Formação

O sucessor de Pedro

comshalom

67. O sucessor de Pedro é assim, pela vontade de Cristo,encarregado do ministério preeminente de ensinar a verdade revelada. O NovoTestamento apresenta-nos por várias vezes Pedro "cheio do EspíritoSanto" a tomar a palavra em nome de todos.(98) É precisamente por isso queSão Leão Magno fala dele como sendo aquele que mereceu ter o primado doapostolado.(99) É por isso, ainda, que a voz da Igreja nos mostra o Papa"no vértice – in apice, in specula – do apostolado".(100) O ConcílioEcumênico Vaticano II houve por bem reaf’irmar isso mesmo, quando declarou que"o mandamento de Cristo de pregar o Evangelho a toda a criatura (cf.Mc.16,15) impende primária e imediatamente aos Bispos, com Pedro e sobPedro".(101)

O poder pleno, supremo e universal (102) que Cristo confiaao seu Vigário para o governo pastoral da sua Igreja, acha-se especialmente,portanto, na atividade de pregar e de mandar pregar a Boa Nova da salvação, queo Papa exerce.

Bispos e sacerdotes

68. Unidos ao sucessor de Pedro, os Bispos, sucessores dosapóstolos, recebem pela virtude da ordenação episcopal, a autoridade paraensinar na Igreja a verdade revelada. Eles são os mestres da fé.

Aos Bispos são associados no ministério da evangelização,como responsáveis por um título especial, aqueles que, por força da ordenaçãosacerdotal, agem em nome de Cristo, (103) dado que são, enquanto educadores dopovo de Deus na fé, pregadores, ao mesmo tempo que ministros da eucaristia edos outros sacramentos.

Todos nós, portanto, enquanto Pastores, somos convidados atomar consciência, mais do que qualquer outro membro da Igreja, deste dever.Aquilo que constitui a singularidade do nosso serviço sacerdotal, aquilo que dáunidade profunda às mil e uma tarefas que nos solicitam ao longo do dia e danossa vida, aquilo, enfim, que confere às nossas atividades uma notaespecífica, é essa finalidade presente em todo o nosso agir: "anunciar oEvangelho de Deus".(104)

Está nisto um traço bem vincado da nossa identidade, quedúvida alguma jamais haveria de fazer desvanecer, que nunca objeção algumadeveria eclipsar. Como Pastores, nós fomos escolhidos pela misericórdia dosupremo Pastor, (105) apesar da nossa insuficiência, para proclamar comautoridade a Palavra de Deus, para reunir o povo de Deus que andava disperso,para alimentar este mesmo povo com os sinais da ação de Cristo que são ossacramentos, para o encaminhar para a via da salvação, para o manter naquelaunidade de que nós somos, em diferentes planos, instrumentos ativos e vivos,para animar constantemente esta comunidade congregada em torno de Cristo nalinha da sua vocação mais íntima. E sempre que nós, na medida das nossaslimitações, perfazemos tudo isto, é uma obra de evangelização aquilo que nós defato realizamos. Nós, como Pastor da Igreja universal, os nossos Irmãos Bisposà frente das suas Igrejas particulares e os sacerdotes e diáconos unidos aosseus próprios Bispos, de quem são os colaboradores, por uma comunhão que tem asua origem no sacramento da ordem e na caridade da Igreja.

Religiosos

69. Os religiosos, por sua vez, têm na sua vida consagradaum meio privilegiado de evangelização eficaz. Pelo mais profundo do seu ser,eles situam-se de fato no dinamismo da Igreja, sequiosa doAbsoluto de Deus echamada à santidade. É dessa santidade que dão testemunho. Eles encarnam aIgreja desejosa de se entregar ao radicalismo das bem-aventuranças. Eles são,enfim, pela sua mesma vida, sinal de uma total disponibilidade para Deus, paraa Igreja e para os irmãos. E em tudo isto, portanto, têm os religiosos umaimportância especial no quadro de testemunho que, conforme frisamos emprecedência, é primordial na evangelização.

