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Nade contra a correnteza, seja vida enquanto o mundo grita pela morte

Mery Ellen, missionária da Comunidade de Aliança Shalom testemunha a grande Obra de conversão que Deus fez em sua vida por meio da maternidade.

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Fui mãe pela primeira vez aos 20 anos e já nesta gravidez pude provar do grande amor e cuidado de Deus. Minha primeira filha, Maria Clara, entrou em sofrimento fetal, que se estendeu por horas, ocasionando uma cesária de urgência.  Somente depois de três convulsões, parada cardiorrespiratória, pneumonia, dez dias em coma induzido, nove meses de fisioterapia motora e acompanhamento neurológico fazendo uso de medicamento, minha filha finalmente pôde levar uma vida normal.

Nesse período morávamos em Natal e depois desse parto comecei a fazer uso de contraceptivo. Quando Clara completou nove meses, nos mudamos para Recife e tive o meu primeiro contato com o Método de Ovulação Billings (MOB) e, por iniciativa do meu marido, João Felipe, fizemos o curso.

O vocacional Shalom e a segunda gestação

Neste mesmo ano ingressei no vocacional da Comunidade Católica Shalom e no retiro de aprofundamento Deus clamava em meu coração: “Nade contra a correnteza, seja vida enquanto o mundo grita pela morte”.

O retiro foi em agosto de 2015 e em setembro descobri que estava grávida. Vivíamos um tempo complicado, pois eu e meu marido estávamos desempregados. Aqui, mais uma vez Deus estendeu Sua Mão e fomos constrangidos por tamanha providência para Ana Isabel, ganhamos tudo, “da meia ao berço”.

João Felipe só conseguiu trabalho quando eu estava no sexto mês de gestação, mas nada nos faltou. O segundo parto foi complicado, pois fui vítima de violência obstétrica, sofri uma laceração grave que resultou em fortes dores durante muito tempo.

Diante disso acabei me fechando à vida. Continuava com o MOB, porém fazendo dele um contraceptivo. Não queria de forma alguma engravidar novamente e reviver tudo aquilo, mas aí veio Deus, que a todo custo quer fazer a sua vontade e não a minha, afinal, Ele quer me fazer santa.

A terceira gestação e as tentações da minha humanidade

Em 31 de dezembro de 2016 os Santos Inocentes me escolheram como padrinhos para o ano seguinte. Lembro que uma das intenções de oração era pelas crianças não-nascidas e bebês abortados. Nesse ano ingressei no postulantado da Comunidade e em nosso retiro de ingresso fui com a certeza de que estava grávida, mesmo sem ter feito ainda teste algum. Lá, partilhei com algumas irmãs de célula dizendo: “Prefiro estar doente do que está grávida. Não quero esta criança.” Infelizmente esse sentimento me seguiu até o quarto mês de gestação.

Por onde eu ia me chamavam de louca, irresponsável, e diziam que não tinha amor à própria vida. Ouvi isso de estranhos, de amigos e familiares, o que piorava o sentimento de repulsa pela gravidez.  Esse sentimento durou até o dia em que rezando com o santo patrono da minha célula, São João Batista, Deus foi me mostrando o que Ele queria para mim, qual o testemunho que Deus esperava de mim. Deus me fez recordar do que Ele falou naquele retiro de aprofundamento, dos Santos Inocentes, das mulheres que abortam seus filhos. Ali eu vi que não sou em nada diferente delas. Não abortei por Graça de Deus, que converteu meu coração.

Ali, naquela oração, engravidei no coração. Pedi a Deus a Graça de saber sofrer, mas que se possível, me concedesse um parto tranquilo, e assim Deus fez. Esther nasceu um dia depois de ter me confessado e recebido a Unção dos enfermos.

Nasceu depois de apenas duas horas de trabalho de parto, na sala de casa. O SAMU demorou a chegar, porque era véspera do dia de Nossa Senhora da Conceição e, por isso, as ruas estavam cheias. Auxiliada por minha sogra e minha mãe, com Clara e Isabel no quarto rezando por mim e pela irmãzinha que estava nascendo. Deus cuidou de tudo, Ele me reconciliou com o ser mãe. Me reconciliou com a dor do parto, me mostrou que todo sofrimento, unido à sua Cruz, tem valor salvífico.

A quarta gestação e a experiência da maternidade para o céu 

Em setembro de 2019, no retiro da minha célula, conheci mais profundamente a vida de Santa Gianna Bereta Molla. Sua oferta de vida me tocou muito.

Lembro de diante do Santíssimo, fazer a seguinte oração: A Ti Senhor todo o meu ser mulher, meu coração, minha alma, minha maternidade, aquilo que para o mundo é loucura e irresponsabilidade… Eis-me aqui! Faz o que quiseres!

A notícia de uma quarta gravidez caiu como uma bomba. Ouvimos ainda mais piadas, fomos chamados de loucos e irresponsáveis mais uma vez. Diante da nossa alegria recebemos a indiferença, mas seguimos confiantes nas promessas de Deus. A partir desta criança que crescia em meu ventre, Deus restaurou nossa família e nos fez ter coragem de tomar decisões importantes há muito deixadas de lado.

Aos seis meses descobrimos ser mais uma menina, a qual demos o nome de Gianna. Mais tarde descobrimos o diagnóstico de placenta prévia, o que me fez permanecer em repouso até o fim da gestação. Apesar de fortes dores e de ser privada de muitas coisas, fui plenamente feliz. A gravidez que corria o risco de ser interrompida prematuramente, chegou às 40 semanas e cinco dias.

No dia dois de junho fui acordada por uma contração de aviso: “é hoje”! No início da noite fui para a maternidade com fortes contrações, com intervalos de menos de três minutos, cheguei já com sete centímetros de dilatação, logo teria minha filha em meus braços, mas os mistérios de Deus são insondáveis.

De uma hora pra outra, Gianna entrou em sofrimento fetal. Em cinco minutos fizeram uma cesária, a retiraram de mim, mas não houve o tão emocionante choro ao nascer, eu sabia que as coisas não estavam bem. Já havia passado isso com Clara. Eu só conseguia repetir: chora Gianna, chora, por favor, chora Gianna. O tempo foi passando e enquanto os médicos faziam todas as manobras de reanimação possíveis, eu rezava. Pedia por sua vida, ao finalizar minha oração com: Senhor, seja feita a tua vontade, eu ouvi: “hora do óbito: 20:35 “.  Senti um profundo abandono, me vi sozinha. Procurei por Deus e não O encontrei. Ele estava lá, mas a dor da morte que assolava minha alma não me permitia enxergar.

O luto e o consolo de Deus

Passados dois meses, chorei, sofri, gritei, briguei com Deus, me senti enganada e Ele, como um Pai misericordioso que é, só me abraça.  Acolhi a minha situação e comecei o louvor escondido nas minhas lágrimas. A minha oração passou a existir no meu silêncio e aos poucos Deus me fazia compreender a grande Obra de Salvação que Ele realizava em minha família por meio dessa oferta tão sofrida.

Gianna foi uma criança não-nascida, pois ao sair de mim já não tinha batimentos cardíacos. Deus a preservou do pecado original que recebemos logo ao nascer. Parafraseando Santa Zélia Martin: Gianna “era mais digna do céu, do que da terra “. Gianna inaugurou o céu da minha família. Eu sei que temos uma parte de nós diante de Deus e creio que sua intercessão nos ultrapassa.


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