Faz parte do ser jurista enxergar o Direito em tudo que está ao seu redor. Ao menos para mim, vejo que o martírio de Jesus Cristo, seguramente, oferece margem para uma boa análise jurídica, sobretudo à luz do processo penal.
No evangelho de Domingo de Ramos, Herodes, que queria conhecer Jesus, movido por ironias e deboches, faz um interrogatório ao Messias. Ele, porém, não responde às perguntas. Mas, como pode agir assim? Afinal, quem não deve, não teme!? Calma, não é tão simples.
Segundo a Constituição Federal de 1988, o réu tem direito de não produzir prova contra si mesmo. Mas, a postura de Jesus vai além.
Ele não só se deixa passar pelo martírio para nos salvar, como mostra que nem sempre devemos responder com palavras ao que nos é perguntado, sobretudo quando os questionamentos são tolos ou pueris.
Demonstra, assim, a perspicácia e força do silêncio eloquente, o qual, se não o livra da condenação popular, comprova, ao menos às autoridades, que Ele é inocente.
O povo de dois mil anos atrás – nada diferente da massa popular histérica de hoje, que se vende por 100 reais numa eleição e se mata para conseguir furtar uma carga de caminhão que sobrou na pista – não consegue ouvir o silêncio eloquente do Injustiçado de Nazaré.
Sob as lentes do processo penal, Jesus fez bom uso do seu direito ao silêncio. No âmbito legal, perante às autoridades, demonstrou sua inocência, sem nada dizer! No entanto, Pilatos, como instância julgadora, não conseguiu exercer sua função contra majoritária, no sentido de tomar a decisão impopular de absolver Cristo. Pelo contrário, fez uma média com o povo comprado e acossado pelos fariseus, incorrendo no que Marcelo Neves chama de lealdade com as massas.
Não faço essa reflexão para apontar que Jesus precisava de advogado, pois Ele se deixou ser imolado para nos salvar, mas chamo a atenção para mostrar que o exercício da autodefesa foi o suficiente para livrá-lo da pena de morte, não fosse a covardia das autoridades (políticas e religiosas) de reconhecer o Santo de Israel.
Cuidado com o barulho da histeria popular, pois ele pode nos roubar de ouvir e aprender com o silêncio eloquente do Mestre.
Desejo uma boa Semana Santa!
Felipe Rosa,
Consagrado da Comunidade de Aliança,
Missão Maceió
Felipe, meu irmão, é com muita honra que você nos representa, como Missão Maceió. Presente de Deus em meio a nós, com sua eloquência e sabedoria. Que o Inocente Senhor abençoe sempre mais sua vida. Shalom!🙏