Meu nome é Jéssica, tenho 24 anos e sou postulante da Comunidade de Aliança. Antes de partilhar sobre o que vivenciei, gostaria de render todo o meu louvor e gratidão a Deus por tudo o que Ele realizou em mim através de meus irmãos mais necessitados. Obrigada, Senhor, porque, através da tua Divina Providência, hoje, posso contemplar as maravilhas que Tu realizaste na minha vida por meio dos meus irmãos pobres.
Servi no Projeto Amigo dos Pobres de setembro/2020 até o comecinho de março desse ano. Sempre gostei muito de ações sociais, sempre me sensibilizei demais com as dores da sociedade. Porém, o meu pensamento ainda era muito imaturo a ponto de me sentir A heroína por chegar na casa deles ou numa instituição ou mesmo nas ruas, levar doações de roupas, alimentos, e ir embora, sem ouvi-los, sem conversar, sem rezar. Eu saía das ações pensando que tinha salvado o MUNDO, mas ainda faltava algo. Faltava mais. Faltava demais. Mas eu não fazia ideia do que seria.
Entrei no ministério desse jeito. Passei a participar das ações, das formações, e que grande surpresa eu tive! Achei realmente o que faltava: Deus! Fui sendo moldada nas mãos do oleiro. Aprendi a rezar nos meus irmãos, porque, até então, nunca havia feito isso, aprendi a ouvir mais, já que, muitas vezes, depositava todos os meus problemas nas pessoas e esquecia que elas também tinham os seus, aprendi a me despojar, e esse ponto aqui eu gostaria de enfatizar porque eu tinha um grande apego com as minhas roupas. Havia no meu guarda-roupa roupas nunca usadas, com etiqueta ainda, pois o meu pensamento era “vou guardar porque um dia posso precisar”. E esse dia nunca chegou! Sim, nunca chegou mesmo. Passei a me perguntar “qual o propósito de estocar roupas para não usar?”, “por que reter algo que eu posso dar a quem não tem?”. Passei a me sentir a pessoa mais egoísta do mundo! Então fui juntando sacos e sacos de roupa. Me doía, não vou mentir, mas, quando finalmente doei, fui sentindo uma grande leveza, uma grande paz e ali eu aprendi o quanto eu precisava daquele despojar-se. Bendito seja Deus!
E, aproveitando esse ponto, partilho outro aprendizado que tive com esses filhos tão amados por Deus. Quando eu chegava na praça, parava um pouco para observar toda aquela movimentação. Chegávamos, nos carros, e, desde esse momento, eles já vinham ao nosso encontro para nos ajudar a carregar as coisas. Arrumavam a sua “casa” para nos receber. Improvisavam uma mesa de madeira para colocar o que trazíamos, nos recebiam com amor, com sorrisos, dividiam o pouco que tinham até com os animais que os acompanhavam, com fome. Meu Senhor! Eu olhava tudo isso e pensava o quão miserável eu era, o quanto ainda faltava de mim para os outros. O doar-se, mesmo com o pouco, mas com toda a sinceridade do seu coração, é salvífico!
Uma vez, enquanto ia para uma ação, escutei de uma irmã de ministério muito cara para mim, Jeanne, que ela havia visto Cristo num irmão pobre. E eu escutava a sua partilha maravilhada com cada palavra. Saí dessa conversa querendo ter a mesma experiência. Eu me perguntava “como isso é possível?”. Então passei a pedir ao Senhor que, um dia, se fosse de Sua vontade, que Ele me desse a graça de ter a mesma experiência. Nessa época, eu costumava comprar pacotes de bolacha e colocar a imagem de Jesus Misericordioso na embalagem, amarrada com um laço. Andava com esses pacotes no carro para que pudesse dar a algum necessitado. A bolacha, na verdade, foi a inspiração que Deus ia me dando durante as orações, e a imagem de Jesus Misericordioso representava a minha devoção à Santa Faustina e a Divina Misericórdia.
Então, certo dia, ao sair da missa, entrei no carro e um rapaz que estava vigiando os veículos me pediu alguma ajuda e eu puxei a sacola onde estavam as bolachas e entreguei uma para ele. Falei que era tudo o que eu tinha, mas que era com amor, e ele respondeu que estava realmente com muita fome e era a sua primeira refeição do dia. O rapaz me agradeceu muito e, naquele momento, não sei porque, mas fixei os meus olhos nos seus e, PASMEM, senti um arrepio muito, muito forte, fiquei paralisada naquele olhar. Um olhar que, mesmo sofrido, me abraçava, me acolhia, era um olhar que sorria para mim. Foi uma sensação fora do normal, diferente mesmo, inexplicável. Sobrenatural! Então, sorrimos um para o outro e eu saí dali em choque, repetindo várias vezes “era Ele!”. Fui para casa chorando rios de lágrimas, agradecendo a Deus porque eu O tinha visto naquele simples homem, naquele simples gesto, sem nem precisar trocar muitas palavras. Também me dei conta de que, muitas vezes, não abrimos o coração o suficiente para enxergar a presença de Cristo nas pequenas coisas. Cristo é simples.
Aprendi que não somos nós que salvamos os pobres, são ELES que nos salvam do abismo de nossas misérias. ELES me tiraram do meu comodismo para ser amada. ELES me ensinaram que a Providência de Deus tudo realiza. ELES me ensinaram que o meu pouco pode ser muito para o outro. ELES me ensinaram que precisamos nos doar na mesma intensidade que precisamos estar abertos para receber o que o outro tem para nos doar. ELES me ensinaram a não só fazer caridade, mas SER caridade, e ser caridade é ver Cristo no olhar da pobreza e acolhê-lo, com sinceridade, no calor do nosso coração.
“Se Deus viesse à nossa porta, como seria recebido? Aquele que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento, é um outro Cristo que nos procura” (Santa Dulce dos Pobres).
Jéssica Beckman de Farias
Postulante da Comunidade de Aliança
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Dias: 14 a 17 de Abril
Local: Centro Estadual de Convivência do Idoso – Aparecida
Manaus | AM
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