Formação

«Não» da Igreja ao aborto é «sim» valente e decisivo à vida

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Entrevista com Dom Rodrigo Aguilar Martinez, bispo de Tehuacan e presidente da Comissão Episcopal da Família, Juventude e Leigos da Conferência do Episcopado Mexicano.

O debate sobre a descriminalização do aborto na capital da República Mexicana se estendeu a todos os cantos do país.

–Quais seriam as conseqüências da descriminalização do aborto na capital, para o resto do país?

–Dom Aguilar Martinez: Na realidade do México, o que acontece no Distrito Federal serve como exemplo a seguir no resto do país. No anterior governo federal, os critérios eram marcados pela Secretaria de Saúde; agora parece que as coisas mudaram: a Secretaria de Saúde está mantendo uma postura mais firme na defesa da vida humana, mas deixou que sejam o Distrito Federal e os estados que discutam e legislem isso para seus próprios territórios.

–Há alguma «transmissão de idéias» aos demais congressos dos estados?

–Dom Aguilar Martinez: O tema do aborto que está sendo discutido no DF nos interessa para o resto do país não só pela repercussão que se pode ter no âmbito nacional, mas pela própria gravidade do aborto, onde quer que se pretenda legislar sobre ele. O aborto provocado é a morte deliberada e direta de um ser humano em qualquer etapa que estiver, desde a concepção até o nascimento. Quem pretende descriminar o aborto para defender os direitos da mulher, com isso está matando outro ser humano e seus direitos; e se trata do ser mais indefeso, sujeito inteiramente ao que os já vivos decidam a respeito dele. Por isso o aborto é um verdadeiro crime.

–A postura da Igreja Católica é puramente de fé ou, igualmente, possui bases científicas sólidas?

–Dom Aguilar Martinez: A postura da Igreja Católica não é somente de fé, mas está sustentada em claras e precisas bases científicas. Há quatro fatos demonstrados pela ciência: primeiro fato: quando a célula feminina — ou seja, o óvulo — é fecundado pela célula masculina — ou seja, o espermatozóide– acontece a concepção. O óvulo fecundado pelo espermatozóide se chama zigoto e é um novo embrião, ou seja, um organismo novo, o qual, ainda que se vá formando dentro do corpo da mulher, tem um patrimônio genético diferente do da mãe.

Segundo fato científico: este organismo pertence à espécie biológica humana, basta analisar o número e a natureza dos cromossomos.

Terceiro fato: o zigoto é um organismo programado, que não é simplesmente a soma dos códigos genéticos do pai e da mãe, mas é um ser com um projeto e um programa novos, que não existiu antes e não se repetirá jamais. Nesse programa genético estão as características do novo indivíduo, por exemplo, a estatura, a cor dos olhos, até o tipo de doenças genéticas às que estará sujeito.

Quarto fato: a ciência diz que o crescimento do embrião se dá de modo coordenado, contínuo e gradual; sem saltos qualitativos e com diferenciação progressiva que dá origem à formação dos tecidos e dos órgãos.

–Em que tempo ocorre dentro do ventre da mãe?

–Dom Aguilar Martinez: O desenvolvimento e a diferenciação do embrião são muito rápidos. Após cinco semanas de sua concepção, o embrião humano apenas mede um centímetro, mas diversos órgãos já começaram a tomar forma. Após dois meses, a forma do corpo já está completa. Depois disso, não precisará mais que refinar suas funções e crescer. Dos dois aos nove meses multiplicará vinte vezes sua estatura e mil vezes seu peso. O desenvolvimento continuará depois do nascimento, durante toda a vida. Se os legisladores pretendem descriminar o aborto antes das catorze semanas, que prestem atenção nos dados da ciência nesta etapa de formação do embrião. Simplesmente, que observem as fotografias ou vídeos de um aborto provocado.

–Há possibilidades de influir entre os legisladores?

–Dom Aguilar Martinez: Não vejo, pessoalmente, muita possibilidade de diálogo com os legisladores mais aguerridos na intenção de descriminalizar o aborto. Se for possível abrir a um plebiscito, espero que os cidadãos participem ampla e sensatamente, com verdadeiro critério humano.

–A postura da Igreja continua sendo considerada «como uma imposição»?

–Dom Aguilar Martinez: Ao reiterar a postura da Igreja Católica, não pretendo impor esta doutrina, mas fazer ver como se fundamenta, acentuando o aspecto científico. O aborto não é válido em nenhum caso; porque se trata de uma nova vida humana, que já tem direito a nascer e viver. Nem sequer é válido o aborto quando foi por estupro: neste caso, é preciso castigar o estuprador e ajudar a curar biológica, psicológica e moralmente a mulher estuprada, mas favorecendo que conclua sua gravidez e, se não quer ficar com sua criatura, que a possa dar em adoção.

–O senhor fala de um fato pernicioso no uso da linguagem por parte dos legisladores pró-aborto…

–Dom Aguilar Martinez: Sim, esta é outra situação que se está dando, já há algum tempo, que vai mudando o significado dos termos; por exemplo, pretende-se falar de gravidez só quando o óvulo fecundado se implanta no útero; contudo, a ciência já definiu que a gravidez se dá com a fecundação ou concepção mesma, sem esperar a implantação do embrião.

–A Igreja continuará sendo chamada de «negativa» por posturas como esta?

–Dom Aguilar Martinez: Quando a Igreja Católica sustenta um «não» decidido ao aborto, é porque sustenta um «sim» valente e firme à vida, especialmente dos mais indefesos que não são as mulheres, senão os bebês que se estão formando no ventre das mulheres.

–Continua havendo excomunhão para quem permite o aborto?

–Dom Aguilar Martinez: Para ratificar a defesa da vida humana desde a concepção e, pelo mesmo, para reafirmar a gravidade de quem atenta contra essa vida humana do mais indefeso, a Igreja sustenta a excomunhão automática para quem procura o aborto e que este se produza.

–Os legisladores do Distrito Federal dizem que se trata de evitar a morte de mulheres que abortam clandestinamente; é essa a solução adequada?

–Dom Aguilar Martinez: A solução para que não aumentem as mortes de mulheres por abortos clandestinos não é legalizar o aborto; isso só provocará maior quantidade de gravidezes não desejadas, mais riscos de infecções e de HIV, em geral, maior degradação da dignidade humana. A autêntica solução é reavaliar a dignidade humana, inclusive a sexualidade, a qual não consiste somente em corpo, emoções e prazer; mas inclui a toda a pessoa em seus aspectos biológicos, psicológicos e espirituais. A sexualidade implica nosso modo de pensar, de reagir e de atuar como homens ou como mulheres. Quando a sexualidade inclui a genitalidade, é porque a união de corpos e de corações quer abrir-se à possibilidade de uma nova vida humana, participando então na colaboração da «obra-prima de Deus», que é um novo ser humano.


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