Neste início de Terceiro Milênio, em que a fécristã tem sofrido inúmeros desafios, dentre eles o relativismo moral ereligioso, é de suma importância que os pais fortaleçam a convicção danecessidade de alimentar os valores essenciais à dignidade humana, tãomenosprezada pela desvalorização da vida nos seus diversos aspectos.
Os valores cristãos são universais e elevam apessoa ao plano transcendente de sua vida. Tais valores conduzem o homem à suarealização, que se encontra na experiência profunda de amar e ser amado. Aofinal desta vida transitória, depois de ter trilhado os caminhos do amorautêntico, o ser humano alcançará sua plenitude em Deus, autor de tudo e fontedo amor infinito para o qual fomos criados.
Nessa perspectiva,achamos de grande relevância refletir com os pais e educadores sobre osignificado e missão da escola católica, que dá uma contribuição ímpar na obrade construção da “civilização do amor” (expressão usada por João Paulo II aoreferir-se ao grande projeto de Deus para a humanidade). Nossa reflexão tem porbase o documento pontifício “A Escola Católica no limiar do Terceiro Milênio”;serão abordados alguns aspectos do contexto atual, o significado e missão daescola católica, bem como o compromisso dos educadores (pais e professores)diante da esperança que a Igreja, como Mãe e Mestra, deposita nesta instituiçãoconstituída de religiosos, consagrados e fiéis leigos, que têm uma missão degrave importância no mundo pós-moderno.
Atualmente aescola católica encontra-se diante de grandes desafios criados pelo contextosócio-político e cultural. Refiro-me especialmente à crise de valores, que,sobretudo nas sociedades desenvolvidas, assume muitas vezes as formas desubjetivismo difuso, de relativismo moral e de niilismo, exaltados pelos meiosde comunicação social.
Pluralismos
O profundopluralismo, que invade a consciência social, dá origem a comportamentosdivergentes e, às vezes, de tal maneira antitéticos (negativos) que acabam pordestruir qualquer identidade comunitária. As rápidas mudanças estruturais, asprofundas inovações técnicas e a globalização da economia incidem cada vez maissobre a vida do homem em todas as partes do mundo. O fenômeno de uma sociedademulticultural que se torna cada vez mais multirracial, multiétnica emultirreligiosa traz consigo não só enriquecimento, mas também novos problemas.
Com efeito, se éverdade que nos últimos anos constata-se uma grande atenção e uma crescentesensibilidade da opinião pública, das organizações internacionais e dosgovernos às questões da escola e da educação, deve-se notar também uma reduçãodifusa da educação aos aspectos puramente técnicos e funcionais. As própriasciências pedagógicas e educacionais mostram-se mais decididas no que dizrespeito à vertente do reconhecimento fenomenológico e da prática didática, doque em relação ao valor propriamente educativo, centrado sobre valores ehorizontes de forte significado.
Fragmentação de valores
A fragmentação daeducação e o caráter genérico dos valores, a que frequentemente se recorre paraobter amplo e fácil consenso, a custo, porém, de um ofuscamento perigoso doconteúdo, tendem a adormecer a escola num presumível neutralismo, queenfraquece o potencial educativo e se reflete negativamente sobre a formaçãodos alunos.
A escola católicadefronta-se com jovens e adolescentes que vivem as dificuldades do tempo atual.Encontramo-nos diante de alunos que resistem ao que é desafiante e trabalhoso, quesão incapazes de sacrifício e constância e não encontram modelos válidos dereferência, a começar pelos familiares. Não apenas mostram-se cada vez maisindiferentes ou não praticantes, mas até mesmo sem qualquer formação religiosaou moral. A isso se junta, em muitos alunos e nas famílias, um sentido deprofunda apatia pela formação ética e religiosa, de modo que, na verdade, o quese pede à escola católica é apenas um diploma ou, quando muito, uma instruçãoqualificada e uma habilitação profissional. O clima descrito produz certocansaço pedagógico, que, no contexto atual, se junta à dificuldade crescente emaliar o ser professor ao ser educador.
Missão da Escola Católica no contexto atual
A Igreja propõe àescola católica uma educação para a comunhão. Educar em comunhão e para acomunhão significa orientar os estudantes para crescerem autenticamente comopessoas, “capazes de se abrirem progressivamente à realidade e de formarem umadeterminada concepção da vida” que os ajude a alargar o olhar e o coração parao mundo que os circunda, com capacidade de leitura crítica, sentido deresponsabilidade e vontade de empenho construtivo.
Neste contexto,torna-se particularmente urgente oferecer aos jovens um percurso de formaçãoescolar que não se limite à fruição individualista e instrumental de um serviçotendo em vista um título que deve ser obtido, ou seja, uma produção intelectualou técnica. Além da aprendizagem dos conhecimentos, é necessário que osestudantes façam uma experiência de forte partilha com os educadores. Para uma realizaçãopositiva dessa experiência, os educadores devem ser interlocutores afáveis epreparados, capazes de suscitar e orientar as melhores energias dos estudantespara a busca da verdade e do sentido da existência, além de uma construçãopositiva de si e da vida no horizonte de uma formação integral. Portanto, “nãoé possível […] uma verdadeira educação sem a luz da verdade”.
Essa perspectivainterpela todas as instituições escolares, e mais diretamente a escolacatólica, a qual responde de modo constante pelas entidades formativas dasociedade, porque "o problema da instrução sempre esteve estreitamenteligado à missão da Igreja". A escola participa desta missão comoverdadeiro sujeito eclesial, com o serviço educativo, vivificado pela verdadedo Evangelho. Ela, de fato, fiel à sua vocação, apresenta-se "como lugarde educação integral da pessoa humana através de um claro projeto educativo quetem o seu fundamento em Cristo, orientado para realizar uma síntese entre fé,cultura e vida.”
