Nienna, um dos espíritos angelicais do legendário de J.R.R. Tolkien, tem como atributo principal as lágrimas. Ela “é experimentada na dor e pranteia cada ferida que Arda (a Terra) sofreu”. Seu pranto não é expressão de vazia autopiedade, pois “ela não chora por si mesma”. Sua compaixão a leva para perto dos que sofrem, e os que compartilham o pranto com ela “aprendem piedade e constância na esperança”.
Na tradição católica, Santa Mônica, com suas lágrimas, alcançou a conversão de seu filho, que veio a ser o grande Santo Agostinho. Conta-se que uma vez, tendo procurado o Bispo do lugar, Santa Mônica falou-lhe em lágrimas da sua angústia pela vida de perdição que seu filho levava. Respondeu-lhe o Bispo: “Vai em paz e continua a viver assim, porque é impossível que pereça o filho de tantas lágrimas”.
Em seu magistério, o Papa Francisco falou diversas vezes sobre o poderoso dom das lágrimas. “Não devemos ter vergonha de chorar, pelo contrário, os santos nos ensinam que as lágrimas são um dom, às vezes uma graça, um sinal de arrependimento, uma libertação do coração.” Há também, segundo ele, “o choro por não ter amado. Chora-se porque não se corresponde ao Senhor, que nos quer tão bem… Deus seja louvado se chegarem essas lágrimas!”
Para Francisco, o dom das lágrimas também está ligado à cura do coração e tem o poder de comover e mobilizar o poder de Deus: “Quem retira a máscara e se deixa olhar por Deus no coração, recebe o dom de tais lágrimas, as águas mais santas depois das do Batismo.”
Moysés Azevedo, no Retiro de Transbordamento da Escuta 2024, ao falar das graças especiais que o Senhor concede à Comunidade para abrasar os nossos corações, também cita o Papa Francisco, fazendo referência à adoração eucarística e às lágrimas que banham os olhos daqueles que se deixam tocar pela Glória de Deus, num caminho de arrependimento e conversão.
Por Júnior Nogueira