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O que pode (e deve) fazer a psicologia

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Uma psicologia enraizada na visão católica da pessoa humana está em coerência tanto com a ciência como com Deus, afirma Gladys Sweeney, decana do “Institute for the Psychological Sciences”.

Em seu campo, este centro universitário americano orienta-se a estender pontes entre ciência e fé.

Que soluções a senhora proporia aos católicos que sofrem depressão ou outros transtornos mentais?

— Gladys Sweeney: Freqüentemente, a depressão, ou outras formas de transtorno mental, constitui um obstáculo ao livre arbítrio. Um tratamento psicológico eficaz é muito útil, porque busca essencialmente libertar a pessoa não só para que veja o “bem de forma mais realista, mas também para que seja capaz de eleger o “bem”.

Tradicionalmente, houve uma desconfiança mútua entre as ciências psicológicas e os católicos. A psicologia tende a ver a fé como comportamento supersticioso, enquanto que as pessoas de fé tendem a ver a psicologia como uma ciência desnecessária para elas. Uma fé suficiente deveria bastar para se ocupar de todos os problemas, quaisquer que sejam.

Nenhuma das duas posturas reflete a verdade. Uma psicologia enraizada na compreensão católica da pessoa humana não é só verdadeira para a ciência, mas verdadeira com respeito a Deus. As ciências psicológicas têm muito a oferecer a pessoas cujo livre arbítrio está afetado.

Tomemos por exemplo o caso de uma pessoa excessivamente escrupulosa. Tal pessoa poderia de fato sofrer “neurose obssessivo-compulsiva”. Esta desordem psicológica pode chegar a ser tão grave, se não tratada adequadamente, que impede a pessoa de funcionar normalmente.

Pessoas católicas, boas e fiéis, poderiam de fato deixar a confissão para não sentir que fizeram uma confissão inválida por terem esquecido de confessar “todos” os pecados. Poderiam deixar de comungar por medo de estar recebendo indignamente o Senhor. Esta desordem é facilmente diagnosticada e tratada.

As ciências psicológicas estão ao serviço da Igreja. Ajudando esta pessoa a recuperar um funcionamento normal, estará liberta da neurose. Mas a liberdade não é só uma “liberdade desde”, é também uma “liberdade para”: uma liberdade para chegar a ser cristãos melhores e para poder-se beneficiar de uma vida sacramental.

Proposta a questão em termos adequados, então não existe nenhum conflito entre uma psicologia fundada em uma sã antropologia e os ensinamentos da Igreja. O desafio é encontrar psicólogos adequadamente formados nesta perspectiva, que respeitem os valores religiosos de seus pacientes sem miná-los de nenhum modo.

Quais são os erros mais comuns hoje no tratamento da depressão?

— Gladys Sweeney: Um dos maiores erros no tratamento da depressão é a noção de que a depressão se alivia “unicamente” através de medicação.

Ainda que é certo que o uso de antidepressivos ofereceu um tremendo alívio a pacientes que padecem este transtorno, recorrer exclusivamente ao tratamento farmacológico, excluindo formas mais tradicionais de psicoterapia, não é o tratamento melhor.

Um dos tratamentos mais eficazes contra a depressão é o que os psicólogos chamam “reestruturação cognitiva”. Esta modalidade de tratamento tende a reordenar as emoções de acordo com a razão.

Com freqüência, nos casos de depressão, a sensação de desespero e impotência toma controle de toda a pessoa, e o paciente não é capaz de ver a realidade objetivamente. É como se visse o mundo através de um cristal escuro. Uma pessoa deprimida pode “interpretar” um acontecimento neutro como algo negativo ou pessoalmente ofensivo, quando na realidade não é assim.

O tratamento consiste em ajudar a pessoa deprimida a reestruturar seu pensamento, orientando-a a reestruturar seus esquemas distorcidos e negativos. É treinada a ordenar as emoções de acordo com a razão e a ver as situações de forma mais objetiva. Demonstrou-se extremamente eficaz para ajudar as pessoas com este diagnóstico.

É importante observar que às vezes as pessoas deprimidas inicialmente não respondem bem a esta terapia. Sobretudo quando a depressão é severa.

Nestes casos, o melhor tratamento é uma combinação de medicação e terapia cognitiva. Em qualquer caso, a medicação só raramente é boa solução em longo prazo para o problema.

De que forma uma vida em Cristo — participando nos sacramentos, tendo oração e procurando direção espiritual — ajuda a curar as patologias mentais?

— Gladys Sweeney: A participação na vida sacramental, na oração e na direção espiritual constitui meios para receber a graça divina.

A espiritualidade cristã é viver em Cristo pela graça do Espírito Santo que nos faz crescer na fé; significa ter uma esperança fundada na fé e sobretudo no amor como plenitude da fé no caminho reto para a comunidade da Santíssima Trindade.

