O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é celebrado no dia 2 de abril e foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data tem como objetivo levar conhecimento à população em relação ao Transtorno do Espectro Autista, a fim de reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam o transtorno.
Confira o relato da consagrada da Comunidade de Aliança, Sibelle Veiga que conta como o autismo transformou a família dela, ensinando a ser uma pessoa mais perseverante e amorosa.
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Em 2013 o autismo entrou na nossa vida. Recebemos o diagnóstico do nosso primeiro filho. Em 2017 recebemos o diagnostico do nosso segundo filho, também autista. Praticamente em toda a minha maternidade, eu vivo nesse mundo azul, um mundo diferente, o meu mundo, o mundo onde aprendi a ser mãe.
Vemos em muitos filmes personagens autistas, mas sempre os funcionais. Esquecemos de olhar para os não funcionais, os dependentes, os severos, os que não falam, não se comportam adequadamente, os que crescem em idade mas possuem um jeitinho todo diferente de crescer em suas mentes, diferente do que a sociedade espera como padrão.
Um amor que supera as exigências
Esses são os que, poderíamos dizer, nos exigem mais, nos dão mais trabalho. Verdade! Dão mesmo! Mas esses também são os que mais nos ensinam a amar, os que mais nos fortalecem, os que mais nos purificam, nos fazem ver além dos padrões e os que mais nos unem à Deus. Esses são os meus, Davi e Nathan. Meus amores!
Os meus filhos não falam, não comem sozinhos, não escrevem nem leem, não se limpam, não sabem brincar sozinhos. Eles não tem noção de perigo nem de comportamento social adequado, têm muitas estereotipias, têm crises de ansiedade e oscilações de humor inesperadas, seletividade alimentar fortíssima e podem ser agressivos. Falo tudo isso para não romantizar o autismo, mas ao mesmo tempo não quero problematizar, pois eles são puro amor, são protegidos das maldades desse mundo como se nada os atingisse, blindados, nada os preocupa, vivem abandonados no nosso amor de pais, confiantes de que, mesmo que eles não falem, nós entenderemos o que eles querem.
Com eles aprendemos muito
O estresse da nossa vida não os atinge, as más notícias também não, o bullying de outras crianças muito menos. Se não são convidados para uma festinha, nem ligam. Essa humildade e abandono eu queria ter para com Deus. Eles me ensinam tanto. A vida deles me leva ao céu porque olho para eles, plenos da graça, puros, sem pecados, descomplicados e desejo também me relacionar assim com a vida e com Deus. O olhar espiritual sobre o autismo é importantíssimo.
Um dia meu esposo disse: “autista gosta de vida simples”, se referindo ao fato de que os meninos se desorganizam muito, se irritam com a mudança de rotina. Eles gostam do dia-a-dia simples, casa, escola, passeio nos mesmos lugares, vovó e pronto. Repetidamente. Nisso eles também nos ensinam. A sacralidade da nossa vida ordinária. Para eles basta a rotina. E para mim? Eu que me inquieto, que estou sempre querendo mudanças, querendo algo novo desse mundo, esperando mais, como se o mundo fosse suprir a necessidade que, na verdade, é o meu desejo da novidade do céu. O céu que já é deles. Tenho dois santinhos em casa!
O autismo como um privilégio para a família
Ah! O autismo! Eu posso afirmar que o vejo como privilégio. Claro que, em alguns momentos da vida, eu desejei não tê-lo por perto. Esses momentos vem e vão. Mas por que não tê-lo? Para poder viajar, para poder ir a outros lugares, para poder fazer isso ou aquilo?
Para facilitar nossa vida, porque nosso ser decaído clama por descanso e conforto e os meus filhos não me deixam sentada nem um minuto (rsrsrs). Até parece que não seriamos capazes de também fazer tudo errado e nos cansar tanto quanto se eles não fossem assim. Ilusão! Eu bem sei que essa foi a cruz santa que Deus nos deu e por isso devo amá-la.
Eu choro? Sim! Mas na maioria dos dias eu sou grata, porque o autismo me abriu aos outros, me fez uma mãe melhor, me fez olhar diferente para todos, ver de forma individual cada um, tentar resolver os problemas sempre de forma personalizada, porque é assim no autismo e é mais fácil assim também com todos. O autismo me ensina sobre perseverança! Eles são muito perseverantes e insistentes quando querem algo. Quando querem algo possuem um hiperfoco incrível. Eu sempre penso em Deus nessas horas. Eu os invejo nisso. Eles não desistem.
Aqui encerro com uma oração:
Dá-me a graça, Senhor, de buscar a Ti assim, insistentemente, sem desistir.
Dá-me a graça de Te amar descomplicadamente, de forma pura, sem precisar de tantas
coisas.
Dá-me a graça de confiar, de me abandonar no Teu amor cegamente,
Dá-me a graça de Te louvar repetidamente e ter meu hiperfoco sempre em Ti, Senhor!
Sibelle Veiga
Consagrada com Promessas definitivas
Comunidade de Aliança
Missão Fortaleza
Que lindo e forte seu testemunho!!!
Obrigada por falar do autismo de uma maneira tão perfeita!
Deus os abençoe! Shalom!!!