Na manhã de hoje (28), aconteceu uma audiência pública no Senado Federal com o objetivo de instruir a Sugestão Legislativa nº15 de 2014, que regula o aborto durante as doze primeiras semanas de gestação, pelo Sistema Único de Saúde. Mais uma vez, o argumento favorável ao aborto legalizado e realizado pelo SUS, ou “interrupção voluntária da gravidez” como está descrito na ementa, é de que seria um avanço na luta pelos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Seria “disso” que a democracia precisa.
Para o argumento de sempre, bastaria a resposta de sempre. Eu poderia ficar aqui expondo a grande contradição que é supostamente defender a vida da mãe e matar o filho, e o tamanho do retrocesso que se força em um estado democrático quando se aprovam leis que ameaçam quem, de fato, não tem como se defender. Ou então apresentar as inúmeras histórias e até pesquisas científicas que atestam a marca negativa que o aborto deixa na alma e na saúde mental de quem o pratica. Poderia, ainda, trazer novamente a discussão sobre os interesses políticos e econômicos que há por trás da legalização, que passam longe de ter como centro a promoção da saúde da mulher.
Diante do testemunho, as palavras podem cessar, e a vida falar por si só. Hoje faz exatamente 54 anos que uma médica italiana, mãe de quatro filhos, mostrava com um último ato o que é reconhecer o verdadeiro valor da vida e gozar do pleno direito da liberdade.
Gianna Beretta Molla era pediatra. Tinha um consultório em Mêsero, em Milão. Casara-se aos 32 anos com o engenheiro Pietro Molla, aos 39 anos já era mãe de Pierluigi, Mariolina e Laura. Equilibrava suas atividades de médica, esposa e mãe com muita alegria. Quem a conheceu disse que sorria sempre e que era muito virtuosa. Era católica, ia sempre à Missa com o marido e os filhos. Dizia algo que talvez seja a chave de leitura para entender muita coisa de sua vida:
“O cristão deve sentir no pobre um irmão, porque sabe que no pobre deve ver a imagem do próprio Jesus Cristo e não deverá esperar que o pobre o procure, mas ele deve ir a seu encontro e, se necessário, procurá-lo”.
O “pobre”, com certeza, é quem não tem bens materiais que o socorram em suas necessidades. Por extensão, para Gianna, era quem tinha necessidade de amparo. No fim de seus dias, deu a vida por alguém verdadeiramente pobre e indefeso. Que coerência! Grávida de sua quarta filha, antes de completar dez semanas descobre um fibroma no útero e recusa a proposta médica de retirar o órgão doente, o que ocasionaria a morte do feto. “A mãe dá a vida pelo filho”, diz, e leva adiante a gravidez, dando à luz à Gianna Emanuela. Acalenta nos braços a filha durante pouco tempo, pois falece exatamente uma semana depois do parto, em um 28 de abril, como hoje. Gianna foi canonizada pelo Papa João Paulo II em 2004, com o título “Mãe de Família”.
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Sem dúvida, existe aí um ponto motivador transcendental: a fé em Jesus Cristo; do cultivo dessa fé brotaram suas ações. Mas podemos começar pela coerência e a retidão. É dessas duas virtudes, de pessoas como Gianna, que a democracia, o país, o mundo precisam. Com um pouco disso, aliado à boa vontade e à abertura ao diálogo, pode-se começar a entender o que é realmente promover não somente os autênticos direitos da mulher (de viver e de dar a vida com dignidade), mas os direitos do ser humano, que não excluem, obviamente, os primeiros mencionados.
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Emanuele Sales