Como a graça aperfeiçoa a natureza, esta espiritualidade é totalmente coerente com a saúde psicologia. Mas a saúde espiritual e a saúde psicológica não são idênticas, nem sempre proporcionadas.

Uma pessoa que sofre neurose obsessivo-compussiva, que não é capaz de confessar e talvez nem sequer de comungar, necessita de tratamento a fim de poder se valer dos meios com os quais se recebe a graça santificante. Em qualquer caso, a saúde mental, como a saúde física, não é uma condição necessária para a santidade.

Uma pessoa que sofre ansiedade não necessita de ser tratada primeiro desta desordem para desenvolver as virtudes do valor e da fortaleza ou crescer em sua confiança em Deus. Certamente ajuda, mas não é uma condição sine qua non para o crescimento nas virtudes humanas. As dificuldades que se encontram ao lutar com condições psicológicas podem de fato servir para favorecer determinadas virtudes, ou ser motivo de momentos de maior graça e de aprofundamento da vida espiritual.

Portanto, a menos que os problemas psicológicos da pessoa dificultem sua participação na vida sacramental, é de suma importância que a pessoa participe ativamente nela, ainda que esteja em terapia. É por isto que é tão importante que o terapeuta se dê conta desta necessidade e alente a pessoa a realizá-la.

Os efeitos da ação da graça combinados com um são tratamento psicológico são muito eficazes para conseguir a cura. Qualquer católico que sofra enfermidades mentais deverá seguir recebendo os sacramentos com freqüência e respeito, além de manter uma vida de oração habitual e equilibrada.

Um bom diretor espiritual pode ser muito útil a esse respeito, proporcionando guia no caminho do crescimento espiritual. Seja através da terapia ou da espiritualidade, é sempre Cristo quem cura.

Por que é importante que os católicos com problemas de saúde mental recorram a terapeutas também católicos?

— Gladys Sweeney: Toda teoria psicológica contém determinados postulados relativos à natureza e ao destino da pessoa humana. Há teorias seculares por natureza e às vezes abertamente anti-religiosas. Às vezes negam a existência da liberdade humana, das verdades morais, e portanto a realidade do pecado.

É pelo que o Santo padre diz em “Reconciliatio et Paenitentia”: “Dilui-se este sentido do pecado na sociedade contemporânea também por causa dos equívocos nos que se cai ao aceitar certos resultados da ciência humana. Assim, em base a determinadas afirmações da psicologia, a preocupação por não culpar ou por não pôr freios à liberdade leva a não conhecer jamais uma falta”.

Assim que os católicos devem estar muito atentos ao receber a assistência psicológica ou ao permitir às modas psicológicas influir na própria vida.

Também os psicólogos em geral tendem a ver a religião de forma mais negativa, coisa que cria ulteriores dificuldades aos católicos. Durante uma psicoterapia é possível que o terapeuta influa no paciente de maneiras sutis que lentamente minem suas convicções religiosas.

Com um bom terapeuta católico, em qualquer caso, a fé e a prática religiosa dos pacientes seria alentada e até poderiam falar de questões religiosas durante as sessões. Tal terapia trabalha desde uma compreensão autêntica da pessoa humana baseada nos ensinamentos da Igreja e reforçada por elementos psicológicos sãos.

Este tipo de aproximação é absolutamente essencial para qualquer católico que busque ajuda por um problema de saúde mental.

Que recursos a Igreja oferece aos membros de seu rebanho que tenham a ver com questões de saúde mental?

— Gladys Sweeney: A Igreja nos oferece Cristo, que é a revelação do amor do Pai e é a revelação do homem ao homem.

Cristo nos revela o sentido de nossa existência e a resposta ao anseio de nosso coração. A Igreja, ao dar-nos Cristo, dá-nos o que mais desejamos e em última instância o único capaz de satisfazer-nos.

Neste “vale de lágrimas” haverá inevitavelmente desilusões, tragédias e sofrimentos, e todo o tempo a Igreja nos orienta mais além deste horizonte, para o seio da trindade, onde Cristo está preparando uma morada para nós. Cristo nos mostra, portanto, o sentido redentor do sofrimento. Através dos sacramentos da Igreja, encontramos Cristo e nos renovamos e transformamos continuamente, na medida em que cresce nossa união com Ele.

Em todo caso, a Igreja precisa ter em conta a específica função que a ciência psicológica pode desempenhar, especialmente se está nas mãos de terapeutas bem formados e equilibrados que compreendam o ensinamento da Igreja sobre a liberdade e a dignidade humana.

A colaboração mútua da ciência humana e do trabalho pastoral é de uma importância, e se se realiza em harmonia, pode levar almas a Cristo e promover o estabelecimento do Reino de Deus nesta terra.

Fonte: ZENIT.org


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