A “apostolicidade” daIgreja é a propriedade que conserva através dos tempos a identidade dosensinamentos de Jesus recebido pelos apóstolos.
Ao rezarmos o símbolo niceno-constantinopolitano(325-381), encontramos no seu artigo sobre a Igreja os termos: Una, Santa,Católica e Apostólica. Esses termos designam as propriedades essenciais daIgreja, que fundamentam a realidade da sua natureza e missão. Estaspropriedades dão a conhecer a essência da Igreja e revelam a relação íntima quemantêm com o mistério de Cristo, que se reflete na Igreja pelo fato de ser elasua esposa (cf.Ef 5).
De forma particular, neste artigo iremos nosdeter à “apostolicidade” da Igreja. A “apostolicidade” é a propriedade queconserva através dos tempos a identidade dos ensinamentos de Jesus recebidopelos apóstolos. O Catecismo da Igreja Católica (857) irá nos dizer que aIgreja é apostólica por ser fundada sobre os apóstolos, e isto em um tríplicesentido:
– Foi e continua a ser construída sobre o“alicerce dos apóstolos” (Ef 2,20), testemunhas escolhidas e enviadas em missãopelo próprio Cristo;
– Guarda e transmite, com a ajuda do EspíritoSanto que nela habita, o ensinamento, o depósito precioso, as salutarespalavras ouvidas da boca dos apóstolos;
– Continua a ser ensinada,santificada e dirigida pelos apóstolos até a volta de Cristo, graças àquelesque lhes sucedem na missão pastoral: o colégio dosbispos, “assistido pelos presbíteros em união com o sucessor de Pedro,pastor supremo da Igreja”.
A Missão dos Doze
Jesus, o Verboencarnado, recebeu do Pai a missão de reconciliar a humanidade consigo, e para issoé que Ele foi enviado. Assim, Jesus é, por excelência, o “Apóstolo” do Pai. Aochamar aqueles que Ele quis para estarem com Ele (Mc 3,13-14), Jesus fazparticipar da sua missão o grupo dos doze e os envia aos confins da terra como“apóstolos” (termo grego que significa “enviados”).
Os doze sãoenviados sob o mandato missionário do Senhor, que os acompanha com uma graçaparticular para o bom desempenho da missão apostólica. Para anunciar etransmitir a Palavra de Deus, o próprio Espírito Santo, por meio do chamado deJesus, faz desses simples homens “servidores de Cristo e administradores dosmistérios de Deus” (1Cor 4,1), tornando-os qualificados para proclamar a Boa-nova,sobretudo pelo fato de serem testemunhas oculares da Ressurreição do Senhor.
A condição deserem testemunhas oculares faz do ensinamento dos doze e, por conseguinte, dapropriedade “apostólica” um termo também utilizado em sentido moral, conformeos apóstolos, para salvaguardar a sã doutrina, sobretudo nos primeiros tempos.Diante dos constantes ataques dos hereges, os padres da Igreja motivavam abuscar a verdadeira doutrina no ensinamento apostólico, transmitido aos bispospor meio da sucessão apostólica, Conforme nos mostra Santo Irineu:
“Portanto, atradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode serdescoberta e toda igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamosenumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos eseus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que separecesse com o que essa gente [os hereges] vai delirando. […] Com efeito,deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem maisexcelente, toda a Igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nelasempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos”(Contra as Heresias, III, 3,1-2, Santo Irineu Bispo de Lião).
A sucessão apostólica
Para que a missão,confiada aos apóstolos, de ensinar, santificar e governar atingisse os confinsda terra, seria necessário que este encargo fosse transmitido. Sob a inspiraçãodo Espírito Santo, a Igreja transmite a homens íntegros o múnus dos apóstolos, perpetuando, através do tempo e do espaço omandato de Jesus. Sobre isso, fala o Catecismo, citando a constituiçãodogmática Lumen Gentiun (20): “Domesmo modo que o encargo confiado pelo Senhor singularmente a Pedro, o primeirodos apóstolos e destinado a ser transmitido aos seus sucessores, é um múnus permanente, assim também épermanente o múnus confiado aos apóstolosde serem pastores da Igreja, múnuscuja perenidade a ordem sagrada dos bispos deve garantir”. Por isso, a Igrejaensina que, ‘em virtude da sua instituição divina’, os bispos sucedem aos apóstoloscomo pastores da Igreja, de modo que quem os ouve, ouve a Cristo e quem osdespreza, despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo”.
O apostolado
Sob o impulsomissionário, do qual Jesus é a fonte e a origem, a Igreja é enviada em missãopara todo o gênero humano. Para isso, primeiramente o Senhor enviou os doze, eapós estes, todos aqueles que, por meio da sucessão apostólica, foram enviadospara servir a messe e apascentar o rebanho do Senhor como epíscopos. Aos apóstolose seus sucessores, confiou Cristo a missão de ensinar, santificar e governar emseu nome e com o seu poder. Contudo, a Igreja, juntamente com todos os seusmembros, participa deste envio que corresponde a uma única missão, porém, pormeio de vários ministérios.
Por fazer parte doCorpo místico de Cristo, os leigos também participam da missão da Igrejarealizando as funções de sacerdotes, profetas e reis por meio do batismo. Omistério da “apostolicidade” da Igreja se confunde com seu caráter missionário.Esta, por sua vez, é sempre inserida na dinâmica de anunciar a Boa-nova aospovos: “nos foi dada esta graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza deCristo” (Ef.3,8).
No sentido doapostolado, a Igreja permanece sob o influxo do Espírito Santo, pois é Ele o protagonistade toda a missão, é Ele que sustenta a Igreja em todos os tempos. Ao longo dosséculos, a Igreja permaneceu fiel à sua missão por meio de várias atividadesapostólicas, desempenhadas em favor dos homens. Porém, não se pode esquecer queé da vida sacramental que vem toda a força da atividade apostólica, como nosensina o decreto Apostolicam actuisitatem(n. 3): “Pelos sacramentos, especialmente pela Eucaristia, comungam e sãoalimentados pelo amor que é a alma de todo apostolado”. (AA 3)
A apostolicidade é,para a Igreja, a garantia de fidelidade às origens, às fontes dos ensinamentosde Jesus, dados aos apóstolos e transmitidos aos bispos, seus sucessores até ostempos de hoje. Não se pode esquecer que a dimensão apostólica da Igreja édesempenhada, sobretudo, por meio da caridade e solicitude pastoral do seu apostolado.
Jorge Eduardo
Missionário da Comunidade Católica Shalom
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Bibliografia:
Catecismo da Igreja Católica
FIRULAS:
A Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica.Os termos designam as propriedades essenciais da Igreja, que fundamentam arealidade da sua natureza e missão.
Jesus, o Verboencarnado, recebeu do Pai a missão de reconciliar a humanidade consigo, e paraisso é que Ele foi enviado. Assim, Jesus é, por excelência, o “Apóstolo” doPai.
Para anunciar etransmitir a Palavra de Deus, o próprio Espírito Santo, por meio do chamado deJesus, faz desses simples homens “servidores de Cristo e administradores dosmistérios de Deus”
A apostolicidade é,para a Igreja, a garantia de fidelidade às origens, às fontes dos ensinamentosde Jesus, dados aos apóstolos e transmitidos aos bispos, seus sucessores até ostempos de hoje.