1. O homem é um ser religioso (um ser que transcende)
O homem, esse ser limitado por aspirações ilimitadas, é uma pessoa em contínua busca .
Busca de si mesmo – Se tem a coragem de descobrir a própria identidade, percebe imediatamente a necessidade de estender para bem mais alto a sua busca. (O homem tem necessidade de saber que é. Não pode viver, descobre que sentido tem sua vida)
Busca de Deus – O homem não poderá furtar-se a essa busca constante de Deus. Aliás, foi o próprio Criador quem depositou no coração do homem esse desejo e essa constância.
Se realmente buscar Deus, não há dúvida de que o homem o encontrará, porque o próprio Deus irá ao encontro dele…
Dividiremos esse caminho de busca, em três fases:(do homem velho p/ o homem novo)
1a. fase – Desestruturante
2a. fase – Subliminal
3a. fase – Reestruturante
Para se estabelecer um relacionamento com Deus é preciso, antes, estar dispostos a uma ação de desestruturação.
2.1 – Desestruturação:
para depois iniciar de verdade um processo de conversão. (Morte do homem velho).
O que é:
* Quer dizer tirar os fundamentos, fazer uma derrubada radical. ( Mt 9,16-17; Mt 16,24-26; Mt 19,16-22 ).
* Não colocar vinho novo em odre velhos.
* Não teimar em remendas, durante toda a vida, roupa velha e esfarrapada.
* Ter coragem de despojar-se das idéias erradas que temos sobre Deus e sobre o relacionamento com Ele ( tirar todas as ilusões ), para depois iniciar de verdade um processo de conversão.
2.1.1 – As ilusões na Vida Espiritual: despojar-se das idéias erradas que temos sobre Deus e sobre o relacionamento que temos com Ele.
Nesta busca de Deus o homem poderá chamar “deus” o que é ídolo ou poderá iludir-se de estar buscando Deus.
Cada um de nós imagina Deus de uma forma. Todavia, temos certeza de que essa imagem é a verdadeira? Podemos nos enganar também quanto à experiência que desejamos fazer de Deus? É possível enganar-se. Todavia, a Palavra de Deus nos oferece também o modo de sair desse engano.
Jesus respondeu ao escriba que o interrogava acerca do 1o. Mandamento.
Mc 12,30-31 – “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças e amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Para fazer uma experiência autêntica de Deus requer-se o homem total:
A harmonia interior com:
– seu coração
– sua mente unificação do homem todo
– sua vontade
Todas as faculdades humanas devem ser mobilizadas, e no grau máximo.
2.2 – A profundidade da própria experiência: é preciso amar Deus com a “totalidade” do nosso ser, comprometendo nossa mesma vida por Ele.
Estas duas condições estão intimamente interligadas (uma é a causa da outra). Só é possível amar Deus com todo o coração, se também as demais faculdades se dispõem, juntas, a abrir-se para o amor.
Quando há bloqueio em um dos dois movimentos, o outro também fica bloqueado e surgem, então, os enganos” acerca de Deus. (Procura-se aquele Deus que satisfaz o coração ou recompensa a vontade, ou ainda, convence a mente)
Ilusões que podemos ter:
1. A ilusão sentimental
2. A ilusão moral
3. A ilusão intelectual
Ilusão sentimental – (todo coração)
– É típica de quem acredita ser suficiente ou sobremaneira importante para conhecer a Deus, senti-lo interiormente.
– Absolutiza-se o dado sentimental
– Reduz-se o amor a uma emoção agradável.
Conseqüências:
1a. – A experiência com Deus será instável:
– Momentos de grandes entusiasmos com outros de frieza e de descompromisso, com pouca capacidade de reação desta forma.
– A pessoa acredita que reza bem apenas quando experimenta certo gosto, quando experimenta a presença de Deus, por isto será levada a rezar somente quando “tem vontade”.
– Poderá até chegar a confundir as suas sensações com experiências místicas ou quase místicas, e, as vezes, até pretendê-las.
Devemos procurar o Autor das Consolações e não as consolações simplesmente.
Mt 26,41 – Orai e vigiai ( não só quando se gosta )
I Tess 5, 16-17 – Orai sem cessar
– Não suporta os silêncios e as ausências de Deus. Não entende que é bom para ela Deus se ocultar, de vez em quando (Jo 16,7), ou finja que se vai (Lc 24,28), ou ainda, não se deixe encontrar onde ele teima ou sonha querer encontrá-lo (Mt 16,21-23). Não consegue viver tais momentos como tempo favorável de purificação de seu desejo de Deus.
2a. Será uma experiência ilusória:
Mt 7,21 – “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus”.
A vontade e a mente não tomam parte, praticamente, desse monólogo sentimental.
3a. Será uma experiência contraditória:
Porque não só não provoca a conversão da vontade e da mente, como nem mesmo conduz a um verdadeiro e apaixonado amor a Deus (significa envolvimento total).
Amor verdadeiro é infinitamente muito mais de uma simples emoção fugaz e superficial.
Quem ama realmente (coração + mente + vontade) ama para sempre e permanece fiel ( não existem contradições).
Esse amor verdadeiro é sempre crescente, quanto mais se ama a Deus, mas se sente como um dever, como uma coisa natural amar o próximo. ( amor platônico )
Quem ama dependente só dos sentimentos ama pouco a Deus porque este amor é platônico e inconsistente e consequentemente nem terá um grande amor ao próximo. Pouco ama porque se refugia noespiritualismo desencarnado.