Este seu testemunho silencioso, de pobreza e dedespojamento, de pureza e de transparência, de entrega para a obediência, podetornar-se, ao mesmo tempo que uma interpelação para o mundo e para a própriaIgreja, uma pregação eloqüente, capaz de tocar o coração mesmo dos não-cristãosde boa vontade, sensíveis a certos valores.

Com uma tal perspectiva, fácil se torna adivinhar o papeldesempenhado na evangelização pelos religiosos e pelas religiosas consagrados àoração, ao silêncio, à penitência e o sacrifício. Outros religiosos, em grandenúmero, dedicam-se diretamente ao anúncio de Cristo. A sua ação missionáriadependerá, evidentemente, da hierarquia e deve ser coordenada com a pastoralque a mesma hierarquia deseja pôr em prática. Mas, quem é que não avalia aimensa quota-parte com que eles têm contribuído e continuam a contribuir para aevangelização? Graças à sua consagração religiosa, eles são por excelênciavoluntários e livres para deixar tudo e ir anunciar o Evangelho até asextremidades da terra. Eles são empreendedores, e o seu apostolado é muitasvezes marcado por uma originalidade e por uma feição própria, que lhesgranjeiam forçosamente admiração. Depois, eles são generosos: encontram-se comfreqüência nos postos de vanguarda da missão e a arrostar com os maioresperigos para a sua saúde e para a sua própria vida. Sim, verdadeiramente aIgreja deve-lhes muito!

Leigos

70. Os leigos, a quem a sua vocação específica coloca nomeio do mundo e à frente de tarefas as mais variadas na ordem temporal, devemtambém eles, através disso mesmo, atuar uma singular forma de evangelização.

A sua primeira e imediata tarefa não é a instituição e odesenvolvimento da comunidade eclesial, esse é o papel específico dos Pastores,mas sim, o pôr em prática todas as possibilidades cristãs e evangélicasescondidas, mas já presentes e operantes, nas coisas do mundo. O campo próprioda sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política,da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e dasartes, da vida internacional, dos "mass media" e, ainda, outras realidadesabertas para a evangelização, como sejam o amor, a família, a educação dascrianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento. Quantomais leigos houver impregnados do Evangelho, responsáveis em relação a taisrealidades e comprometidos claramente nas mesmas, competentes para as promovere conscientes de que é necessário fazer desabrochar a sua capacidade cristãmuitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades, sem nadaperder ou sacrificar do próprio coeficiente humano, mas patenteando umadimensão transcendente para o além, não raro desconhecida, se virão a encontrarao serviço da edificação do reino de Deus e, por conseguinte, da salvação emJesus Cristo.

 

Família

 

71. No conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dosleigos, não se pode deixar de pôr em realce a ação evangelizadora da família.Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a bela designaçãosancionada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II: "Igrejadoméstica".(106) Isso quer dizer que, em cada família cristã, deveriamencontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira. Por outras palavras, afamília, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho étransmitido e donde o Evangelho irradia.

No seio de uma família que tem consciência desta missão,todos os membros da mesma família evangelizam e são evangelizados. Os pais, nãosomente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmoEvangelho profundamente vivido. E uma família assim torna-se evangelizadora demuitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se insere. Mesmo asfamílias surgidas de um matrimônio misto têm o dever de anunciar Cristo àprole, na plenitude das implicações do comum batismo; além disso, incumbe-lhesa tarefa que não é fácil, de se tornarem artífices da unidade.

Jovens

72. As circunstâncias de momento convidam-nos a prestar umaatenção muito especial aos jovens. O seu aumento numérico e a sua crescentepresença na sociedade e os problemas que os assediam devem despertar em todos ocuidado de lhes apresentar, com zelo e inteligência, o ideal evangélico, a fimde eles o conhecerem e viverem. Mas, por outro lado, é necessário que osjovens, bem formados na fé e na oração, se tornem cada vez mais os apóstolos dajuventude. A Igreja põe grandes esperanças na sua generosa contribuição nessesentido; e nós próprios, em muitas ocasiões, temos manifestado a plenaconfiança que nutrimos em relação aos mesmos jovens.

