Não me lembro de um único dia em que rejeitei a possibilidade do celibato em minha vida. Digo isto porque ainda é possível encontrar aquele jovem que tem um certo medo do chamado ao celibato em sua vida. Como dizia São João Paulo segundo: “O medo tem matado muitas vocações”.
Confira também | Especial Celibato Shalom
Quando ainda era postulante, eu admirava os irmãos celibatários que Deus colocava na minha vida. A vivência do amor a Jesus Cristo pelo outro que esses irmãos viviam, me ajudava a enxergar mais de perto esse chamado. Mesmo sem entender de como se dava esse processo, meu coração ardia todas as vezes que ouvia minha formadora comunitária falar sobre os estados de vida, principalmente ao celibato. Sempre achei belo e admirava os irmãos que iniciavam as caminhadas, noivados e matrimônio.
Um toque diferente da condução divina
Sou músico e meu trabalho é testemunhar e celebrar o amor por meio das cerimônias que quase semanalmente frequento. Um dia me peguei a questionar o porquê diante dessa beleza do matrimônio meu coração não se enchia de esperanças de que um dia seria eu ali no altar.
A verdade é que nem sabia que o Senhor iria me conduzir por outro caminho. Nunca via o celibato como uma rota de fuga dos compromissos matrimoniais. Nas reciclagens, sempre que algum irmão proclamava sobre o chamado ao celibato, eu dizia: Senhor, se for para mim, se o Senhor quiser, eu quero.
Um fato engraçado é que quando ia partilhar com meus irmãos sobre esse movimento em meu coração eles diziam: calma, Pedro! Em breve é possível que encontres uma Maria e aí sim, se colocará nesse movimento de escuta e, se for vontade de Deus, Ele te mostrará. Alguns irmãos de célula diziam que me via casado e com muitos filhos (de fato Deus me deu esses muitos filhos, não no matrimônio, mas na doação total por aqueles que Ele se entregou).
Nunca duvidei de que Deus pudesse falar através das pessoas, mas esse processo exigiu escuta, recolhimento, silêncio, oração. Acredito ser um risco discernir um estado de vida simplesmente atraído por sua beleza, pois todos são belos. Lembro que em um determinado tempo parei de rezar sobre o estado de vida, foi então que as vozes exteriores ofuscaram a vontade de Deus no meu coração.
Meu coração sempre foi inteiro do Senhor
Quanto mais rezava sobre meu estado de vida, mais meu coração ficava em paz. Uma vez na formação pessoal, meu formador dizia que eu não me prendesse por viver uma experiência se caso surgisse alguém. E a ‘Maria’ que falava meus amigos tanto falavam, chegou, mas meu coração não se sentia inteiro, completo. O Senhor queria meu coração por inteiro e indiviso.
Em 2017 assumi a missão de ser coordenador de centro de evangelização, ali começou a brotar em meu coração a paternidade espiritual que é própria de um coração celibatário. E o desejo de evangelizar e estar com os jovens era gritante. Comecei a perceber os sinais que tanto pedia a Deus. Ainda naquele ano, o Senhor nos falava na Revista Escuta sobre o celibato como remédio para a Comunidade Shalom.
Sou parte da geração dos enamorados
Nos falava nosso fundador, Moysés Azevedo, sobre uma geração de jovens enamorados vivendo a radicalidade e a intensidade do celibato na Comunidade. No ano de 2018, quando estava no discipulado, em uma formação pessoal cheguei para o meu formador e disse que queria viver um ano como celibato formativo e assim ele me orientou a viver. Fui para a reciclagem naquele ano, era sobre Santa Teresinha do Menino Jesus que tinha como tema: “ meu Deus pra te amar só tenho hoje.” Eu nem sabia o que me esperava nessa reciclagem. Chegando lá, encontrei uma irmã de célula que já estava participando da reciclagem. Após a missa ela me disse: “Às pregações estão belas, você vai gostar das pregações sobre os estados de vida, principalmente sobre o matrimônio.”
