de fraternidade! Umprovérbio africano diz que “o irmão é o meu olho nas costas”, porquevê o que eu não vejo e pode ser uma luz para o meu caminho e minhas decisões.

Encontrar em Jesus Cristo as próprias raízes pessoaissignifica fazer uma opção livre e decidida por Jesus Cristo, descobrindo-o comomedida de nosso agir. O Beato Charles de Foucauld fazia a pergunta: “O queJesus faria se estivesse no meu lugar?”

João Paulo II, em sua primeira visita à América Latina, noMéxico, ensinou: “Dentre tantos títulos atribuídos à Virgem Maria, nocorrer dos séculos, pelo amor filial dos cristãos, há um que tem um significadomuito profundo: Virgem fiel. Que significa esta fidelidade de Maria? Quais sãoas dimensões desta fidelidade?

A primeira dimensão é a BUSCA. Maria foi fiel antes de tudoquando, com amor, se pôs a buscar o sentido profundo do desígnio de Deus a seurespeito e para o mundo. “Como se fará isso, se eu não conheço homemalgum?, perguntava ela ao Anjo da Anunciação. Já no Antigo Testamento o sentidodesta busca se expressa numa expressão de rara beleza e conteúdo espiritual:buscar o rosto do Senhor. Não haverá fidelidade sem que exista, na raiz, estaardente, paciente e generosa busca, se não houver no coração humano umapergunta, para a qual só Deus tem resposta, ou melhor dizendo, para a qual sóDeus é a resposta.

A segunda dimensão da fidelidade é a acolhida, a ACEITAÇÃO.A pergunta de Maria se transforma em seus lábios num “faça-se em mimsegundo a tua palavra”. Estou pronta, aceito! Este é o momento crucial dafidelidade, no qual percebemos que nunca compreenderemos de modo completo osmotivos. Há nos desígnios de Deus mais áreas de mistério do que evidências. Pormais que façamos, jamais conseguiremos captar tudo. É então que aceitamos omistério, dando-lhe espaço no coração como Maria que “conservava todasestas coisas, meditando-as em seu coração. É o momento em que nos abandonamosao mistério, não com a resignação de alguém que se rende diante de um enigma oude algo absurdo, mas com a disponibilidade de quem se abre para ser habitadopor alguém que é maior do que seu próprio coração. Esta aceita se realiza pelafé que é acolhimento de todo o ser ao mistério que se revela.

COERÊNCIA é a terceira dimensão da fidelidade. Viver deacordo com aquilo que se crê. Ajustar a própria vida ao objeto da adesão feita.Aceitar as incompreensões e perseguições sem nunca permitir rupturas com apalavra dada. É o mais profundo da fidelidade.

Mas a fidelidade deverá passar por sua prova mais fácil queexige ser coerente por um ou alguns dias. Difícil e importante é ser coerente,a duração. Por isso a quarta dimensão da fidelidade é a CONSTÂNCIA. É fácil sercoerente por um dia ou alguns dias. Difícil e importante é ser coerente a vidainteira. É fácil ser coerente na hora da exaltação, mas é difícil na hora datribulação. Só se pode chamar de fidelidade uma coerência que dura uma vidainteira. O “Fiat” de Maria na Anunciação chegou à plenitude no”Fiat” aos pés da Cruz. Ser fiel é não trair nas trevas o que seaceitou em público!”

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém


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