Ministériosdiversificados

73. Assim, a presença ativa dos leigos nas realidadestemporais assume toda a sua importância. No entanto, é preciso não descurar ounão deixar no esquecimento outra dimensão: os leigos podem também sentir-sechamados ou vir a ser chamados para colaborar com os próprios Pastores aoserviço da comunidade eclesial, para o crescimento e a vida da mesma, peloexercício dos ministérios muito diversificados, segundo a graça e os carismasque o Senhor houver por bem depositar neles.

Não é sem experimentar intimamente uma grande alegria quenós vemos uma legião de Pastores, religiosos e leigos, apaixonados pela suamissão evangelizadora, a procurarem moldes mais adaptados para anunciareficazmente o Evangelho; e encorajamos a abertura que, nesta linha e com estapreocupação, a Igreja demonstra ter alcançado nos dias de hoje. Abertura para areflexão, em primeiro lugar; e depois, abertura para ministérios eclesiaissusceptíveis de rejuvenescer e de reforçar o seu próprio dinamismoevangelizador.

É certo que, ao lado dos ministérios ordenados, graças aos quaisalguns fiéis são colocados na ordem dos Pastores e passam a consagrar-se de umamaneira particular ao serviço da comunidade, a Igreja reconhece também o lugarde ministérios não-ordenados, e que são aptos para assegurar um especialserviço da mesma Igreja.

Um relance sobre as origens da Igreja é muito elucidativo efará com que se beneficie de uma antiga experiência nesta matéria dosministérios, experiência que se apresenta válida, dado que ela permitiu àIgreja consolidar-se, crescer e expandir-se. O atender assim às fontes, deveser completado ainda pela atenção às necessidades atuais da humanidade e damesma Igreja. O ir beber nestas fontes sempre inspiradoras, e o nada sacrificardestes valores, mas saber adaptar-se às exigências e às necessidades atuais,constituem a base sobre que há de assentar a busca sapiente e o colocar nadevida luz os ministérios de que a Igreja precisa e que bom número dos seusmembros hão de ter a peito abraçar para uma maior vitalidade da comunidadeeclesial.

Tais ministérios virão a ter um verdadeiro valor pastoral namedida em que se estabelecerem com um respeito absoluto da unidade eaproveitando-se da orientação dos Pastores, que são precisamente osresponsáveis e os artífices da mesma unidade da Igreja.

Tais ministérios, novos na aparência mas muito ligados aexperiências vividas pela Igreja ao longo da sua existência, por exemplo, os decatequistas, de animadores da oração e do canto, de cristãos devotados aoserviço da Palavra de Deus ou à assistência aos irmãos em necessidade, ou aindaos de chefes de pequenas comunidades, de responsáveis por movimentosapostólicos, ou outros responsáveis, sáo preciosos para a implantação, para avida e para o crescimento da Igreja e para a sua capacidade de irradiar a própriamensagem à sua volta e para aqueles que estão distantes. Nós somos devedorestambém da nossa estima particular a todos os leigos que aceitam consagrar umaparte do seu tempo, das suas energias e às vezes mesmo a sua vida toda, aoserviço das missões.

Para todos os obreiros da evangelização é necessária umapreparação séria; e é necessária de modo muito particular para aqueles que sededicam ao ministério da Palavra. Animados pela convicção, incessantementeaprofundada, da nobreza e da riqueza da Palavra de Deus, aqueles que têm amissão de a transmitir devem dedicar a maior atenção à dignidade, à precisão eà adaptação da sua linguagem. Todos sabem que a arte de falar se reveste hojeem dia de uma grandíssima importância. E como poderiam então os pregadores e oscatequistas descurá-la?

Nós auspiciamos vivamente que, em todas as Igrejasparticulares, os Bispos velem pela formação adequada de todos os ministros daPalavra. Essa preparação séria fará aumentar neles a indispensável segurança,como também o entusiasmo para anunciar nos dias de hoje Jesus Cristo.

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