“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; 2. humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade,* 3. sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça. 4.Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. 5.Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação” (Eclo 2, 1-6).
A metáfora do ouro purificado no fogo para representar o itinerário espiritual daqueles que decidem entrar para o serviço de Deus é verdadeiramente preciosa. A Palavra começa falando de preparar a alma para a provação. De fato, Deus prova aqueles que Ele ama. E não faz isso para levá-los à perda, mas para fazer emergir aquele dado essencial Dele mesmo em nós.
Quem já teve oportunidade de ver de perto o processo da purificação do ouro vai entender bem o que estou falando.
Aquela “prova” é necessária para separar o que é valioso do que é vil. “Tudo o que não é ouro”, ao ter contato com o fogo, rapidamente se entrega, pois a ele não resiste. Na vida do homem, a humilhação age como esse fogo purificador. Logo começam a emergir nossas rebeldias e queixumes, nossos desejos vãos mais escondidos, e a total desvalia de nossas “aparentes” virtudes.
A experiência com a verdade
A humilhação traz ao homem a certeza daquilo que ele é, a experiência com a verdade, e uma apurada consciência dos bens verdadeiramente eternos. A efemeridade de alguns elementos considerados vitais para nós, quando é tornada evidente, dá-nos a sensação de quem estamos a dissolver juntamente com aqueles materiais vis aos quais nos associávamos.
É um doloroso processo de sofrimento que aí se instaura, e fugir dele pode ser catastrófico, ao passo que permanecer naquela “casa em chamas”, mesmo fugindo de toda obviedade, poderá nos conduzir a um verdadeiro alívio, mais perfeito, e a uma verdadeira paz, própria daqueles que perderam uma guerra (cf. Gn 32, 22-32).
A verdade é que Deus quer fazer de nós pessoas cada vez mais capazes de nos consumir neste fogo, na certeza de que a essência divina inscrita em nós não se dissolverá, mas prevalecerá apurada aos moldes do Divino Artista.
Por Diego Macedo
Também cheguei aqui ao pesquisar “ouro acrisolado” de que fala o livro imitação de Cristo, na página 247 da minha versão.
Lindo texto!
Depois que li o trecho da Imitação de Cristo (Cap. XXXII Livro III n° 3) que fala do “ouro acrisolado no fogo”,pesquisei e achei este texto. Ajudou muito na minha reflexão. Deus abençoe.