Jesus, o Mestre divino, mostrou como o mundo não é capaz de receber o Espírito da Verdade e deu o motivo: “porque não o vê nem o conhece” (Jo 14,17). O seguidor de Cristo, contudo, O conhece e eis a razão: ele permanece junto dos seus epígonos e está dentro deles.
É esta realidade magnífica que precisa sempre e em toda parte ser vivida intensamente pelos batizados. Perceber a presença do Divino Espírito Santo e, muitas vezes, estar em tertúlia com Ele que habita no íntimo de cada um. Esta idéia da presença de Deus é vital no Antigo e no Novo Testamento. No Gênesis Deus está no Jardim do Éden e no último livro, o Apocalipse, se lê, de novo, Deus vindo para morar com a humanidade. Esta realidade perpassa todo o Livro Sagrado.
O povo de Deus era o povo da presença do Altíssimo, na tenda no deserto e, depois, mais tarde, no templo de Jerusalém. É em torno deste fato que o Livro do Êxodo está estruturado. Moisés encontra-se com Javé no Monte Sinai e recebe os Mandamentos. Anos depois Salomão construiu o templo no qual a glória do Senhor resplandeceu (1Reis 8,11).
No Novo Testamento São Paulo decodificou magnificamente esta doutrina e mostrou que Deus estava presente nos cristãos e empregou imagens do templo para descrever esta realidade. Assim asseverou aos Coríntios: “Vós não sabeis que sois o templo de Deus que o Espírito de Deus vive em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, porque o templo de Deus é sagrado e vós sois este templo” (1 Cor 3,16-17).
Isto significa que, vivendo no cristão, o Espírito da Verdade o transforma não exteriormente, mas interiormente, levando-o a uma experiência mística inefável. O tempo do fiel não é um tempo pobre, mas de uma riqueza espiritual imensa.
Os bens futuros já se acham antecipados e a presença do Espírito permite compreender profundamente a Cristo, único caminho para o Pai.
Diante da hostilidade do mundo os seguidores de Jesus estão expostos à dúvida, ao escândalo e ao desânimo. O Espírito, contudo, os ajuda e lhes explica sua condição feliz, afortunada, de estar sempre com Jesus.
Espírito da Verdade, ele mostra aos seguidores de Cristo o erro do mundo, sua vaidade, sua inconsistência, dando perseverança na recusa do que é passageiro, ilusório.
Oferece, então, a fortaleza para que tudo isto se realize na existência de cada um. Isto é da mais alta importância para a espiritualização do cristão. Não basta receber Hóspede tão sublime, se uma vontade robusta não leva às últimas conseqüências tão benéfica presença.
A fortaleza está a serviço da verdade, do direito, da submissão às inspirações divinas. De muita coragem precisa o batizado para viver em função do Espírito da Verdade, sendo santo e imaculado na sua presença. Sob suas luzes é vencida a pusilanimidade para caminhar na grande via da santidade.
Este Espírito quer almas voltadas para o alto, vigorosas, que não hesitam diante do bem. Corações magnânimos que marcham resolutamente para a vida eterna. Isto supõe o cumprimento ininterrupto do dever de uma forma austera e com a máxima regularidade, sem tergiversações, longe, portanto, das negligências, das infidelidades.
Adite-se que o Espírito da Verdade leva então à paciência e à perseverança nas tribulações. Estas procedem das fraquezas humanas, das doenças, das incompreensões alheias. O ser pensante é contingente, limitado.
É preciso então coragem para suportar tudo com um autodomínio absoluto que leva à imperturbabilidade, à serenidade. O Divino Espírito Santo dá esta fortaleza no batismo com a graça santificante, fortaleza acrescida, ainda mais, com a recepção do sacramento da crisma e com os muitos auxílios a cada instante, impedindo todo tipo de vacilação.
O Espírito da Verdade garante a vitória contra as forças do mal, gerando uma confiança absoluta no poder do Deus que mora lá no fundo do coração de cada um. O cristão, assim avigorado, pode repetir sempre com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que me fortifica” (Fil 4,13). Quem vive em função do Espírito da Verdade constrói em si o homem interior, pois Ele conduz a uma espiritualidade profunda.
Cumpre, entretanto, maleabilidade, pois o Espírito Santo é um artista divino que realiza uma obra prima, desde que não se coloquem óbices e se seja dócil, flexível, à sua ação. * Professor no Seminário de Mariana – MG
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho