Esta é a vocação do homem: a felicidade plena a partir de uma vida doada no amor. Realizar-se vocacionalmente é viver de amor, é dar sem medida
Vivemos hoje uma realidade bastante contraditória. Por um lado, vemos a volumosa produção de riquezas, as descobertas nas diversas áreas: tecnologia, medicina, astronomia, física…; por outro, vemos um mundo mergulhado em misérias humanas de todo tipo: fome, AIDS, guerra, depressão… Em meio a tudo isso, percebemos um dado interessante: nunca se falou tanto de felicidade e jamais se foi tão triste.
É como se o homem tivesse perdido o fio da meada, estivesse sem rumo, sem sentido para viver, sem ter a que ou a quem consagrar a sua vida, pois tudo é muito fútil e vão. Falta algo ao homem moderno que lhe dê o sentido de plenitude, de felicidade. Ele se vê em um emaranhado de propostas, mas nenhuma lhe dá o sentido cabal de sua vida. Falta ao homem de hoje, tão desbravador, a coragem de voltar-se às questões mais fundamentais da sua existência e desbravar-se a si mesmo à luz de Deus, autor da vida e realizador da plenitude humana.
São João fala que “Deus é amor” (I Jo 4,16). No original grego, ele queria dizer: “Deus é amor-doação”. Aqui, a natureza de Deus começa a se revelar: Ele é aquele que se dá, que se derrama em amor, por isso cria o céu, a terra, toda a natureza e, por fim, numa explosão de doação, cria também o homem, dando a ele todas as coisas criadas para que as submeta e realize-se perfeitamente em sua natureza humana.
Deus cria o homem para que este seja perfeitamente feliz, e lhe dá o sentido perfeito de sua existência. E como faz isso? Criando o homem à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,27). Mas que Deus é esse? É o Deus-amor, o Deus-doação. O homem foi criado à imagem do Deus-amor-doação, e somente nele é capaz de encontrar o sentido pleno de sua vida. Se encontra o caminho do amor-doação, caminha firmemente, a passos largos, no sentido da realização plena de sua humanidade, então começa a ser feliz.
Esta é a vocação do homem: a felicidade plena a partir de uma vida doada no amor. Realizar-se vocacionalmente é viver de amor, é dar sem medida. Foi assim a vida de todos os santos e, até onde se sabe, não se conhece nenhum santo triste, com depressão ou que tenha se lamuriado por ter consagrado toda a sua existência à salvação das almas e ao bem dos homens.
O homem moderno pode se perguntar: “Se Deus é amor e quer o melhor para cada um de nós, por que temos tanto medo de nos entregar a Ele? Se a realização da nossa vocação é a plenitude da nossa felicidade, por que resistimos tanto em dizer o nosso sim a Deus?”
É preciso crer – e viver – que a vontade de Deus é o centro da nossa realização humana e por isso não há motivo para retardar a nossa resposta. Quanto mais largo for o nosso sim e mais rápida for a nossa resposta, mais vamos ganhar, mais felicidade teremos. Se negarmos essas afirmações, estaremos negando também que Deus é amor; estaremos negando as Escrituras e tudo que aprendemos sobre Deus até hoje.
Nessa caminhada, o que Deus nos pede, às vezes, pode nos parecer muito caro, muito pesado. Parece que vai nos custar muito e que não iremos conseguir dar o nosso sim. É preciso entender primeiro que responder a esse chamado é ação da graça e somente alicerçados nesta força, que não é nossa, poderemos dar o nosso sim.
Também é importante perceber que quando temos dificuldades de dizer “sim” a Deus é porque ainda temos muitos apegos e a nossa vida ainda não está centrada nele, mas permanece desequilibrada. Significa que ainda damos um valor demasiado a algo ou a alguém que não é mais importante do que o próprio Deus. Encontrar esse equilíbrio também é ação da graça de Deus; da nossa parte, devemos colaborar sendo dóceis a Ele e nos abrindo à ação do Espírito.
Jesus ensina em Jo 6,44: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair”. Sobre essa passagem, Santo Agostinho ensina que Deus, ao chamar, seduz a pessoa chamada a desejar o mesmo que Ele deseja. A graça vai agindo e fazendo com que o homem abrace a vontade de Deus não apenas com a inteligência e a vontade, mas também com todo o seu afeto. Se há abertura para a graça, todas as potências do homem vão se unindo no sentido de amar o que Deus ama, e então há realização plena.
Querer realizar plenamente a vocação pessoal não pode nem deve ser desejo apenas de Deus. O homem, se usar a inteligência, é capaz de perceber que o que Deus lhe pede é o mais belo, o mais lúcido, o mais reto, o mais justo. A partir de uma experiência de fé é possível compreender o chamado que Deus amor-doação faz por escolha gratuita e, apaixonado por esse Deus, é possível dar uma resposta generosa. Soma-se à fé o coração, e a este a razão, dom de Deus, que nos impele a descobrir os melhores caminhos para a plena auto-realização naquilo que o Senhor, com toda a generosidade do coração, preparou para cada um de nós.
O mundo de hoje nega a existência de Deus e por isso nega-se a dar essa chance para que Ele dê sentido à sua existência. Quanto a nós, apaixonados pela vontade de Deus, desejamos dar pleno cumprimento a ela e ser testemunho de felicidade para um mundo que “espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8,18). Que Maria, mãe do Senhor, que é exemplo de sim generoso, seja nossa intercessora e nos conduza a essa plenitude!
Formação: Julho/2004
“A felicidade é Deus!”, dizem alguns. “Não!” respondem outros, “Deus é a Felicidade!” Qual é, afinal, a afirmação correta? Essas perguntas estão respondidas de forma simples neste livro em que Emmir Nogueira e Carmadélio Souza partilham sua experiência sobre Deus e a felicidade em trinta anos de vida a serviço de Deus e dos irmãos. Consagrados a Maria estas páginas podem, sem dúvida, ser instrumento de Deus para mudar sua vida e a de todos os que a lerem com o coração aberto e sedento da verdade.
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