Ilude-se que ama a todos mas na realidade não ama a ninguém ou se ama é com interesse por alguma coisa ( ama de forma insistiva, esperando obter afeto ).
Mt 19,20 ( jovem rico ) – O que mais me falta?
Ilusão moral
A vontade é absolutizada. Para se ter uma experiência com Deus basta realizar determinadas coisas, observar um determinado código de comportamento moral, celebrar certos atos de culto, impor-se uma ascese…
Este é um relacionamento invertido homem __________ Deus. O verdadeiro relacionamento é
Deus ___________ homem, o Criador voltado para sua criatura. (É apenas um dom de Deus )
Ninguém alcança Deus pelas suas próprias forças. O homem não pode fazer tudo sozinho. O homem só pode dispor-se a receber Deus com gratidão, com plena consciência dos seus limites e com alegria pelo perdão recebido.
Conseqüências:
1a. Não sabe agradecer, porque acredita que tudo o que possui é fruto de seus esforços e de suas renúncias.
Deseja ser santo para espelhar-se numa imagem positiva de si mesmo e obter salvação.
Faz de sua virtude (verdadeira ou presumida ):
– um ídolo do qual se vangloria (Lc 18,9-17);
– um título merecido para se sentir bem com Deus e superior aos irmãos (auto-justificação e não auto-transcedência);
– observa só a regra (legalista-perfeccionista);
– não se gasta, e mesmo que o faça é apenas para sentir-se um herói ou uma vítima;
– Deus é aquele que premia ou castiga de acordo com rígidos critérios de justiça (humana), bem (Lc 15,11-22; Mt 20,1-16) diferente do Pai amoroso do Filho Pródigo.
2a. É incapaz de reconhecer as próprias limitações (porque se acha muito capaz).
– tenta negá-las, minimizá-las, projetá-las sobre outra pessoa ou até de eliminá-las;
– não sabe descobrir:
– nem seu pecado
– nem a misericórdia gratuita de Deus
– não consegue experimentar a graça de Deus, a paternidade de Deus
– acha absurdo viver a pobreza como ocasião de graça, em que poderia sentir-se amado, remido, perdoado pela ternura infinita do Pai (em 1, 99 justos)
3a. Insiste continuamente e com força cada vez maior, sobre o fato de observar a lei à risca, tornando-se legalista-perfeccionista, o que acarreta:
– ser rígido consigo mesmo e com os outros (externamente), porém não sente nem amor, nem entusiasmo (internamente);
– a sua frieza o torna incapaz de usufruir da vida;
– sua opção vocacional é uma triste rotina, porque não consegue apaixonar-se nem viver uma intimidade profunda com o que tem valor verdadeiro;
– prefere esquivar-se do sentimento e não deixa sua mente se envolver ( julga-se um tipo realista, com os pés no chão);
– celebra os atos de culto sem penetrar no mistério que celebra;
– não permite que sua mente e seu coração se envolvam muito (Mt 15,8);
– seu contato com Deus é superficial, porque honra-o com os lábios, mas seu coração continua “distante” (Mt 15,8);
– não há má vontade, mas só excesso de vontade (voluntarismo);
– só a boa vontade não basta: é muito difícil que alguém possa prosseguir no trabalho espiritual, fazendo apenas porque deve ou quer fazer. Desistirá mais cedo ou mais tarde.
– precisamos dar espaço também para os outros componentes da alma humana.
Ilusão intelectual (Racionalista – todo mente)
Para este tipo de pessoa conhecer a Deus é uma questão da lógica, da razão. Se torna inume da contaminação do sentimento e das imposições da vontade (Deus é reduzido a puro objeto de conhecimento, contido dentro de pobres e humanos esquemas de conhecimento).
Conseqüências negativas:
1a. Não tem sentido da transcendência, e muito menos do mistério (Lc 1,34-38), porque ele reduz tudo ao próprio pensamento e aos próprios projetos. É muito humilhante para ele duvidar e admitir que não entende uma coisa. Por isso, para ele tudo é evidente. No entanto o mistério de Deus supera de muito nossas capacidades de entendimento, com um significado que transcende a mera existência (Lc 1,38). O homem realmente religioso descobre em sua vida uma presença divina, evidente e oculta, envolvida num mistério que supera de muito suas capacidades de conhecimento.
– sabe tudo sobre Deus;
– nunca teve dúvidas de fé;
– está sempre pronto para achar explicações ( ainda que não consiga convencer ninguém, porque tem horror que ficamos diante do inexplicável, de coisas e situações que fogem a nossa lógica. O homem começa a relacionar-se com Deus quando reconhece a própria incapacidade de entender, conserva no coração o que entende e aceita o mistério como Maria (Lc 2,19-51).
2a. Tem dificuldade de adorar e se entregar a Deus, não consegue descobrir Deus no coração e a Ele se entregar.
– quem não adora, não pode conhecer a Deus, nem se deixar amar por Ele;
– não aceita o passado, procura controlar o futuro (Mt 6,25);
– tudo o que tem sabor de incerteza é para ele um problema: gostaria de saber e de entender para poder programar e prever (corre e fica ansioso);
– não tem o sentido do abandono;
– controla muito bem a própria vida e a cerca de uma espessa rede de segurança. Deus é uma certeza teórica que satisfaz a mente, mas que deixa vazio o coração e que pouco exige da vontade.
– a fé desse tipo de pessoa é sincera, forte, mas igualmente mesquinha.