O desconforto gerado pelo sentimento de culpa tem um antídoto: o reconhecimento do homem de sua própria liberdade
Desde a era mais primitiva, a culpa ou o sentimento de culpa existiram. O homem, consciente de si e dotado de liberdade, tem como distintivo o chamado à responsabilidade. A característica do ser humano que o chama a ser responsável é a compreensão de si próprio e daquilo que é necessário fazer segundo a sua consciência. A Logoterapia, abordagem psicológica proposta por Viktor Frankl, entende que o homem possui capacidade de escolher em quaisquer circunstâncias o que ele quer ser, e o afirma responsável por essas escolhas. Isso engloba estar atento aos desacordos de suas próprias decisões. Tais desacordos podem gerar a culpa por algo que aconteceu como consequência de um ato. Frankl (2005) escreveu: “o homem tem o direito de ser considerado culpado e de ser punido. Encontrar uma explicação para a culpa considerando-o como vítima das circunstâncias significa também tirar-lhe a dignidade humana” (p. 45). A Logoterapia ressalta que não se pode tornar ninguém escravo de suas “determinações”, tentando justificar as ações de outrem pondo culpa em fatores externos ou até mesmo internos, ou seja, fazendo vitimizações. É o caso dos crimes em que se procura investigá-los e até mesmo explicá-los pondo a culpa inteiramente nos fatores sociais, biológicos, ambientais, etc., como se o homem fosse uma marionete dos condicionamentos biopsicossociais. Até mesmo o sentimento de culpa pode transformar-se em conquista, pois ele ajuda a rever os caminhos e tomar decisões.
A culpa, em alguns casos, é inevitável, por mais que se queira procurar uma causa externa para explicar determinado fato. Outra característica da culpa é que, algumas vezes, é inesperada. Acerca disso, Frankl (1990) escreveu: “Ser-homem precisamente significa decidir o que deverei fazer de mim mesmo. E isto, por sua vez, significa assumir a responsabilidade pelo que tenho feito de mim mesmo” (p. 27). Ser pessoa significa, muitas vezes, correr riscos e ser responsável por eles e suas consequências. Assim, a culpa é uma geradora de conscientização da liberdade. “Reconhecimento da culpa significa afirmação da liberdade humana, assim como afirmação de uma ordem de convivência” (BRESSER apud FRANKL, 1990, p. 96).
O desconforto gerado pelo sentimento de culpa tem um antídoto: o reconhecimento do homem de sua própria liberdade. No pensamento, podem-se fazer algumas perguntas ao coração carregado de culpa:
– O que eu fiz?
– Em qual circunstância eu fiz?
– Qual a consequência da minha ação?
– O que aprendi com ela?
– E agora, como ajo ou vou agir?
Isso ajudará você a fazer uma autoavaliação de si e dotar de sentido a dor da culpa.
Elainy Cristine Silva Sales