Em síntese: O sofrimento parece a alguns ser um argumento contra opoder ou a bondade de Deus. A mensagem cristã responde que Deus não é –nem pode ser – o autor de algum mal; mas Ele permite que as criaturas,limitadas como são, cometam males físicos e morais; Ele não quer“policiar” o mundo artificialmente, mas se encarrega de tirar dos malesproduzidos pelas criaturas bens ainda maiores. Isto em vários casos éevidente, pois se verifica que, para muitas pessoas, o sofrimento é umaescola que converte e transfigura. Em outros casos, os frutos positivosdo sofrimento não são tão perceptíveis; não obstante, o cristão temcerteza de que a Providência Divina não falha e um dia ele compreenderáplenamente o plano de Deus, do qual atualmente ele só percebe segmentose facetas.
Mais: a figura do Filho de Deus, que, feito homem, assumiu a dor e amorte a fim de fazê-las passagem para a ressurreição e a glória, é otestemunho mais eloqüente de que o sofrimento não é mera sentença dajustiça ou castigo, mas está intimamente associado ao amor que Deus tempara conosco. Aceito em união com Cristo, o sofrimento vem a ser fontede salvação para o paciente e de expiação dos pecados do mundo.
Um dos temas que mais vêm à tona nos círculos filosóficos ereligiosos de nossos dias, é o do sofrimento. Quanto mais se alastra eintensifica a dor dos homens provocada pela fome, o terrorismo, asguerras…, tanto mais indagam a respeito do sentido do sofrimento.Freqüentemente nasce daí a objeção; se Deus existe, como pode permitirtanta desgraça, especialmente quando afeta pessoas inocentes? Se tantomal acontece, ou Deus não pode ou não quer evitá-lo. No primeiro caso,Ele não é todo-poderoso (então não é Deus); no segundo caso, Ele nãoama seus filhos, pois nenhum pai assiste indiferente ao sofrimento dosseus filhos. Em conseqüência de tais raciocínios, parece lógico amuitos negar a existência do próprio Deus.
Eis por que as páginas subseqüentes serão dedicadas ao estudo de talproblema. Pode-se-lhe apresentar solução?… ou ao menos alguma luz que oesclareça? – Aliás, também o último Sínodo Mundial dos Bispos,encerrado em dezembro de 1985, chamou a atenção para a recrudescênciado mal em nossos dias (tão marcados pela fome e pela ameaça decatástrofes nucleares) e solicitou especial atenção para a Teologia daCruz:
“Percebemos que os sinais dos tempos são, em parte, diferentesdaqueles dos tempos do Concílio, com problemas e angústias ainda maisgraves. Com efeito; assistimos em toda parte ao aumento da fome, daopressão, da injustiça; a guerra domina em vários lugares, com ossofrimentos que ela acarreta, enquanto o terrorismo e a violência, sobmil formas, se manifestam um pouco por toda parte. Isto nos obriga anova e mais profunda reflexão teológica para interpretar esses sinais àluz do Evangelho…
Parece que nas atuais dificuldades Deus nos quer ensinar maisprofundamente o valor, a importância e a centralidade da Cruz de JesusCristo” (D, nº. 1 e 2).
Revista: PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb.
Nº 297 – Ano 1987 – Pág. 61.