O sofrimento, a dor, a doença não são coisas que o ser humano deseja.
A natureza humana, por si, busca sempre o desejável, o agradável e rejeita tudo o que não lhe traga satisfação na vida. Isso é natural. Ninguém, pois, quer ficar doente, ninguém quer sofrer, todavia, a doença, a dor são companhias constantes da vida.
Então, como encarar a dor, a doença, o sofrimento, se tais coisas, dia mais, dia menos, baterão às portas de nossa existência.
Bem,Viktor Frankl, um psiquiatra judeu que esteve no campo de concentração de Auschewitz, durante a perseguição a que nossos irmãos judeus sofreram na Alemanha Nazista, através dessa dolorosa experiência narrada em seu livro “EM BUSCA DE SENTIDO”, criou a logo terapia, isto é, a terapia encontrada no sentido da existência.
Relativamente ao sentido do sofrimento afirma nos conceitos fundamentais da logo terapia: “Não devemos esquecer nunca que também podemos encontrar sentido na vida quando nos confrontamos com uma situação sem esperança, quando enfrentamos uma fatalidade que não pode ser mudada. Porque o que importa, então, é dar testemunho do potencial especificamente humano no que ele tem de mais elevado, e que consiste em transformar uma tragédia pessoal num triunfo, em converter nosso sofrimento numa conquista humana. Quando já não somos capazes de mudar uma situação – podemos pensar numa doença incurável, com um câncer que não se pode mais operar– somos desafiados a mudar a nós próprios.”
No mesmo livro, mais abaixo diz: “É preciso deixar perfeitamente claro, no entanto, que o sofrimento não é de modo algum necessário para encontrar sentido. Ínsito apenas que o sentido é possível mesmo a despeito do sofrimento – desde que, naturalmente, o sofrimento seja inevitável.” (cf. na obra citada, pág. 101).
Conclui Viktor Frankl: “Se (o sofrimento) for evitável, o que faz sentido é remover a sua causa, porque o sofrimento desnecessário é masoquismo e não ato heróico.” (cf. pág. 125)
Pela psiquiatria se pode, pois, encontrar sentido no sofrimento inevitável, pois o ser humano tem potencialidades que desconhecemos.
Mas, quero agora, falar da superação da dor e do sofrimento pelo exemplo de um homem, chamado Jesus Cristo.
Ele ante o sofrimento inevitável da paixão, humanamente falando quis evitá-la: “Pai, se possível, afasta de mim esse cálice.”
Mas, em face de sua missão de Redentor do Mundo por vontade de seu Pai, disse: “Todavia, faça-se a tua vontade” desta maneira, Jesus, se salvou do desespero e da angústia e sofreu os maiores tormentos com uma paz, jamais vista no homem diante da dor e do sofrimento.
Esse é o segredo que nos deixou, se aquilo que nos ocorre é algo que não podemos evitar, temos dois caminhos a nossa frente: revoltar-se ou aceitar o inevitável, como um dom de Deus.
Depois dizer como Jesus: “Pai querido, se possível, afasta de mim esse sofrimento, mas que se faça, antes o tu queres ou permites e paz será nossa companheira.”
Esse segredo na mística cristã tem um nome, chama-se “abandono”, ou seja, se aquilo que nos molesta podemos modificar, não é hora do “abandono”, mas se estamos diante de fatos que não se alteram nem que derramemos rios de lágrimas, a solução é aceitar como dádiva do Pai e nos abandonarmos em suas mãos paternas e maternas.
Quero terminar, com a conhecida oração de CHARLES DE FOUCAULD – ATO DE ABANDONO: “Meu Pai, em me entrego em tuas mãos; meu Pai, confio-te a ti; meu Pai, em me abandono em ti; meu pai Pai, faz de mim aquilo que quiseres; o que quer que faças a mim, eu te agradeço; obrigado por tudo; estou pronto a tudo; aceito tudo; eu te agradeço; obrigado por tudo; estou pronto a tudo; aceito tudo; agradeço-te por tudo. Desde que se faça a tua vontade em todas as criaturas, em todos os teus filhos, em todos aqueles que teu coração ama, nada mais desejo, meu Deus; entrego minha alma em tuas mãos, eu a dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração, porque te amo e porque me dar e uma necessidade de amor, colocar-me sem medida entre tuas mãos com uma infinita confiança, pois tu és meu Pai.” (cf. 15 Dias de Oração com CHARLES DE FOUCAUL – Michel Lafon – A última prece do nosso Mestre – pag. 97 – Edições Paulinas.)
Dom Eurico dos Santos Veloso
Formação Out / 2009