Formação

O amor de Deus me atraiu

comshalom

Gabriella Márcia da Rocha Dias
Consagrada na Comunidade de Vida Shalom

Meus pais tiveram cinco filhos, dos quais sou a única mulher. Também por esse motivo, sempre tive um lugar muito especial em minha família: fui bem educada e cuidada, meus pais sempre me amaram e fizeram muitos planos para mim. Desde a infância me ensinaram a cultivar valores aos quais, com grande esmero, me dediquei: a família e os estudos. Formar-me e seguir carreira era de tal forma importante para mim que nisto parecia estar o meu valor, a minha dignidade. Frequentemente via-me em situações em que parecia vital ser a melhor, obter sucesso, jamais fracassar ou desistir depois de ter tomado uma decisão. Por isso, quando, aos 16 anos, fui morar em Natal-RN com meu irmão mais velho (que então tinha 17 anos de idade), a fim de estudarmos, suportei o sofrimento causado pela ausência da família, sobretudo a saudade de minha mãe.

Nesse ano (1994) me determinei por uma dedicação intensa aos estudos, de formas que no fim de semana do meu aniversário resolvi fazer um curso; fiquei só e não celebrei essa data. Ao voltar para casa, à noite, experimentando grande vazio e solidão, chorei muito e, pela primeira vez, questionei-me acerca das minhas opções, se valia a pena viver assim, sem amar nem me deixar amar, por causa de metas, planos… Sem respostas, adormeci exausta de tanto chorar. Quando lembro essa noite, penso no Salmo 117: “Na angústia eu gritei por Ele, e o Senhor me escutou”.

Sim! O Senhor me escutou. Um mês depois recebi o convite inesperado de uma colega de sala (a quem sou muito grata) para participar de um grupo de oração para jovens. Oração eu não queria, mas de amigos eu precisava. Fui, e a coordenadora (que era da Comunidade de Vida Shalom), ao se apresentar, usou dois termos que de imediato me atraíram fortemente; ela disse: “Sou consagrada e missionária…”. Estas duas realidades – consagração e missão -, que pouco compreendia, bastaram para que eu voltasse àquele grupo tantas outras vezes. Naqueles dias firmei comigo o propósito de me tornar “aquilo” que me pareceu mais nobre do que qualquer outra coisa desta vida.

Mas… estava às portas do Vestibular. Meus planos – bem firmados – eram outros. Estava matriculada em Natal-RN e João Pessoa-PB; queria cursar medicina. Um mês antes das provas, para minha “confusão”, fiz meu Seminário de Vida no Espírito Santo e o Amor de Deus, que supera todo entendimento e medida, atraiu-me fortemente. Passei a desejar ser só dele. Como se faria isso? Um sacerdote salesiano me aconselhou a prestar Vestibular e ver isso depois. Eu não teria coragem de fazer outra coisa.

Ingressei em 1995 na Universidade Federal, no curso que sempre desejara, mas meu coração (para minha surpresa!) estava longe do que eu e minha família havíamos planejado; ele estava em Deus e seus planos, que a cada dia eu queria sondar pela oração, estudo da Palavra e Eucaristia. Foi um ano de intimidade com Deus e de felizes surpresas e respostas de sua parte. No dia do meu aniversário, por exemplo, estava mais uma vez longe da família, mas eu não estava mais só, os irmãos da Comunidade Shalom celebraram a minha vida de uma maneira inesquecível. Quando um dos irmãos consagrados me disse no meio da serenata: “Nós somos uma família…”, compreendi que aquele ano todo de manifestações do Amor de Deus era de resposta àquela noite em chorei até a exaustão. Nessa noite chorei mais do que na de 1994, senti-me encontrada, amada por Deus e pelos irmãos, em família. Compreendi também que Deus estava me dando a resposta para os anseios do meu coração, de consagração, de missão… naquela nova família, na Comunidade Shalom.

No ano seguinte, ainda cursando medicina, fiz o vocacional Shalom e, apaixonada por esse carisma, e principalmente pelo seu Autor, pedi ingresso na Comunidade de Vida.

Ao deixar a faculdade sofri muito, por meus pais e irmãos, pois sabia estar abandonando os seus (nossos) planos, e nem me sentia no direito de fazer isso. Mas, e os planos eternos de Deus? E os seus desígnios de amor a meu respeito e, com certeza, também a respeito dos meus familiares? Teria eu o direito de resistir? Creio que não. Graças a Deus, não.

Hoje, aos 25 anos de idade, sou uma feliz consagrada no celibato e missionária da Comunidade de Vida Shalom. Bendito seja Deus, que me atraiu com o seu amor irresistível à sua irresistível vida!


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