Durante nove meses uma mãe carrega uma criança no ventre, ela não escuta a voz da criança, a voz da vida, ela sente e o silêncio é aquilo que nos permite sentir a vida de Deus nascer em nós. Por isso hoje é o dia da gente pensarmos no silêncio de Deus, você imagina o próprio Jesus ficava a se questionar naquele momento de profunda intimidade com Deus dizendo: Meu Deus, meu Deus porque me abandonastes? O silêncio de Deus Pai. Naquele momento fecundava a unidade. E quantas vezes o silêncio faz a gente experimentar a profundidade daquilo que Deus pensa e senti para nós, então hoje é o dia da gente iniciar esse caminho de silêncio para redescobrir por meio da sexta-feira da paixão aquilo que Deus senti e deseja para nós. O silêncio nos edifica, esse silêncio que a gente sabe muito bem, que não é a ausência de barulho, mas o silêncio é a abertura do coração para Deus.
Esse silêncio que se traduz em linguagem de amor, nós vamos olhar Jesus que vai a Pôncio Pilatos estarrecido e ansioso, tudo que ele poderia dizer haveria dito e a postura do silêncio de Jesus era como que quisesse dizer “eu quero que vocês enxergam”, e somente quando silenciamos, a gente consegue olhar as atitudes de Jesus. Então nessa primeira postura vamos pedir a Deus hoje, a graça do silencio. Uma coisa me incomodava não sei você, e que na Procissão de Passos aqui em Sobral antigamente as pessoas guardava essa realidade do silêncio, como era bonito perceber que a partir das três horas da tarde os comércios fechavam, todo mundo se resguardavam para viver aquele momento, assim como o dia de hoje sexta-feira da paixão. E hoje passando com os padres na procissão de Passos via os bares aberto, músicas e algumas pessoas tomando sua cervejinha conversando com uma indiferença porque é fruto de uma sociedade que não faz silêncio.
Que prefere o barulho que tantas vezes não faz a gente olhar para dentro de nós e perceber aquilo que devemos ser aquilo que preciso mudar. O barulho anestesia a alma deixando com que a alma não seja aquilo que Deus deseja para ela, o barulho nos distancia da verdade de quem nós somos e devemos ser por isso esses dias a Igreja nos convida ao silêncio. Para que a gente pare e olhando para Jesus na cruz nós nos lembremos o preço do valor que nós temos. O valor e o preço que nós temos do sangue de Jesus na cruz, então essa primeira palavra junto com a Igreja vai nos conduzir a esse momento do silêncio, por isso a celebração de hoje não tem canto de entrada, o único dia do ano que não tem missa. É o dia do silêncio que se prolonga até amanhã.
A segunda palavra é o beijo quando a gente olha pra liturgia, a Igreja se utilizou desse gesto tão bonito que é o beijo, para traduzir de forma muito nobre a nossa comunhão com Deus, hoje nós vamos beijar a cruz. O beijo é uma expressão de comunhão, é um selo que a gente põe na vida do outro, algumas pessoas até falam “dão um selinho” e dar um “um selinho” no outro, o beijo de fato é um selo, é o registro de comunhão que se põe na vida do outro, é o registro de profunda intimidade que nós desejamos deixar na vida outro. E não somente isso, mas ao mesmo tempo em que a gente beija e é beijado nós deixamos que este selo e esse registro também habite em nós. Por isso como sacerdote, na procissão de entrada o primeiro gesto ao celebrarmos a Eucaristia é o beijo, com aquele desejo de estar numa profunda comunhão com o mistério celebrado e o beijo no altar a gente sabe que esse beijo também é da paixão de Jesus. Porque ali no altar, será outra vez atualizada a paixão de Jesus, corpo e sangue serão entregues novamente pela a salvação da humanidade. Que coisa linda! É saber ininterruptamente isso acontece no mundo inteiro, quando termina uma missa uma outra missa se inicia. Ininterruptamente este sacramento é atualizado pela a humanidade.
Todos os lugares tem seu fuso-horário ininterruptamente está acontecendo esse mistério de salvação. É aquilo que a gente celebra em cada Eucaristia. Vocês lembram também um gesto lindo desse beijo nos sacramentos da ordem por exemplo quando o sacerdote é ungido pelas as mãos do bispo, logo em seguida o próprio bispo vai dar o beijo na mão do sacerdote e depois os outros padres beijam a mão do sacerdote porque querem estar em profunda comunhão com o mistério celebrado. Então o beijo na sagrada liturgia tem esse significado de comunhão. Hoje iremos beijar a cruz de Jesus com esse profundo conhecimento e desejo de estar em comunhão com sua paixão por nós, o beijo que também pode revelar outras coisas como a traição e a infidelidade. Judas traiu nosso Senhor com um beijo, nas sagradas escrituras quando se fala do filho que volta e o pai o cobri de beijos, um sinal de comunhão, de acolhimento, de ternura, de desejo profundo de estar junto, mas o beijo de Judas não tinha isso, era um beijo de traição, de divisão, que revela ali outros tipos de sentimentos e a gente tem que pedir muito a Deus para as famílias que aqui estão, os namorados, os casais e a cada um de nós, a graça de podermos compreender o valor do beijo.
