Ao passar em frente a um restaurante há algumas semanas, na região hospitalar de Belo Horizonte, fui abordada por uma senhora que me pediu comida. Ela me disse que não queria dinheiro, mas que estava com fome. Entramos num restaurante, ela pegou um prato e foi enchendo até ficar completamente abarrotado, percebi que ela estava há um bom tempo sem comer.
Ela me disse que era da cidade de Ponte Nova e que estava aqui para fazer uma consulta de retorno de uma cirurgia e, para mostrar a sua sinceridade, abaixou um pouquinho a calça para que eu visse a sua fralda. Geralmente as pessoas vêm de suas cidades ainda de madrugada para fazer procedimentos médicos mais complexos na capital e são deixadas por vans e ônibus de suas prefeituras nos hospitais. Após estes procedimentos, ficam no entorno destes hospitais até ao final da tarde, quando retornam para suas casas. São pessoas pobres que, muitas vezes, não têm dinheiro nem para comprar comida. Eu partilhava o pouco que tinha, um prato de comida, e ela partilhava o tudo que tinha, a sua vida com a sua pobreza, seus sofrimentos e sua dor.
Nesse momento, fiz memória do Salmo 119, que diz: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho.”
Jesus me falou claramente, por meio da sua Palavra, na multiplicação dos pães e dos peixes, quando Ele diz aos seus discípulos: “Dai vós mesmos de comer”. Aquela multidão que foi ouvir a sua Palavra estava com fome a ponto de desfalecer, estavam há muito tempo sem comer, era preciso dar o alimento necessário para que elas pudessem voltar para suas aldeias.
O Papa Francisco ainda nos fala na Campanha da Caritas, contra a fome mundial: “A fome é um escândalo mundial, um milhão de pessoas sofrem a fome. Devemos dar de comer com a graça de Deus. Os alimentos que existem no mundo bastariam para dar de comer a todos. É uma urgência dar acesso a uma alimentação adequada. Exorto-vos a pensar nas suas ações cotidianas.”
Márcia Andrea Barreto – membro da Comunidade de Aliança Shalom