Lena não conseguiu dormir. Mais uma noite em claro — pensou com tristeza. Até quando? Os últimos dias haviam sido extremamente difíceis. Olhou pela janela. Devia ser por volta das três horas da madrugada. Decidiu se levantar. Ao pular da cama, sentiu um golpe de vento gelado passar por suas costas.
Tremeu. Passou as mãos sobre os braços finos, tentando esquentá-los de algum modo. Lembrou-se de seu amado. Quanto frio teria sentido nas últimas horas de vida? Chorou mais uma vez.
Desejava lavar todo o sofrimento de seu coração com aquelas lágrimas. Era especialista nisso. A vida não tinha sido fácil para ela: medo, solidão, rejeição, fome e, por fim, a prostituição. Porém, aquela perda parecia ter deixado marcas muito mais profundas do que todas as outras. Um chá cairia bem.
Enquanto esquentava água no fogão à lenha, o calor do fogo recordou-lhe o sorriso de seu amado. Quanta ternura! Ele curou seu coração e mudou sua sorte. Deu-lhe um novo nome e resgatou sua dignidade mais profunda: a capacidade de amar e ser amada.
Ela misturou algumas folhas de hortelã à água fervente e sentiu aquele aroma refrescante subir-lhe pelas narinas. Era o chá preferido dele. Enquanto sorvia o líquido em pequenos goles, podia quase ouvir a voz do seu amado: ele sempre ensinava. Era um mestre. Cada palavra que dizia gerava vida.
Foi através dele que voltou a acreditar na humanidade. Aos poucos, a esperança cresceu novamente em seu coração. Ele não a julgou e não permitiu que ninguém mais ousasse condená-la. Simplesmente ofereceu-lhe a mão, erguendo-a do chão. Salvou-lhe a vida.
Naquele dia, caiu como uma prostituta e foi erguida como uma virgem.
Decidiu ir ao seu túmulo. Trocou de roupa e colocou alguns vidros de óleo perfumado em uma bolsa de couro. Seria loucura de sua parte tentar abrir a sepultura para ungir o corpo do seu amado com o bálsamo. Abriu um frasco e sentiu a fragrância de mirra. Aquele aroma forte lembrou-a do dia em que o conheceu. Ofertou-lhe o perfume mais caro que tinha. Não apenas derramou o líquido sobre ele, mas quebrou o vidro de alabastro caríssimo, o que simbolizava que desejava permanecer com ele para sempre.
Pôs-se a caminhar. Levava consigo uma pequena lamparina de óleo para iluminar o caminho. A sepultura ficava a uma hora de distância. Tratava-se de um belo jardim. Haveria local mais apropriado para enterrar o seu amado do que um jardim?
Enquanto seguia com passos apressados, Lena não pensou no que faria quando chegasse à sepultura. De fato, estava evitando pensar muito desde que perdera o seu amado, há três dias. De outra forma, não teria saído de casa àquela hora. Morava em uma região perigosa. Além do frio terrível, havia os lobos e raposas, saqueadores inescrupulosos e mendigos esfomeados. Aquela era a hora mais escura da noite, a que precede o amanhecer.
Andava em sobressalto. A cada instante um novo barulho rompia o silêncio da noite. Quando uma coruja soltou um pio estridente a meio metro de onde estava, sentiu seu coração congelar por alguns segundos. Olhava constantemente para trás, amedrontada pela sensação de estar sendo seguida por alguma coisa ou pessoa.
Todavia, sentia que nada poderia deter-lhe. Precisava ir à sepultura do seu amado.
O medo e a saudade aceleraram ainda mais seus passos. Eram pouco mais de cinco horas da manhã quando chegou ao jardim. O sol ainda não aparecera. Naquela época do ano, demorava mais a nascer. Os soldados que guardavam a entrada do local dormiam. Ela passou furtivamente por eles, temendo acordá-los. Eles poderiam expulsá-la dali ou fazer-lhe coisa pior.
O túmulo estava virado para o nascente. Deu a volta pelo caminho, margeado por lírios brancos com detalhes em dourado. Nunca tinha visto uma quantidade tão grande de lírios desta espécie em um mesmo local. Sentiu vontade de colher alguns para colocar na sepultura, mas não se deteve àquela distração, por mais bela que fosse. Mais alguns passos e chegaria ao seu destino.
Ao chegar, não acreditou no que viu.
Piscou algumas vezes, tentando limpar a visão, pensando ser uma ilusão causada pelo lusco-fusco da madrugada. Aproximou-se mais e constatou que era real. A grande pedra que cerrava a entrada da sepultura havia sido removida. O túmulo estava aberto.
Dentro dele, apenas uma escuridão ainda maior do que a da noite. Estava vazio. Lena chorou.
Não soube dizer por quanto tempo permaneceu ali, imóvel.
Por fim, sentiu que alguém se aproximava por suas costas. Tremeu. Seria um soldado ou um bandido?
Olhou de relance, sem enxergar direito, por causa das lágrimas. Na melhor das hipóteses, poderia ser o jardineiro. Não importava mais. O homem, então, lhe perguntou:
— Mulher, por que está chorando? A quem está procurando?
— Se foi você que retirou o meu amado daqui, onde o colocou? Me diga, e eu irei buscá-lo.
Ele respondeu:
— Maria!
Extasiada, Lena balbuciou:
— Mestre!
Maria Madalena reconheceu imediatamente a voz do amado de sua alma. Bastou uma palavra. Seus olhos, antes fixos na escuridão do túmulo vazio, voltaram-se para ver o Inacreditável resplandecer, como a aurora. Ele estava vivo! Sorrindo, chorando, tremendo, aos pulos, correu ao seu encontro.
Deu-lhe um abraço com gosto de poesia: “Porque os teus amores são mais deliciosos que o vinho, e suave é a fragrância de teus perfumes; o teu nome é como um perfume derramado: por isso, amam-te as jovens. Tuas carícias nos inebriarão mais que o vinho. Quanta razão há em te amar!”
(Cântico dos Cânticos, 1, 1)