Após a morte de Jesus na cruz, houve o sepultamento do seu corpo num túmulo novo. Depois, o silêncio. É no silêncio que acontece a ressurreição.
O alvoroço das mulheres e a corrida dos discípulos ocorrem quando o sepulcro já está vazio. Dois homens, com vestes resplandecentes, dizem, às mulheres “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24,5-6). Jesus ressuscitou, no silêncio; ninguém viu, nenhum repórter estava lá. Nem a câmera escondida dos seguranças funcionou. Nem som e nem imagem.
O silêncio, aparentemente, é isso: não tem ninguém, não tem nada, é o vazio.
Hoje pouquíssimas pessoas gostam do silêncio. A maioria tem medo; deve ligar sempre alguma coisa: rádio, tv, MP3, e a bom volume para todo mundo ouvir, também os vizinhos que não querem! Até nas nossas Igrejas tem pouco silêncio.
Temos medo do silêncio, porque, nessa situação, estamos sozinhos. É tão ruim assim ficar a sós, sermos obrigados a ouvir o bater do nosso coração e a seguir os nossos pensamentos? Tenho a impressão que aqueles que não gostam do silêncio, na prática, têm medo dos próprios pensamentos. Se não tem ninguém que me diz o que pensar, quando chorar e sorrir, quando me indignar e quando fingir que nada aconteceu e deixar acabar tudo em pizza, sou obrigado a pensar com a minha cabeça. Mas isso não é fácil, é mais cômodo e prático pensar com a cabeça dos outros ou da televisão. O silêncio incomoda. Talvez seja o que mais falta à sociedade de hoje, tão barulhenta e desassossegada.
Não tenho dúvidas, no silêncio, aos poucos, acontece o novo. Até agora disse que no silêncio temos a oportunidade de encontrar a nós mesmos nos confrontando com os nossos pensamentos. Sem máscaras, sem a zoada de quem quer nos distrair.
Mas no silêncio tem uma outra presença importantíssima: Deus. Ele é o Outro que se deixa encontrar se soubermos prestar atenção. Ele não precisa de palavras, embora também se sirva delas; não precisa chamar atenção, porque quer o nosso coração, não os nossos flashes ou os nossos aplausos. No silêncio nasce a oração, o agradecimento, o arrependimento, as lágrimas. É assim que Deus quer começar o novo na nossa vida.
A Ressurreição é tão nova que nem os evangelistas souberam explicá-la com as poucas palavras disponíveis. Tentaram. Ela também deve acontecer na nossa vida sem muitas explicações, com mais silêncio do que palavras, com mais reflexão do que conversa. Isso porque participar da ressurreição de Jesus é, justamente, começar a pensar e agir como Ele. E tudo isso é possível somente no silêncio, no recolhimento. É no silêncio também, conosco mesmos, que decidimos como agir; que escolhemos o que nos parece certo e descartamos o que nos parece errado. O único que pode fazer propostas, entrando no nosso silêncio, é o Senhor porque fala ao nosso coração e não somente aos nossos ouvidos.
Ele não compete, espera pacientemente que voltemos a pensar nEle, que façamos de novo silêncio. Tomara que não seja tarde demais.
Dom Pedro José Conti
Formação: Abril/2007