“Essa é a hora de Deus,devemos deixá-lo agir”, afirmou o sacerdote italiano Amedeo Cencini, em entrevista aos meios de comunicação da Arquidiocese do Rio, no dia 24 de junho. O sacerdote ministrou reflexões sobre o tema “Afetividade, sexualidade e serviço ao Reino de Deus”, entre os dias 23 e 27 de junho, para seminaristas, presbíteros, diáconos permanentes e suas esposas, e membros de institutos de vida consagrada. O curso foi realizada nos auditórios do Seminário Arquidiocesano São José, no Rio Comprido, e do edifício João Paulo II, na Glória.
Um chamado à vivência autêntica da fé
Ao desenvolver o tema, padre Amedeo falou da necessidade de uma formação permanente para os sacerdotes. “Não basta a formação inicial, dada nos seminários. É preciso acompanhar o sacerdote durante toda a vida”, afirmou.
Para o sarcedote, a afetividade e a sexualidade devem estar no centro da atenção formativa, porque este assunto não pode ser tratado a partir de conceitos individuais.
“É preciso também levar em conta que muitos jovens já entram no seminário fragilizados, após viverem situações traumáticas em família ou experiências negativas na área sexual”, alertou. Para ele, o acompanhamento da parte afetiva e sexual do seminarista não deve ser deixado apenas a cargo do diretor espiritual. Em alguns casos, é preciso a avaliação especializada de um psicólogo.
“É necessário integrar a parte afetiva e sexual com a dimensão espiritual: não são áreas separadas. Não é possível viver um amor pelo Senhor, quando a sexualidade e afetividade não são vividas plenamente, centradas em Cristo, em uma sexualidade pascal.
Só Deus preenche os corações
Segundo padre Amedeo, a castidade vivida pelo sacerdote ou consagrado celibatário não é totalmente diferente da castidade vivida no casamento.
“O sacerdote assume um compromisso de fidelidade ao Senhor, enquanto o casado tem o compromisso de fidelidade à esposa. O amor está no centro dessas duas vocações e é preciso manter o coração apaixonado”, ensinou.
Ele acredita que seria importante propiciar uma troca de experiências entre casados e consagrados celibatários, porque a castidade dos padres é exemplo para os casados.
“O presbítero, com a sua vivência celibatária, tem algo de muito importante a revelar. Ele testemunha que o amor humano não completa a pessoa como o amor de Deus. Não existe um amor humano que possa saciar a sede de afeto do coração de uma pessoa. Nenhuma relação humana nessa vida completa a alma como a relação com Deus. As relações humanas são parciais. Só Deus preenche os corações, tanto dos sacerdotes como dos casados”, afirmou.
O vírus da compensação
Segundo ele, a internet pode gerar uma série de problemas, porque é um mundo onde o jovem atua de modo absolutamente privado, escondido. Utilizando os meios de comunicação social, os jovens podem fazer uma espécie de compensação, buscando viver uma relação que não existe. São tentados, pela curiosidade, a buscar experiências desconhecidas.
“Essas compensações são um vírus que pode impedir a pessoa de viver plenamente a consagração celibatária”, alertou.
Padre Amedeo afirmou que a formação intelectual pode ajudar a resolver uma fraqueza humana, mas que normalmente este saber não é suficiente para resolver o problema.
“Fazer com que o jovem entenda o significado de sua castidade é muito importante no caminho formativo. Porque ele sente a responsabilidade do chamado que recebeu, percebe que precisa viver bem a castidade, pois por meio dela transmite algo muito importante”, ensinou. Ele ressaltou que a iluminação intelectual sobre o valor da virgindade precisa ser acompanhada do exercício concreto da castidade.
Celibato não é causa de pedofilia
Padre Amedeo também reforçou que o celibato não é a causa da pedofilia e que essa prática é realizada por pessoas em qualquer estado de vida. Disse que é preciso examinar o grande número de homens e mulheres, casados e solteiros, com vida sexual ativa, que sofrem de tal distúrbio.
“A pedofilia é muito frequente dentro da família e com pessoas conhecidas. É absolutamente errado ligar o celibato a isso, não faz sentido e não corresponde aos dados reais”, explicou.
A sexualidade é uma bênção de Deus
A Igreja deve encontrar um modo novo de falar de sexualidade. Padre Amedeo destacou que, algumas vezes, os jovens sentem a Igreja como inimiga da felicidade sexual, porque a linguagem utilizada é sempre: não faça isso ou aquilo, isto é pecado e errado. “A Igreja, quando fala sobre sexualidade, é sempre de uma forma moralista. Muitos jovens abandonam a Igreja por causa disso, porque sabem que a sexualidade é uma força que está dentro deles. A sexualidade não vem de Belzebu, mas foi criada por Deus. É algo belo, luminoso, uma bênção de Deus. Não se pode mais falar sobre sexualidade apenas a partir do que não se pode fazer”, orientou.
Em síntese, ele disse que é preciso aprender a bendizer a sexualidade:
“Sexualidade é energia, um grande dinamismo, uma força e atração afetiva que faz com que sejamos capazes de amar. Ela abre o indivíduo para uma relação com outra pessoa. É o que faz com que a pessoa viva não apenas para si mesma, mas aberta ao outro, que é diferente. A sexualidade é uma energia relacional, que fecunda a vida em qualquer situação”, afirmou.
Vida em equilíbrio
Padre Amedeo disse ainda que a Igreja não deve ter vergonha de abordar a castidade e a virgindade. “Falar sobre estes temas, muitas vezes, é considerado algo ultrapassado, mas isso não é verdade. A pessoa que vive bem a própria castidade revela uma imensa liberdade e dignidade”, garantiu. Ele completou que é necessário apresentar um novo modo de vida, que demonstre que exercitar o autodomínio e o controle dos instintos gera uma vida equilibrada.
“A educação faz com que a pessoa seja capaz de controlar seu impulso sexual, o dinamismo que sente dentro de si. Essa disciplina é necessária não somente na área sexual, mas em tudo na vida. Como a sexualidade ocupa um posto central dentro da geografia psicológica, o controle desses impulsos na área afetiva e sexual é sempre benéfico, no aprendizado da regulação dos instintos”, concluiu.
Padre Amedeo é religioso canossiano, mestre em Ciências da Educação pela Universidade Salesiana de Roma e doutor em Psicologia pela Universidade Gregoriana de Roma. Atualmente, é mestre de clérigos em seu instituto, e professor de pastoral vocacional e formação para o discernimento na Universidade Salesiana. Desde 1995, é consultor da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Fonte: Arquirio