Aos 30 anos de idade, cheguei à conclusão que viver não fazia mais sentido. Eu estava desacreditada no ser humano e via tudo como supérfluo e sem esperança de dias melhores. Eu vivia uma profunda crise existencial, sem saber quem eu era, quem era Deus e o que a vida queria de mim. Com a mente já debilitada, percebia que todo esforço que fizesse para agradar os outros era em vão, que não haviam mais relações saudáveis e honestas, e sim, baseadas em interesses egoístas onde as pessoas eram constantemente descartadas.
Em que está o sentido da vida?
Sou natural de Morrinhos (CE) e dos meus 12 aos 18 anos, era uma adolescente engajada em grupos de oração em minha cidade natal. Saí de casa aos 18 anos para estudar em Sobral e por lá, fiquei até os 28. Nesse período, eu busquei a felicidade nas pessoas, nas festas, nos estudos, no trabalho… Mas nada disso preenchia a sede que havia em meu coração. Cada vez mais eu ia afundando em uma tristeza inexplicável e a sensação que eu tinha é que dava volta em círculos e não saía do lugar. Eu sentia que a vida não era só isso, que havia algo de muito mais grandioso que eu desconhecia. Mal sabia eu que naquele carnaval de 2014 eu encontraria o sentido da vida.
Nessa época, morava em Fortaleza e estava casada (civil). O relacionamento estava muito conflituoso e eu já estava cansada de mim mesma, não gostava da minha profissão e não tinha mais forças pra viver, estava perdendo até mesmo a fé em Deus.
Decidi ir sozinha pro Renascer, Retiro de Carnaval promovido pela Comunidade Shalom. Cheguei no ginásio, onde acontecera o evento, com meu psicológico muito abalado, estava tão paralisada que não tinha ânimo nem para sorrir nem para bater palmas. Mesmo assim, me esforçava para participar de todos os momentos. Na primeira manhã de Adoração eu levei fotografias e as alianças para serem abençoados. Quando Jesus passou no Santíssimo Sacramento, falou com voz firme ao meu coração “Eu quero você toda pra Mim”. Ali, desmoronei, pois entendi que eu deveria sair de casa. Nessa palavra tão carinhosa, entendi que Jesus me amava tanto a ponto de ter ciúmes de mim e que Ele sofria por me ver assim, nessa angústia, nessa desordem.
Como tudo se daria
Comecei a chorar e questionar “Jesus, como vou sair de casa, e como vou morar sozinha nessa cidade? Como vai ser meu futuro, minha velhice?” Jesus não respondia. À tarde, na pregação sobre o Amor de Deus todos os meus questionamentos foram respondidos. Parecia que só havia eu e o pregador naquele ginásio. Ele dizia “se você entregar sua vida pra Deus Ele nunca irá te abandonar. As pessoas que você mais ama podem te deixar só, mas Deus sempre cuidará de ti. Não temas o seu futuro, Deus cuidará de ti.” Eu só chorava.
Ainda no Renascer, procurei Oração e Aconselhamento e à medida que aquelas pessoas iam rezando e conversando comigo, sentia que minhas “máscaras” iam caindo. Percebi que eu mesma fui colocando essas máscaras ao longo da vida, para agradar as pessoas e que, além de não me conhecer, não conhecia profundamente a Deus. Foi um momento doloroso, mas sabia que toda ferida dói antes de ser sarada.
Lembro que eu ficava na arquibancada e ria das pessoas lá embaixo dançando e louvando a Deus. Eu ficava pensando “Como aquelas pessoas tem coragem de fazer aquilo?”. No último dia, depois do momento da efusão no Espírito Santo, estava lá embaixo e eu era a que mais pulava, dançava e cantava, mesmo sem conhecer ninguém. Simplesmente foi libertador.
Pós evento
Passados os três dias, quando cheguei em casa na terça-feira de Carnaval, algo em mim havia mudado. Meu coração ainda estava sangrando diante de tantas situações desafiantes que eu vivia, mas havia uma paz, uma coragem, uma esperança que me impressionava. A experiência com o amor de Deus me dava a certeza que Ele estava cuidando de tudo e que eu não precisava me desesperar.
Eu passei a participar do grupo de oração, que se tornou minha segunda família. Eu esperava ansiosamente o sábado à noite, para rezar e conviver. Tive pastores maravilhosos que me acompanharam pessoalmente, que rezaram por mim, que se preocupavam comigo.
A alegria que eu sentia era tão forte que eu falava do amor de Deus por onde passava, no meu trabalho, pros meus amigos, no ônibus, etc. Eu queria que todas as pessoas tivessem uma experiência com o amor de Deus, porque por onde eu passava via as pessoas infelizes e perdendo o sentido da vida, por mais que elas tivessem uma vida boa. Não era justo que eu sentisse essa paz e outras pessoas, não. Mas, sabia que as pessoas eram livres pra acolher ou não a graça de Deus.
Seis meses depois do Renascer eu tive a coragem de sair de casa. Continuei passando por momentos difíceis, mas em todos eles a presença e o cuidado de Deus eram muito fortes. Pela primeira vez na vida, me senti amada de forma desinteressada e verdadeira. O amor de Deus saciou aquela sede de felicidade que havia em mim desde minha adolescência.
Talvez eu não estivesse hoje aqui pra contar essa história se eu não tivesse tomado a decisão de ir para o Renascer, ao invés de ir no interior ficar com meus pais e descansar. Mas sei que a misericórdia de Deus nunca desistiu de mim.
Hoje, sou muito bem cuidada e formada pela Comunidade Shalom e continuo nesse processo de autoconhecimento e amadurecimento como missionária da Comunidade de Aliança, dando de graça o que de graça recebi. Eu olho pra minha história e bendigo a Deus pelos irmãos que serviram naquele Renascer que mudou minha vida. Hoje eu sei, que o sentido da vida está numa Pessoa linda, Jesus, filho de Maria.
Socorro Freitas
Discípula da Comunidade de Aliança