Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina
Em 2008 vivemos a Campanha da Fraternidade sobre a Vida: “Escolhe,pois, a vida” (Dt 30,19). Natal é a história de uma fecundação, de umfeto, de um embrião que foi gerado, cuidado, amado. Natal é festa deuma gravidez levada até o fim, mas que correu o risco do aborto. Amulher que engravidava fora do casamento em Israel, deveria serapedrejada. Se os pais de Jesus não fossem pessoas de fé, teriamrecorrido ao aborto para salvar uma situação bem constrangedora.
Natal é um parto, um nascimento, mais ainda, o aniversário de umavida fecundada, gerada e nascida. Todo o tempo do Advento, correspondeà expectativa da criança, do nascituro da gravidez de Maria. SantoAgostinho diz que toda a história humana está grávida de Jesus. Nossasalmas e nossos corações estejam grávidos da graça de Deus, sejam osnovos úteros de Jesus, seus mais autênticos presépios. O primeiro úteroque nos gerou, é o seio da Trindade como dizem as Escrituras: “Com amoreterno eu te amei”.
Natal é deixar Jesus nascer nas áreas ainda feridas ou paganizadasde nossa personalidade. Natal é nascer e renascer. Que a vida de Jesuspossa tocar e influenciar nossas existências. Podemos ser novascriaturas. Cristo nos dá um novo ser.
No Natal de Jesus, lembramos de todos os agentes da saúde:parteiras, médicos, enfermagem, bombeiros, socorristas que ajudam ascrianças nascer. As mães grávidas e as parturientes, são “deusas devida” e seus úteros são verdadeiros altares e presépios da vida. Todavida é dom de Deus. Ele é “amigo da vida” (Sab 11,26).
Natal é aniversário de Jesus. Cresçamos com Ele em estatura,sabedoria e graça. Sejam nossas famílias ninhos da vida. A família é o“útero espiritual”, onde os filhos crescem e amadurecem. Nós quedefendemos em nossa legislação até os “ovos da tartaruga” em defesa daecologia, não esqueçamos da ecologia humana, ou seja, da defesa do “ovohumano”, a origem da vida na fecundação.
Natal, festa da vida, mostra a que a vida deve transmitida, gerada,nascida, cuidada e consumada. Natal recorda a sublimidade dapaternidade. Que os pais e mães reaprendam a gerar filhos. A vida ébeleza vamos admirá-la; é bem-aventurança, vamos saboreá-la; é sonho,vamos concretizá-lo; é desafio, vamos enfrentá-lo; é dever, vamoscumpri-lo; é tesouro, vamos cuidá-lo; é mistério, vamos descobri-lo; éamor, vamos venerá-lo.
Neste Natal, festa da vida, lembremos os Dez Mandamentos doMotorista, para que a vida seja respeitada no trânsito. Lembremos que adoação de órgãos é um gesto de nobreza e humanismo. Lembremos que anossa genealogia está no coração de Deus. Existimos porque somosamados. “Sou amado, logo existo” (G. Marcel). A experiência maisintensa e profunda que podemos fazer é saber e crer que somos amados..“Antes da criação do mundo, Deus nos escolheu para sermos santos eíntegros, no amor” (Ef 1,4).
A vida é dom, maravilha e compromisso. É o bem primário efundamental que se não for respeitado leva à ruína todas asinstituições. Sim, a vida obedece à lei da vibração, da evolução e daharmonia. Tudo deriva de Deus, o Senhor da vida, que tanto nos amou quenos fez a dádiva da vida de seu Filho, nascido em Belém. A vida semanifestou. Apalpamos, tocamos a vida na pessoa de Jesus. Nasceu-nos umMenino, é festa da vida.
O Natal mudou a vida de José e Maria. Eles queriam casar-se, terfilhos, já eram noivos. Agora irão viver como irmãos, casados no civil,na obediência da fé, sua vida é totalmente tomada por Deus. O Natalmudou a vida dos pastores. Eles eram gente de má fama e pobres. Foramos primeiros convidados para ir ver o menino, Pastor dos pastores.Igualmente o Natal mudou a vida dos magos. Deixaram a magia para seguira luz verdadeira, Jesus de Nazaré. Por isso, voltaram por outro caminho.