Em meio aos desafios e ataques que a Igreja vem sofrendo, não podemos permanecer alheios aos mistérios que a envolvem. É de suma importância conhecermos a fundo a fé que professamos para que, em tempos tempestuosos como estes, não sejamos confundidos. Ao olhar para ela, não devemos fazê-lo como um observador, mas como um filho, um membro seu.
O que você sabe a respeito da infalibilidade do Papa? Que diferença essa crença faz em sua fé? Para compreender um pouco mais a respeito da infalibilidade do Romano Pontífice, é necessário voltar-nos a Pedro e à autoridade que lhe foi concedida.
Quando Jesus interroga os seus discípulos sobre o que o povo diz a seu respeito, fá-lo para levá-los a refletir e superar a opinião pública. Alguns o consideravam João Batista, outros Elias e outros algum dos profetas; entre eles porém, há alguém – Pedro – que supera a distância entre aparência e realidade e reconhece-o como o Messias, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus confia a este uma grande missão: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as potências do inferno não prevalecerão contra ela” (cf. Mt 16,18). A fraqueza do pescador é transformada na fortaleza do Apóstolo e a sua humildade será a rocha segura sobre a qual Cristo constituirá a sua Igreja. Um edifício sólido que poder algum poderá abater, nem mesmo poderes diabólicos.
Diz ainda: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra será ligado no céu e o que desligares na terra será desligado no céu” (cf. Mt 16,19). Na linguagem bíblica, chave tem o significado de poder. O poder mais elevado é confiado a Pedro! Ele tem o poder de ligar e desligar, ou seja, condenar e absolver, excluir e acolher, não só as pessoas, mas também as doutrinas e os costumes. É desconcertante ver tanto poder nas mãos de um homem, mas antes de tudo, devemos lembrar que o Espírito Santo o assiste constantemente com todos os dons necessários para esta missão tão particular.
Segundo a vontade do Senhor, São Pedro e os outros Apóstolos formam o Colégio dos Apóstolos. Paralelamente, o Papa, Sucessor de Pedro, e os Bispos, Sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si e formam, assim, o Colégio Episcopal. “O Romano Pontífice, em virtude do seu múnus de Vigário de Cristo e Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode sempre livremente exercer este poder” (LG, 22). Nisto vemos que toda a graça que o Senhor derramou sobre os primeiros Apóstolos é concedida aos seus Sucessores. Neles, e de modo especial no Sucessor de Pedro, as verdades da fé são conservadas e transmitidas incólumes, sem nenhum desvio. Foi-lhes confiada a missão de “proteger o povo de Deus dos desvios e dos desfalecimentos e garantir-lhes a possibilidade objetiva de professar sem erro a fé autêntica… Cristo os dotou do carisma de infalibilidade em matéria de fé e de costumes” (Cat, 890).
Com um olhar estritamente humano podemos ver nele um homem comum; mas, sob o olhar da fé, vemos um homem assistido pela graça de Deus. É Cristo quem age através de cada Papa. Aqui é preciso uma fé madura, para que também nós superemos as aparências, pois o Papa é um homem comum, com suas virtudes e fraquezas, mas quando, “pelo seu Magistério supremo, propõe alguma coisa ‘a crer como sendo revelada por Deus’ e como ensinamento de Cristo, ‘é preciso aderir na obediência da fé a tais definições'” (Cat, 891). Porque, quando um Papa trata sobre questões referentes à fé e à moral, não o faz por si mesmo, mas auxiliado pela graça, que o assiste e sustenta, e segundo a vontade de Deus, que se manifesta claramente a ele pelo carisma da infalibilidade, com o qual o dotou.
As prerrogativas de Pedro continuam a ser as do Papa. Os mesmos poderes que Jesus conferiu a Pedro são conferidos aos seus Sucessores. “Esta é a razão por que se diz que suas definições são irreformáveis por si mesmas e não em virtude do consentimento da Igreja, pois foram proferidas com a assistência do Espírito Santo a ele prometida no bem-aventurado Pedro. E por isso não precisam da aprovação de ninguém nem admitem apelação a outro tribunal. Pois neste caso o Romano Pontífice não se pronuncia como pessoa particular, mas expõe ou defende a doutrina da fé católica como mestre supremo da Igreja universal, no qual de modo especial reside o carisma da infalibilidade da própria Igreja” (LG, 25).
Como vimos, o primado de Pedro – e a sua sucessão – é uma instituição divina. “Se isso pode ser contestado por uma sociedade excessivamente racionalista e contrária a toda autoridade, reconhece o cristão autêntico – e com gratidão – o que estabeleceu Cristo para tornar mais seguros aos homens o caminho da salvação. Enfim, em nenhum campo pode o homem pretender julgar os planos ou as ações de Deus; deve, antes, repetir com São Paulo: “Quão impenetráveis são seus desígnios e inacessíveis seus caminhos!” (Frei Gabriel de Sta. Maria Madalena).
Ao olhar o nosso Papa, depois de mais de 20 anos de pontificado, o vemos cansado e abatido. Vem uma pergunta ao coração de alguns: “Não seria o tempo de descansar e deixar que outro assuma o seu lugar?” A esta pergunta o Sucessor de Pedro dá a mesma resposta que o próprio Pedro deu a Jesus quando outros discípulos o abandonaram: “Senhor, a quem iríamos? Tu tens palavras de vida eterna. Quanto a nós, cremos e conhecemos que Tu és o santo de Deus” (Jo 6,68-69). E com a sua fé continua a sustentar e confirmar a fé dos seus irmãos.