Ao beijar hoje Jesus na cruz pedimos ao Senhor que nos dê a graça da pureza do coração, de compreender que o beijo para nós e para a Igreja é esse sentimento de profunda comunhão, do desejo de dar a vida para o outro. E não de usar o outro como Judas fez, beijou Jesus naquele momento para o beneficio simplesmente próprio, de ganância, de um prazer de tantas outras realidades pedimos ao Senhor a graça do valor do ósculo santo. Era assim que se chamava o beijo na época dos apóstolos o ósculo sagrado e santo que gera a comunhão. Como é bom a gente receber um beijo de alguém que tem comunhão conosco, não só no corpo, mas na vida. É esse beijo que cantamos “beijo a Tua paixão, beijo tua cruz, beijo teus cravos, beijo Tua ferida eu te beijo Senhor, beijo a lança que abriu a fonte do amor esponsal, beijos tuas vestes, beijo teu santo sepulcro, beijo a tua vida” é esse o beijo que vamos dar em Jesus hoje à tarde.
Esse ósculo que nos santifica.
A terceira palavra à ferida, aquela do lado aberto de Jesus, ele revelava uma ferida interior que trazia no coração que não foi curada, nem sarada e continua aberta. Me lembro no ano de 2004 estava vivendo um momento como este da semana santa eu tinha uma ferida no meu coração, estava com muita vontade que a Páscoa chegasse para que essa ferida fosse sarada. Mas quando chegou o domingo de Páscoa a ferida continuou ali e quando eu olhei para imagem de Jesus ressuscitado eu percebi que as Dele continuava, tava ali as cinco chagas de Jesus continuava ali, e foi naquele momento que comecei a compreender o que significava as cincos chagas de Jesus. O que revelava para mim naquele tempo e ainda hoje. Quantas vezes a gente já levou um arranhão, um corte profundo e que ficou marca? Tem marcas que ficam no nosso corpo que não passa, ou tem marcas que também ficam na nossa alma que não passa. As nossas feridas deverão jorrar para a humanidade, como o jorrar do lado aberto de Jesus a misericórdia de Deus. Deverão jorrar para o mundo a purificação para a humanidade esse sinal. Quantas marcas nós trazemos? Quantas dores nós trazemos na alma? E que são vivas! São Francisco de Assis que lá no Monte Alverne logo depois de celebrar a festa da Exaltação da Santa Cruz, ele subiu ao monte para rezar, se ajoelha e pedi ao Senhor para sentir a dor em seu coração, e não somente a dor, mas o amor que o Senhor sentiu ao doar a sua vida pela a humanidade.
Olha o que São Francisco pedia ao nosso Senhor? Em quantas vezes nós fugimos da dor, os grandes santos da vida da Igreja desejavam conformados viver as coisas boas de Jesus, como serem pacientes, misericordiosos, bondosos e amorosos mas desejavam configurar suas vidas a Jesus nos momentos mais difíceis na dor. Como São Paulo dizia: “Eu sinto na minha carne e já não sou eu que vivo mais é Cristo que vive em mim” falava isso nos momentos mais difíceis de sua vida. Hoje devemos olhar para as nossas feridas e lembrar se elas existem dentro de nós não é por acaso. Os pecados que cometeram contra nós, as feridas que realizavam contra nós, os pecados que as vezes comentemos contra alguém de algum modo pela paixão de Jesus, as feridas ocasionadas por essas dores elas servirão de salvação para a humanidade.
Elas serão utilizadas no mistério da paixão de Jesus para a salvação da humanidade. Porque Deus agiu com misericórdia para conosco e não nos deixou a mercê de nossas dores e dos sofrimentos e trouxe para nós esse sentimento profundo por meio das suas chagas. São João nos fala que devemos olhar para aquele que foi traspassado, e a Igreja nos convidam hoje e não devemos nos esquecer dessa ferida do lado aberto de Jesus e todo o seu corpo, elas se tornam para nós essas chagas de cura para a humanidade.
Devemos unir as nossas dores ao lado aberto de Jesus. Cada um de nós temos as nossas feridas a minha se chamava “a falta de perdão” não sei qual é tamanho da sua ferida, quando a gente não consegue perdoar isso traz uma ferida no nosso coração, essa era o nome da minha ferida em 2004. A falta de perdão e como doía no meu coração! E como dói no coração do outro essa ferida. Hoje essa ferida que se chamava falta de perdão, pelas as chagas de Jesus se transformaram em amor. Se transformaram em feridas de amor. Já fazem 10 anos e valeu apena olhar para essa ferida, não reprimi-la, não abandonar os cuidados que eu deveria ter, não colocar outras opções e fazemos de conta que elas não existem, e foi preciso esse tempo para que ela fosse curada. As chagas de Jesus me ensinaram a amar e o valor do perdão. Existem feridas na alma para nos amadurecer e não para destruímos. E essa ferida nos levará também a vivermos a Ressurreição de Jesus e contemplar uma vida nova.