Começava ali, a reciclagem que dava total sentido ao meu chamado no celibato pelo Reino dos céus. Minha irmã de célula tinha razão, a pregação sobre o matrimônio estava muito forte e bela. Mas, ainda faltava algo, esse algo veio quando nossa irmã de comunidade, Gabriella Dias, pregava e dava seu testemunho com o celibato. Lembro claramente desse dia.
Ainda na reciclagem, em uma adoração comunitária, estava servindo na música e uma pessoa proclamou que o Senhor tirava toda dúvida e medo sobre o celibato na vida de um jovem. Tomei aquela proclamação para mim como se estivesse somente o Senhor e eu naquela adoração. De repente, uma irmã do ministério cantou a música “teu doce amor” de Marjorie Montenegro. Eu não conhecia essa canção, mas, lembro como se fosse hoje a parte da canção que dizia: “para que livre de tudo e de todos eu possa ser só tua meu esposo”. Voltei daquela reciclagem com o intenso desejo de contar tudo para meus formadores.
Eu não tinha nenhuma dúvida do meu chamado, meu estado de vida, eu sou celibatário. Passei mais um ano no celibato formativo até fazer minhas primeiras promessas no Carisma. No ano seguinte, já consagrado, meu coração ardia de ansioso pelo retiro que na época se chamava: “retiro de candidatos ao celibato pelo reino do céu.” Porém, quando ia trilhar o processo de discernimento que dura em média um ano, saíram os discernimentos da Comunidade e minha formadora comunitária deixou nossa célula. Claro que isso me deixou triste. O Senhor já tinha falado, foi proclamado, era exatamente isso!
Na incerteza, Deus se fez certeiro
Lembrei de uma jovem que era minha ovelha do grupo de oração, ela dizia que quando era vontade de Deus o tempo não importava. Veio outra formadora comunitária e por pura providência Divina, era celibatária. Eu pensei, é um sinal de Deus. Começamos novamente a trilhar o processo de discernimento. Foi um verdadeiro auxílio de Deus nesse tempo, porém, depois de um certo tempo ela precisou se ausentar. Meu coração sofria um pouquinho só de pensar em ter que começar todo o processo novamente. Renovei minhas promessas pela segunda vez no Carisma.
Daí, fui acompanhado por um novo formador, mas, para minha surpresa, minha formadora havia lhe passado o processo da minha caminhada, demos continuidade. Não sabia que esperar doía tanto, mas depois conversando com meus irmãos que dividia apartamento comigo, um noivo e o outro namorando, eles diziam que fazia parte do processo. Esperar até doía, mas era uma virtude e que Deus não se deixava tardar no seu tempo.
Renovei minhas promessas novamente e felizmente fiz meus primeiros votos de castidade no celibato pelo reino dos céus. Agora sim, Pedro Lima, Shalom, consagrado como Comunidade de Aliança, celibatário. Meu estado de vida foi como aquela última peça do quebra cabeças que faltava para me completar. Além dos muitos jovens que o Senhor me deu quando ainda era acompanhador vocacional, hoje, como formador comunitário, o Senhor me dá a grande graça de amar e exercer essa paternidade na comunidade.
Uma vez me questionaram como era possível viver um estado de vida tão “solitário”. Diria que o momento predileto do celibatário é a solidão junto a Cristo. Amando como Ele ama, no consolo da cruz, adiantando já aqui nesta terra o que todos um dia seremos; uma legião de celibatários contemplando a face do Esposo de nossas almas. Enquanto isso seguimos no desejo de viver um amor exclusivo e um coração indiviso, amando a Deus e entregando-se a Ele, amando com uma caridade universal, sincera amando o Esposo em todos os que o Esposo ama!
Pedro Lima
Consagrado Comunidade Aliança
Missão Fortaleza
Sou testemunha da grande obra de Deus, na vida do Pedro.