Como sujeito eclesial,a escola católica coloca-se como fermento cristão no mundo. Nela, o alunoaprende a superar o individualismo e a descobrir, à luz da fé, que está chamadoa viver de modo responsável, uma específica vocação para a amizade com Cristo eem solidariedade com todos. Em definitivo, a escola é chamada a ser testemunhovivo do amor de Deus entre os homens.
A importância e missão do educador na EscolaCatólica
Da natureza daescola católica provém também um dos elementos mais expressivos daoriginalidade do seu projeto educativo: a síntese entre cultura e fé. Comefeito, o saber, colocado no horizonte da fé, torna-se sabedoria e visão devida. A tensão em harmonizar razão e fé, que é a alma de cada uma dasdisciplinas, dá-lhes unidade, articulação e coordenação, sublinhando, no seiodo saber escolar, a visão cristã do mundo, da vida, da cultura e da história.
No projetoeducativo da escola católica, não há por isso separação entre momentos deaprendizagem e momentos de educação, momentos de conhecimento e momentos desabedoria. Cada uma das disciplinas não apresenta apenas conhecimentos aadquirir, mas também valores a assimilar e verdades a descobrir. Tudo issoexige um ambiente caracterizado pela procura da verdade, no qual os educadores,competentes, convictos e coerentes, mestres de saber e de vida, sejam ícone doúnico Mestre – ícone imperfeito, é claro, mas não ofuscado. Portanto, noprojeto educativo cristão, todas as disciplinas colaboram, com o seu saberespecífico e próprio, para a construção de personalidades amadurecidas.
O diálogoquotidiano e o confronto com os educadores, leigos e consagrados, que oferecemum testemunho jubiloso da própria missão, orientarão com mais facilidade ojovem formando a considerar a própria vida como uma vocação, como um caminhoque deve ser vivido em conjunto, captando os sinais através dos quais Deusconduz cada pessoa à plenitude da existência. De modo análogo, o educador deveoportunizar a compreensão da importância e necessidade de saber ouvir,interiorizar os valores, aprender a assumir compromissos e fazer escolhas devida.
Experiências Formativas
Deste modo, aexperiência formativa da escola católica constitui um formidável baluartecontra a influência de uma mentalidade difundida que induz, sobretudo os mais jovens,“a considerar a si próprios e a sua própria vida como um conjunto de sensaçõesa serem experimentadas, e não como uma obra a ser realizada”. Ao mesmo tempo,ela deve contribuir para “formar personalidades fortes, capazes de resistir aorelativismo debilitador e de viver as exigências do próprio batismo”.
No decurso dasdiversas faixas etárias, é necessário que as relações pessoais com educadores sejammarcantes. Os próprios conhecimentos têm maior impacto na formação do estudantese colocados num contexto de empenho pessoal, de reciprocidade autêntica, decoerência de atitudes, de estilos e de comportamentos quotidianos. A comunidadede educação, globalmente considerada, é, deste modo, chamada a promover umaescola que seja um lugar de formação integral através da relação interpessoal.
Dessa forma, naescola católica “a primeira responsabilidade em criar o estilo original cristãodiz respeito aos educadores, como pessoas e como comunidade”. O ensino é umaatividade de grande importância moral, uma das mais altas e criativas do homem:o professor, com efeito, não escreve sobre matéria inerte mas no próprioespírito das pessoas.
Assume, por isso,um valor de extrema importância a relação pessoal entre o professor e o aluno,que não deve limitar-se a um simples “instruir e avaliar”. Além disso devemosestar cada vez mais conscientes de que os professores e educadores vivem umavocação cristã específica, como também é específica a participação na missão daIgreja. Pode-se afirmar que “… sobretudo deles depende que a escola católicapossa levar a efeito os seus propósitos e iniciativas, realizando sua missão deser e construir o Reino de Deus no mundo”.
É positivoressaltar que a contribuição peculiar que os educadores leigos podem dar para ocaminho formativo surge precisamente da sua índole secular, que os tornaparticularmente capazes de captar “os sinais dos tempos”.
Como testemunhas,cada um dos professores deve mostrar a razão da sua esperança (cf. 1 Pd 3, 15),vivendo a verdade que eles mesmos propõem aos seus estudantes, sempre comreferência Àquele que encontraram e cuja bondade confiante eles experimentaramcom alegria. E fazer experiência da Igreja significa encontrar-se pessoalmentecom Cristo vivo nela. E “só na medida em que faz uma experiência pessoal deCristo, o jovem pode compreender na sua realidade a vontade dele? e, portanto,a própria vocação e o sentido de sua existência no mundo.
A missão dos pais
Na comunidadeeducacional, têm uma especial importância os pais, que são os primeiros e, pornatureza, os responsáveis pela educação dos seus filhos. Infelizmente, hoje seassiste a uma tendência generalizada de delegar este dever originário. Torna-senecessário, portanto, não só dar impulso às iniciativas que exortem ao empenho,mas que ofereçam um concreto e correto sustentáculo e empenhem as famílias noprojeto educativo da escola católica. O objetivo constante da educação escolaré, portanto, promover o encontro e o diálogo com os pais e as famílias, quedevem ser promovidos também por meio da criação das associações de pais. Dessaforma, viabiliza-se a contribuição insubstituível que os pais devem oferecer,tornando eficaz o projeto educacional.
Bibliografia: -artigo baseado no documento pontifício: “A ESCOLA CATÓLICA NO LIMIAR DOTERCEIRO MILÉNIO” – CONGREGAÇÃO DA EDUCAÇÃO CATÓLICA – VATICANO.1997, Festa daSagrada Família.