O mês de junho nos traz a recordação de vários grandes santos da Igreja: entre outros, Antônio, Luiz Gonzaga, João Batista, os apóstolos Pedro e Paulo; São José de Anchieta, grande apóstolo do Brasil, que está nas origens da Igreja em São Paulo; são lembrados também S. João Fisher e S.Tomás Moro, o primeiro, bispo, e o segundo, leigo e político; ambos, mártires heroicos da era moderna. Com as festas juninas, muito populares e apreciadas, vale a pena colocar em evidência o significado da comemoração dos santos pela Igreja.
Acima de tudo, eles são discípulos e missionários comprovados de Jesus Cristo, membros eminentes da Igreja. De múltiplas maneiras, eles acolheram e viveram o amor de Deus e o comunicaram aos irmãos; foram ardorosos evangelizadores e, por vezes, ajudaram todo um povo a encontrar a fé em Cristo. Por isso, são reconhecidos como verdadeiros fundadores de Igrejas locais, como S.Bonifácio, evangelizador da Alemanha, e S. Gregório Iluminador, apóstolo da Armênia, também recordados neste mês. Os santos recordam que o caminho de Jesus Cristo é o caminho bom e verdadeiro, pois leva à vida. Vale a pena segui-lo.
Os santos “juninos”, como todos os demais, são referências constantes para a fé do povo, que reconhece neles homens e mulheres de Deus, muito próximos de Deus; por isso, também podem interceder por nós junto do Altíssimo. Sua recordação e sua companhia ajudam a não desanimar nas dificuldades da vida; de fato, eles são membros eminentes da Igreja, que já alcançaram a feliz meta da existência e nos encorajam a continuar no caminho, sem desfalecer sob o peso das dificuldades.
A Conferência de Aparecida lembra que os povos latino-americanos, na sua religiosidade popular, têm grande devoção aos santos, a começar por Nossa Senhora e São José. Não é diferente no Brasil. Nossas comunidades estão marcadas pelo testemunho dos apóstolos e dos santos padroeiros, entre eles, de muitos mártires; e se reconhecem no exemplo de tantos homens e mulheres, que lançaram neste Continente as sementes do Evangelho. O testemunho de fé, esperança e caridade, herdados dessas vidas santas constitui um dom precioso para as comunidades da Igreja, conforto e estímulo para os católicos, ajudando-os a não desanimarem no caminho do Evangelho.
Já no início do Cristianismo, muitos cristãos eram tentados de desânimo, sobretudo diante das dificuldades e perseguições que enfrentavam. O autor da Carta aos Hebreus convida sua comunidade a olhar para os exemplos de fé e perseverança dos homens e mulheres de Deus do Antigo Testamento, a começar por Abraão (cf Hb 10,32-12,13), e a não deixar de ter no exemplo do próprio Jesus Cristo a referência da vida cristã: “portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva até à perfeição” ( 12,1-2).
Da mesma forma também o apóstolo Paulo exorta Timóteo, seu jovem e fiel colaborador, a quem constituíra responsável por comunidades, a se fortalecer na fé e a perseverar no seu ministério, “como bom soldado de Jesus Cristo”, também assumindo sua parte de sofrimentos; recorda-lhe a fé sincera de sua mãe Eunice, e de sua avó, Lóide (cf. 1,1-3). Preciosa, essa referência ao exemplo da mãe e da avó, educadoras na fé como ninguém! Recorda-lhe, por fim, o exemplo de Cristo e seu próprio testemunho: “lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos. Por ele eu tenho sofrido, até ser acorrentado” (cf. 2 Tm 2,8-9).
Também hoje, muitas pessoas são tentadas pelo desânimo na fé e a abandonar sua adesão à Igreja, preferindo caminhar sozinhas, com as próprias incertezas. Aparecida nos traz um forte estímulo à valorização de nossa fé e de nossa pertença à Igreja. São muito preciosas. É bom lembrar que somos parte de um imenso povo, que caminhou com a Igreja, viveu a mesma fé ao longo de dois mil anos, entre mil dificuldades, mas também alegrias. Não estamos sozinhos, nem somos os primeiros a passar por crises e tentações de desânimo.
Recordar a vida e o testemunho dos santos e mártires é motivo de alegria e traz nova coragem. Sobretudo, é sempre necessário voltar a Jesus Cristo, fixando nele o olhar, pois ele é o “caminho, a verdade e a vida”, autor e consumador de nossa fé e de nossa esperança.
O encontro renovado com Jesus Cristo, nos muitos “lugares” de encontro com ele, ainda hoje, e a recordação dos santos nos ajudam a redescobrir a alegria e a beleza da nossa fé.
Dom Odilo P. Scherer
Formação Junho/2007