Ao abrirmos o evangelho de São João, já nos primeiros versículos, nos deparamos com o texto de que Jesus “veio para os seus, mas estes não o acolheram, porém, aos que o acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,11-12). No templo de Jerusalém, Simeão disse a Maria, sua mãe, que ele seria alvo de contradição (Lc 2,34). Os fariseus e os mestres da Lei criticavam Jesus: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15, 2). Condenado à morte num processo injusto, ressuscitou como havia afirmado várias vezes (Lc 9,22; Lc 9,44; Lc 18,32; Jo 10,18). Ao longo dos tempos, passando pelos vários períodos históricos e até em nossos dias, ele continua sendo amado e odiado.
É incontável o número de pessoas que derramaram o seu sangue no martírio e que ainda hoje, por causa dele, dedicam exclusivamente a sua vida ao próximo. Tomemos como exemplo recente a Madre Teresa de Calcutá, que afirmava: “Nunca esqueçamos que no serviço dos pobres temos uma oportunidade de fazer algo de belo para Deus. Porque, ao dedicarmo-nos plenamente ao livre serviço dos pobres, damo-nos realmente a Cristo em sua aparência dolorosa, segundo ele mesmo disse: Foi a mim que o fizestes” (Mt 26,40).
É imenso o grupo das pessoas que não querem aceitá-lo como imagem de Unigênito do Pai, Filho de Deus e até negam a sua ressurreição, afirmando que era apenas um homem. Muitos tentaram, em vão, negar a sua existência histórica. Em nossos dias encontramos obras e mais obras que querem ignorar sua divindade, reduzindo-o a um simples ser humano. Exemplifiquemos com o livro e filme “Código da Vinci”, de Dan Brown, e com o documentário “O sepulcro esquecido de Jesus”, realizado pelos cineastas James Cameron e Simcha Jacobovici.
São muitas as inverdades da obra de ficção de Dan Brow no “Código da Vinci”. Citemos, a título de exemplificação, as referências errôneas às obras de Leonardo da Vinci, as pretensas “provas” científicas por ele aduzidas, os graves erros a respeito dos personagens históricos e na descrição dos lugares onde situa o seu romance, as grafias extremamente duvidosas em que se apóiam os símbolos por ele usados. Afirma o José Fernandes de Oliveira (Pe. Zezinho): “O escritor Dan Brown lança suspeitas, não prova e não se explica. Afinal, ele não veio para isso. É um escritor que pesca diamantes em águas turvas. Suja a água e espera que as pessoas venham procurar com ele as verdades escondidas naquelas águas turvas. O ingresso é o preço do seu livro. Eles ficam com as discussões e as dúvidas e o jovem Mister Brown com o lucro”. Concluímos, sem medo de errar, que se trata de uma obra de ficção, sem base em fatos e até propositalmente mentirosa.
Não só é rejeitado pela arqueologia, mas também pela história o documentário “O sepulcro esquecido de Jesus”, que se refere a uma tumba que poderia abrigar os restos de Jesus e sua família. Trata-se de sepulturas descobertas em 1980 em Talpiot, um bairro de Jerusalém. Há inscrições com os nomes de Jesus, Maria, Mateus, José, Judas e Mariamne (segundo o documentário Maria Madalena). Para Bruno Forte, presidente da Comissão da Doutrina da Fé da Conferência Episcopal Italiana, “túmulos como esses existem em grande número no território da Terra Santa e, portanto, não há nada novo nesta revelação”.
O arqueólogo israelense Amos Kloner, que supervisionou as escavações em 1980, afirmou ao jornal Yediot Aharonot que “é uma ótima história para filme, mas é impossível. É bobagem… Jesus e seus parentes eram de uma família da Galiléia, sem laços com Jerusalém. A tumba de Talpiot pertencia a uma família de classe média do século primeiro antes de Cristo”. O arqueólogo disse que a semelhança dos nomes é mera coincidência, já que os nomes em questão eram os mais comuns entre judeus na época. Kloner afirmou também que, das 900 tumbas encontradas num espaço de 4 kms. na Cidade Velha de Jerusalém no início dos anos 80, pelo menos 71 continham o nome Jesus. “Jesus, filho de José” também foi achado em outras ocasiões. Stephen Pfann, um especialista em assuntos bíblicos da Universidade da Terra Santa, em Jerusalém, considerou a tese do documentário frágil. “Não acredito que os cristãos vão comprar essa versão”, mas os céticos, em geral, vão gostar de ver algo que questiona uma história considerada verdadeira por tantas pessoas.”
Pessoalmente, após ter visto o documentário várias vezes, considero-o extremamente falho nas conclusões que são maiores do que as premissas. A encenação dos pretensos fatos é tendenciosa. Causa estranheza que um jornalista/cineasta realize ações próprias de um arqueólogo. Não há sustentabilidade para as teses apresentadas. Por outro lado, as evidências arqueológicas, históricas e religiosas atestam que Cristo foi enterrado na Igreja do Santo Sepulcro.
O documentário lança a tese de que se Jesus foi sepultado lá com sua família, então a ressurreição não seria mais que uma invenção de seus discípulos. Sabemos que os discípulos que abandonaram Jesus no momento de sua prisão e morte tornaram-se testemunhas valorosas, a ponto de sacrificar sua própria vida, após o domingo da Páscoa. Algo aconteceu com os discípulos e não foi iniciativa deles, mas do próprio Jesus que está vivo (At 1, 3).
Ressuscitando Jesus confirma o que havia dito a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11, 25). Nunca é demais repetir: Jesus ressuscitou!. A ressurreição de Jesus é um fato, é o acontecimento central que justifica e sustenta nossa fé nele e em nossa própria ressurreição. Alegremos-nos, pois, no Senhor Ressuscitado, nossa esperança e nossa glória.
Dom Francisco Carlos Bach
Bispo de Toledo (PR)
Fonte: CNBB