O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, afirmou essa quinta-feira, em homilia na festa de Corpus Christi, que «no Corpo de Cristo realiza-se a plenitude de sentido do corpo humano».
O cardeal explicou que no Novo Testamento esta dimensão física e material do ser humano é designada por duas palavras diferentes: carne (sarx) e corpo (sômma).
A carne, segundo o purpurado, «designa o elemento cósmico do ser humano, que ele comunga com todo o cosmos, unido numa harmonia que lhe permita viver, embora a vida seja uma expressão do corpo».
Já o corpo «designa o homem na sua totalidade, material e espiritual, capaz de amor e sujeito de relação. Esta é a expressão mais elevada do corpo humano, a sua capacidade de amar, a Deus e aos homens, a sua vocação de comunhão.»
A diferença destes conceitos é clara na experiência da morte, explica D. José Policarpo. «Antes, o homem tem um corpo carnal, sujeito ao sofrimento e à morte. Morto, já não é um corpo mas um cadáver. Porque o homem vive para além da morte, o homem continua a ter um corpo, porque a corporeidade é essencial à expressão humana».
«É misteriosa para nós esta corporeidade humana depois da morte, cujo mistério se antevê na ressurreição de Cristo, que continua a ter um corpo, não carnal, mas espiritual, segundo a linguagem de São Paulo.»
Segundo o purpurado, «o Corpo de Cristo é para nós, hoje, o Seu corpo ressuscitado. No seu corpo ressuscitado, Jesus revela, definitivamente, o mistério do corpo humano, porque a sua ressurreição é para ser participada por nós, na esperança da ressurreição do nosso corpo. O Corpo de Jesus ressuscitado é real, não é uma aparência, e é o mesmo corpo».
«O Corpo de Jesus ressuscitado é o mesmo, mas é diferente», explica. «Na morte atingiu a sua forma definitiva, o que nos revela a importância decisiva da morte como experiência fecunda e criadora, dando aos nossos corpos mortais a sua forma definitiva».
«Em que consiste essa diferença? São Paulo chama-lhe “corpo de glória” (Fil. 3,21) ou um “corpo espiritual” (1Co. 15,44). A carne de Jesus, na sua qualidade de participação na matéria e no cosmos é transformada, fazendo intuir qual será o futuro da matéria. O seu espírito humano (psiquê) que garante a vida humana do homem Jesus, é completamente substituída pelo Espírito Santo, que pode agora ter uma expressão plena num corpo humano.»
De acordo com o patriarca de Lisboa, a plenitude do Espírito no Corpo de Jesus torna ainda mais o corpo expressão do amor de Deus.
«Para que possa amar os seus discípulos com essa intensidade, fá-los participar da Sua vitória sobre a morte, antecipando para eles, que ainda não morreram, a possibilidade de amar como Jesus ressuscitado ama: fá-los morrer e ser sepultados com Ele, no Baptismo, e dá-lhes o Espírito Santo.»
«Assim também os seus corpos mortais poderão ser transformados em corpos de glória e amarem a Cristo como Ele os ama. Esta redenção dos nossos corpos materiais, antes da nossa morte, mostra a pressa de Jesus ressuscitado de poder estabelecer conosco uma relação de amor ao ritmo da eternidade», afirma.
Segundo o cardeal, esta nova possibilidade de amor entre Cristo e os discípulos revela-nos outra «expressão surpreendente» do Corpo de Cristo, «a Igreja».
«Nela se afirma, de forma definitiva, que a verdade última do corpo é ser expressão de amor, constituindo uma unidade ao nível do ser, participação da unidade de amor entre as pessoas divinas, diferentes, mas um só».
«A Eucaristia é a expressão central da presença de Cristo no meio do Seu Povo, que Ele ama com amor de esposo, nesta fase peregrina da nossa vida de discípulos»; «por ela, mergulhamos no amor infinito do Deus Uno e Trino».
De acordo com D. José Policarpo, só a Eucaristia garante o realismo da presença de Cristo no meio de nós.
«Só ela recorda continuamente à Igreja que é Corpo e Esposa de Cristo; só nela descobrimos a novidade do amor fraterno, na comunhão de amor que é a Igreja. Ela é a síntese de todas as etapas da história da salvação, incluindo a promessa da vida eterna»
Fonte: Zenit