Formação

Quaresma: o que nos ensina a Transfiguração de Cristo

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Transfiguration Disciples - Fra_Angelico - Vandy
Transfiguração (detalhe), Fra Angelico

A liturgia deste segundo domingo vem especialmente no evangelho, mas em toda ela, apresentar-nos Jesus transfigurado.

E o que significa a transfiguração? Por que ele se transfigura diante de seus discípulos? O motivo é óbvio, ele mostra que a cruz é caminho para a glória, e aquela glória que ele está revelando a seus discípulos tem haver com a cruz. A cruz e a glória estão relacionados.

Jesus sempre teve muito trabalho com a catequese de seus discípulos. Ao fazer grandes milagres seus discípulos tinham uma falsa visão de Jesus, pois achavam dele um messias político, que iria libertar politicamente Israel. Quando ele, porém começou a falar de cruz, seus discípulos ficaram desnorteados: “Como assim, ele é filho de Deus, realiza milagres, vai ser entregue?”

E naquele momento, em que Jesus caminhando decididamente para Jerusalém, indo para sofrer o seu martírio, Jesus toma discípulos seus, e se transfigura diante deles. Os discípulos ali tem uma experiência concreta com sua divindade. Sua transfiguração é uma manifestação concreta de sua divindade, sua realeza. É como que um reforço espiritual, para enfrentarem a paixão, para fortalecer a fé de seus discípulos, Jesus revela sua divindade, sua glória.

E enquanto está se revelando, vem a seu encontro Moisés e Elias. Moisés, o grande legislador de Israel, aquele por quem Deus havia dado a lei, e Elias, o grande profeta do antigo testamento. Ali estavam, segundo as escrituras apresentados a lei e os profetas. Pois Jesus é o pleno cumprimento da lei, o pleno cumprimento das profecias, é a própria Palavra de Deus encarnada.

Pedro, em seu ímpeto, então vem a participar da cena. Ele que passara por tantas situações em que foi reprovado, viria a ser corrigido de novo. E ele que tantas vezes tenta dizer a Jesus o que fazer, quer passar a frente do Senhor mais uma vez e novamente vem a fazê-lo. Chega e diz que é bom estarem ali, e sugere a fazer três tendas. Por que Pedro quer ficar por ali? Diante de tal glória, diante de tal beleza, e de toda a referência de Moises e Elias a Jesus, Pedro achou “nós chegamos a plenitude”. O que Pedro e seus discípulos haviam caminhado e aguardado todo este tempo se manifestava ali, esta glória. Pedro novamente não compreende, e assim tenta tomar as rédeas da situação.

Quando Pedro tem este ímpeto, neste momento ouvem uma voz, “este é meu filho amado, em quem pus meu agrado”. Nesta primeira parte se revela a divindade de Cristo. E vem a segunda parte em que se diz praticamente uma única palavra: “escutai-o”. Para todos e para Pedro, ensinava-se algo como: não diga a Jesus o que deve fazer, escutai-o.

O que isto significa para nossa vida, este “escutai-o”. A grande sabedoria da vocação cristã consiste em se pôr como ouvinte da palavra de Deus. Nós somos ouvintes da palavra de Deus. A grande sabedoria messiânica para nós é sermos ouvintes, e como assim ouvintes? No sentido de colher o que a Palavra, o que Deus, nos fala. Não somos nós a dizer o que Deus deve fazer, nós somos os ouvintes da palavra. E a palavra se encarnou em Jesus Cristo, nós somos os ouvintes de Jesus Cristo.

Na nossa oração nós vivemos a vocação de sermos ouvintes da palavra, deixarmos de passar o tempo todo querendo dizer ao Senhor o que ele deve fazer. O Senhor não poupou Pedro, o primeiro papa, de sérias reprovações, e porque foram tantas? Porque tantas vezes se quis dizer o que Deus fizesse.

Por que oramos? Para escutar a Deus, para saber sua vontade, para aplicar sua vontade em nossa vida, é ele o senhor, ele tem a primazia. E a nossa vida de Deus deve ser fundamentada na Palavra de Deus. Nós oramos a partir da palavra de Deus.

Na leitura da vocação de Abraão em Gêneses, ele aparece como alguém que ouviu a voz de Deus e a cumpriu imediatamente, sem restrições. Ele da cidade de hur, vivendo entre sua parentela, quando jovem, vem a ele a voz de Deus e diz: vai embora, eu farei de ti uma grande nação. E imediatamente se põe a caminho. Ele escuta, acolhe, obedece imediatamente a vontade de Deus. Em Abraão temos alguém que cumpre imediatamente e sem restrições a vontade de Deus.

Na segunda carta a Timóteo, a palavra de Deus é novamente apresentada, e aqui como algo que nos protege e que nos dá vida.

Como entender a liturgia de hoje, primeiro, escutai a Deus. Como cristãos, somos ouvintes da palavra de Deus. Nesta quaresma nós precisamos escutar a palavra de Deus. Segundo, prontidão de nossa resposta. Abraão não temeu em renunciar a sua parentela, a sua própria terra, e se colocar a caminho seguindo a Palavra. Terceiro, buscarmos a palavra como proteção para nossa vida. A palavra de Deus nos protege do pecado, ela nos leva a vida, e vida em plenitude.

A Palavra é uma pessoa, Jesus Cristo. Escutar, obedecer, buscar nela nossa proteção. Se somos feitos por meio da Palavra, só encontraremos nossa identidade mais profunda na Palavra. E na nossa identidade mais profunda está nossa realização. Que Deus nos abençoe neste caminho.

Formação Shalom 2011


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