Alocução que o papa Bento XVI pronunciou neste domingo ao meio-dia, ao rezar a oração mariana do Ângelus junto a vários milhares de peregrinos congregados na praça de São Pedro no Vaticano.
Queridos irmãos e irmãs:
O Evangelho deste domingo apresenta dois convites de Jesus: por uma parte, «não tenhais medo dos homens», e, por outra, «temei» a Deus (Cf. Mateus 10, 26.28). Estimula-nos a refletir sobre a diferença que existe entre os medos humanos e o temor a Deus. O medo é uma dimensão natural da vida. Desde que se é pequeno, experimentam-se formas de medo que logo se revelam imaginárias e desaparecem; depois surgem sucessivamente outras, que têm um fundamento na realidade: têm de ser enfrentadas e superadas com o empenho humano e com a confiança em Deus. Mas sobretudo hoje se dá uma forma de medo mais profunda, existencial, que acaba em certas ocasiões em angústia: nasce de um sentido de vazio, ligado a uma certa cultura penetrada pela influência do niilismo teórico e prático.
Perante o amplo e variado panorama dos medos humanos, a Palavra de Deus é clara: quem «teme» a Deus «não tem medo». O temor de Deus que as Escrituras definem como «o princípio da verdadeira sabedoria» coincide com a fé nEle, com o respeito sacro por sua autoridade sobre a vida e sobre o mundo. Não «ter temor de Deus» equivale a pôr-se em seu lugar, sentir-se donos do bem e do mal, da vida e da morte. Pelo contrário, quem teme a Deus experimenta em si a segurança da criança nos braços de sua mãe (Cf. Salmos 130,2): quem teme a Deus está tranqüilo inclusive no meio das tempestades, pois Deus, como Jesus nos revelou, é um Pai cheio de misericórdia e de bondade. Quem o ama não tem medo: «Não há temor no amor; mas o amor perfeito expulsa o temor, porque o temor visa o castigo; quem teme não chegou à plenitude no amor» (1 Jo 4, 18). O crente, portanto, não se assusta com nada, pois sabe que está nas mãos de Deus, sabe que o mal e o irracional não têm a última palavra, mas que o único Senhor do mundo e da vida é Cristo, o Verbo de Deus encarnado, que nos amou até sacrificar-se a si mesmo, morrendo na cruz por nossa salvação.
Quanto mais crescemos nesta intimidade com Deus, impregnada de amor, mais facilmente superamos toda forma de medo. Na passagem evangélica deste dia Jesus repete várias vezes a exortação a não ter medo. Nos tranqüiliza, como fez com os discípulos, como fez com São Paulo, quando lhe apareceu em uma visão uma noite, durante um momento particularmente difícil de sua pregação: «Não tenhais medo – lhe disse – porque eu estou contigo» (Atos 18, 9). Fortalecido pela presença de Cristo e confortado por seu amor, o apóstolo dos povos, de quem nos dispomos a celebrar os dois mil anos de nascimento com um ano jubilar especial, não teve medo nem sequer do martírio. Que este grande acontecimento espiritual e pastoral suscite também em nós uma nova confiança em Jesus Cristo, que nos chama a anunciar e testemunhar seu Evangelho, sem ter medo de nada.
Convido-vos, portanto, queridos irmãos e irmãs, a preparar-vos para celebrar com fé o Ano Paulino que, se Deus quiser, inaugurarei solenemente no próximo sábado, às 18h, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, com a liturgia das primeiras vésperas da solenidade dos santos Pedro e Paulo.
Encomendamos desde agora esta grande iniciativa eclesial à intercessão de São Paulo e de Maria Santíssima, rainha dos apóstolos e mãe de Cristo, manancial de nossa alegria e de nossa paz.
Fonte: Agência Zenit