Formação

O tempo.

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No final do ano litúrgico, a Igreja nos propõe à reflexão sobre o fim último do Universo que é a glorificação da obra divina da criação, restaurada pela morte e ressurreição de Cristo.

É um tempo propício para meditarmos sobre o tempo que nos foi dado para também nós nos inserirmos neste mistério redentor.

O Livro do Eclesiastes nos ensina que “para cada coisa há um momento e um tempo para toda a atividade debaixo do céu” (Ecl 3,1). E as palavras de Jesus nos Evangelhos nos alertam para a exigüidade do tempo que nos é dado para que coloquemos nossas atividades e nossa vida na boa utilização deste dom que nos foi dado.

O que é o tempo, quando teve o seu começo e quando será seu fim? Os filósofos e físicos tentam entendê-lo e medi-lo desde os primeiros filósofos sofistas gregos até Einstein com sua teoria da relatividade, passando pelos medievais e Galileu. Uma ondulação perpétua, um eterno retorno, sem termo certo nem para frente nem para trás, entendiam os filósofos.

Nós cristãos, não podemos concordar com isso. Sertillanges, numa linguagem poética diz que “o tempo é um riacho que deriva das geleiras eternas” e como os caudais tem a sua beleza, apesar das escórias que jazem no fundo de suas águas, até lançar-se ao mar.

No silêncio da noite, na expressão do salmista, da Sabedoria divina surgiu o universo com a força que lhe infundiu o Espírito que tudo impregna. Segue seu curso evolutivo, na sucessão dos séculos e gerações até o grande dia do Senhor. Tem o seu tempo.

Na vida particular, também nós recebemos este dom, quando viemos à luz e iniciamos a nossa jornada.

Dispomos do tempo como entendemos. Gastamo-lo como perdulários. Outras vezes dele não dispomos porque nos prendemos demais a muitas tarefas. Para muitos o tempo é dinheiro, sobretudo nesta civilização materialista. Vemos todos passar o tempo e quantas vezes dizemos que o tempo nos traiu, quando, na verdade, nós é que o traímos, usando-o mal ou até mesmo matando-o, não o empregando ou o utilizando em ninharias.

O tempo é o prelúdio da eternidade que está ínsita em nosso ser e para qual caminhamos. Devemos fazer do tempo realmente uma partida para o dia sem fim. Cada parcela de nossa vida temporal está marcada nesta caminhada. O passado como já vivido nos altos e baixos de uma sinfonia, na firmeza do presente e na confiança do futuro ainda obscuro a nossos olhos.

Há uma canção das Missionárias de Jesus Crucificado que canta: “Toda gente, felizmente, sabe muito bem/ que esta vida um belo dia vai findar. / E apesar de saber disso muita gente infelizmente/passa a vida sem querer disso lembrar.” Esquecemo-nos do limite do tempo. Não o empregamos, como expressa este outro verso: ”Deus nos deu só esta vida e quer que seja bem vivida.”.

O salmo 90 exalta a eternidade de Deus e nos desvenda a fragilidade de nossos dias, “pois mil anos aos olhos de Deus, são como o dia de ontem que passou e como uma vigília na noite (Sal 90,4). Os dias de nossa vida são setenta anos, oitenta para os mais fortes, mas tudo isso é como a relva que brota pela manhã e à tarde fenece.

O tempo passa como a lançadeira dos teares na linguagem antiga, com a velocidade dos foguetes espaciais diríamos hoje, e de repente tem seu fim. “A morte chega de-repente e faz surpresa a muita gente”, diz outro verso da canção, concitando-nos a estarmos atentos empregando bem os nossos dias. O salmista reza: “Ensinai-nos, Senhor, a contar nossos dias , e assim teremos um coração sábio”.

Deus nos deu o tempo e quer que dele façamos o portal da vida eterna. Que o Senhor nos dê a sabedoria para vivermos bem o nosso tempo.

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.

Fonte: www.catequisar.com.br


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