Quando São João Paulo II escreveu a encíclica social CENTESIMUS ANNUS, em 1992, um clérigo me falou amargurado: “nunca mais a Igreja vai escrever uma encíclica social”. Por que tamanha decepção? É que ele pessoalmente queria a solução socialista, matriz de uma verdadeira justiça social, segundo entendia. E nesta encíclica o pontífice fazia clara opção pela economia de mercado (com restrições), desclassificando a economia estatal, que quer marcar todos os preços e determinar o que deve ser produzido (socialismo).
Por que João Paulo II fez essa escolha, seguindo Leão XIII? Porque, se a economia de mercado produz injustiças, deixando muitas pessoas à margem do progresso, o socialismo eleva as injustiças ao quadrado. Ele torna a vida econômica uma camisa de força insuportável, e se torna malfeitor da humanidade, por não respeitar em grau mínimo a liberdade humana. O clérigo citado – cheio de nobres ideais – achava que as encíclicas anteriores, por condenarem a crueldade do capitalismo selvagem, eram a favor do socialismo. O que é um erro de tamanho amazônico.
Agora vem Bento XVI, e nesta encíclica CARITAS IN VERITATE, confirma esse ensinamento tradicional (nº 35). Em outras palavras, ele ensina que as transações financeiras precisam seguir as leis do mercado, entre as quais está presente a lei da oferta e da procura, e a busca do lucro justo. Aos olhos de muitos idealistas, o lucro seria uma busca perversa em si. Seria comportamento satânico. Mas não. Segundo o Pontífice Romano entende, o lucro é um agente motivador para os empreendimentos econômicos.
Nos corações mais nobres podem se sobrepor outros motivos mais sublimes: o amor à humanidade, o progresso das comunidades, abusca do Reino de Deus. Se existe manifestação a favor da economia de mercado, no pensamento papal, corre paralela a necessidade de o Estado coibir os abusos do lucro desenfreado. A própria globalização é aceita como fato positivo, desde que não crie camadas sociais à margem do progresso, e que seus benefícios se estendam também à educação, à saúde, à segurança…
Por Dom Aloísio Roque Oppermann