Que maravilhas são essas?
Qual motivo de louvor em meio a tanta provação?
Talvez hoje não consigamos perceber, nem enxergar as coisas prodigiosas que o Poderoso realizou em nós durante o tempo do Advento. Por ser algo tão interior se torna muitas vezes imperceptível como a nova árvore que vai sendo gerada nas profundezas da terra após a semente ser lançada. Precisamos olhar tudo com os “óculos de Deus” , com o olhar da fé e acreditar que existe um novo surgindo, um novo nascimento como anunciado no Natal.
Quando ouvimos falar de vivermos o Advento nos unindo a Cristo, nos configurando a Ele achamos tudo muito poético, porém muito subjetivo. Entretanto, quando isso sai do mundo das ideias e passa a ganhar vida na nossa carne parece que aquele poema não tem mais rima , nem tem mais nenhum atrativo.
São dois abismos que se abraçam, o encontro de contrárias grandezas, um privilégio insano e bendito, este de ver a nossa vida se entrelaçando e encarnando os mistérios da vida de Cristo.
“Demonstrou o poder de Seu Braço, dispersou os orgulhosos, derrubou os poderosos do trono…”
É uma experiência esmagadora para os corações duros e orgulhosos se depararem com o “mistério da Encarnação do Verbo”: esvaziamento, despojamento, perdas, incertezas, empobrecimento, abandono. Deus pede tudo, tira tudo para ser o nosso TUDO, para verdadeiramente nascer na nossa alma , nossa pobre manjedoura. Só assim Ele pode partilhar com ela a Sua riqueza, beleza e doçura.
O verdadeiro presépio que Deus quer construir em nós passa pela pobreza e pela simplicidade, se traduz no nosso despojar-se, no desapego de muitos valores, sentimentos, coisas e pessoas. O Menino precisa nascer neste presépio.
Mas Ele nasce para morrer!!!
É loucura ? Sim!
Depois do mistério da Encarnação se nos é apresentado o mistério da Paixão. E este vem recheado de injustiças, perseguições, humilhações, decepções, desprezo, solidão e mais esvaziamento de si. E, mais uma vez, o coração orgulhoso se enche de revolta, busca de auto- defesa, reivindicações. Mas Aquela Luz que emana do mistério incide nas trevas da sua alma e o faz enxergar mais uma vez Aquele Menino, qual doce Cordeiro , imolado e indefeso que não alterou a voz, que humildemente recebeu ultrajes, flagelos e duros golpes daqueles que eram os alvos da Sua morte por Amor.
As escamas caem não só dos olhos , mas do coração e reconhecemos como Ele não mais merece o nosso desprezo, nossa infidelidade e inconstâncias. Este Deus, “tão grande, tão pobre e vulnerável” merece somente o melhor de nós, merece todo o nosso amor.
Diante deste doce mistério que se encarna em nós poderemos cantar com os anjos, anunciar com os pastores e adorar com os magos o Menino que nasceu em nós. Junto com Maria elevaremos o nosso louvor, agora de forma mais consciente, livre e madura: o Poderoso realizou em mim coisas grandiosas.
Sim, é uma bela obra, é algo maravilhoso e divino. Sim, Ele nasceu em nós: O Belo, O Verdadeiro , O Santo nasceu em nós e nos configurou a Si. Santo é o Seu Nome!!!
Um Santo e abençoado nascimento para todos nós!
Lícia Maria Araújo Silva
Missionária da Comunidade de Vida
Missionária da Comunidade de Vida
Que texto esplêndido! Obrigada.