Formação

O que diria Teresa de Ávila da clausura de hoje?

Podemos estar em “clausura” e ter o coração  como um aeroporto  ou rodoviária,  de vai e vem.

comshalom

Santa Teresa d Ávila, fundadora das carmelitas descalças e dos carmelitas descalços, coloca em discussão tanto nossa maneira de pensar como de viver. Hoje gostaria de evidenciar um aspecto   do momento atual, onde a Igreja, mãe e mestra,  se encontra  com uma certa dificuldade e que Teresa pode oferecer uma luz e um caminho novo e corajoso: a clausura.  O que nós entendemos quando falamos de monjas de clausura ou de Carmelitas Descalças,  fundadas por Santa Teresa d’Ávila, naquela manhã  quente e esplendida do 14 de agosto de 1562? A fundação de São José foi preparada no silêncio, às escondidas. O povo de Ávila acordou com as badaladas do sino  do pequenino mosteiro e ficou assustado, preocupado por ter que manter economicamente um outro  mosteiro e outras monjas.  Tentou-se todo o possível para fechar o mosteiro, mas não teve jeito. O bispo Dom Álvaro estava de acordo e especialmente Teresa era uma “cabeça dura”, que não desanimava diante de coisas deste tipo.

Quando nós falamos hoje de clausura entendemos monjas contemplativas que decidem separarem-se do mundo, para viver uma maior intimidade com Deus, e que querem abraçar, com a oração, todas as necessidades da Igreja e serem uma presença   viva, atuante, dentro da comunidade, não pelas formas de apostolado, nem pelas obras, mas sim pela oração e uma  intensa vida espiritual. Se fala de clausura papal. Não podem sair a não ser por determinados motivos e normas. E se obrigam a uma vida de sacrifício, de distância do mundo  e etc dos etceteras. Tudo bem. Nada contra isto. Mas  como Teresa soube “administrar tudo isto”,  como ela e suas monjas  souberam viver a clausura naquele tempo? E como deveria ser vivida hoje?

Não é caso de perder-nos em estéreis discussões sobre isto, tanto mais  que eu não sou monja de clausura, mas sim  ver como Teresa   amou intensamente  a clausura como “recanto  de solidão” para estar na escuta de Deus e viver,  como dizia  o seu filho e mestre espiritual João da Cruz, “a solidão sonora e música silenciosa”. Mas ao mesmo tempo o seu zelo  pela missionaridade a levou muitíssima vezes a “sair da clausura” para levar  a presença de Cristo e do Carmelo no coração das cidades. Isto podemos comprová-lo   olhando “o entusiasmo e uma certa ânsia de fundar mosteiros  a toque de caixa”, em 20 anos,  isto é de 1562  ao 1582.  Teresa  fundou    quase 20 mosteiros de monjas e 13 de frades… Um ritmo impressionante,  uma atividade que poderíamos  chamar “frenética”, e projetou  um Carmelo em Madri,  mesmo que nunca conseguiu realizar.

As vezes Teresa tinha que sair da clausura para consolar princesas  depressivas  ou jovens princesas  como a de Alba de Tormes, que estava prestes a  dar a luz, que queria  a presença da madre Teresa. Ela chegará mais tarde para morrer em Alba de Tormes. Foi convidada a sair da clausura  pelos Superiores sem motivos sérios,  e hoje diríamos  inúteis, mas Teresa é obediente  e se coloca em caminho, com dificuldades  e vai. Sabe como se relacionar com bispos e convencê-los a aceitar e apoiar  as fundações, como a de Burgos  e de Sevilha.

A clausura de Teresa foi muitas vezes as ruas e as viagens, ou o seu “Carmelo itinerante”, em carruagem,  onde  nunca faltava  o famoso sino, para chamar  e marcar os horários das orações, do silêncio, da recreação. E convidava aos cocheiros  a  fazer silêncio e, se obedeciam, dava para eles uma boa porção  de comida. Viveu a clausura com uma certa “elasticidade e liberdade interior”  e se sentiu bem. Mais tarde, depois de sua morte,  vieram superiores,  como o Padre Doria, que  amará mais a  lei que a pessoa humana. A clausura para Teresa não é mais importante que a missão, e nem  a pessoa humana. Ela era uma mulher  livre e a sua liberdade a viveu a com uma atenção às leis, à obediência à Igreja, mas também às necessidades  do seu tempo.

O que diria Teresa de Ávila da clausura de hoje? Vamos deixar para um próximo artigo, que o meu espaço terminou. Mas creio que é necessário ter uma visão de clausura, de contemplação, que seja ao mesmo tempo um estilo de vida,  com normas jurídicas, mas com uma visão do que diz Jesus: “não é o homem que é feito para os sábado, mas o sábado para o homem”. Nasce sem dúvida uma nova reflexão  sobre este tema tão importante ao se colocar em discussão,  a clausura. Mas será que  se rompe a clausura só  saindo do mosteiro? Creio que hoje  os meios de comunicação, se não bem usados, são um meio não para  conservar o silêncio e solidão, para uma maior intimidade com Deus, mas para fazer entrar o mundo e a “mundanização” nos conventos de clausura e nos corações dos contemplativos e dos consagrados.

Teresa  de Ávila  teria bem usado  os meios de comunicação de hoje,  seja a internet, WatsApp, twiter,  como a seu tempo soube bem usar  a comunicação mediante  livros, cartas e encontros, e  como “andarilha de Deus”, pelos caminhos da Espanha  e comunicou o evangelho  e a oração com todos os meios e forças  e capacidade, que Deus  lhe deu. Teresa é a cantora da liberdade sadia, forte, divina e humana. Soube voar  e bem, de um lado ao outro, para anunciar o seu amor a Jesus e à Igreja, na escuta de Deus e da Igreja. Podemos estar em “clausura” e ter o coração  como um aeroporto  ou rodoviária,  de vai e vem. E podemos ir pelo mundo  com o coração cheio de Deus e viver  um “clausura de amor”, onde o mundo não pode perturbar-nos. “Onde está o teu tesouro aí está o teu coração”.

 


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.