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Parece um hit brega, mas foi exatamente assim

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1011306_146214372239025_687562385_nSou Jussara Marques, tenho 27 anos, sou missionária da Comunidade de Vida da Comunidade Católica Shalom.

Conheci o Shalom em 1998, com 11 anos de idade, quando participei de um Seminário de Vida no Espírito Santo. Foi uma experiência muito forte que marcou intensamente a minha vida interior.  Mas infelizmente, meu grupo de oração não durou mais do que um ano e meio, era um grupo fora do Centro de Evangelização. E eu passei toda a minha adolescência e início da juventude sendo alimentada por uma catequese familiar, que era muito boa, mas não o suficiente para me manter atraída à vida cristã. Eu lia a Bíblia e o Catecismo da Igreja Católica. Acho que li os dois por inteiro antes dos meus 15 anos. Entendia bem, era capaz de falar sobre qualquer assunto da Igreja com tranquilidade, claro que, respeitando o entendimento de uma adolescente, mas precisava de algo vivo! Precisava de algo que custasse a vida!

Aos 17 anos, ingressei na UFRN, no curso de Filosofia, movida pelo desejo de encontrar verdades puras, pelo desejo belo, bom e verdadeiro. Mas nessa idade, a minha catequese já não tinha grande força sobre o meu comportamento. Não deixaria de fazer nada que eu quisesse fazer por aquilo ser pecado. Sentia que meu estilo de vida ia se distanciando cada vez mais da Igreja. Contudo, uma coisa não mudava: todo domingo eu estava na Missa, já que esta era uma regra bem clara dos meus pais, e eu morava “debaixo do teto deles”.

A universidade é um mundo sedutor, tudo que eu gostava encontrava naquele meio: livros, conversas entusiasmantes, política, arte, cultura, amigos, romances. Não demorou muito para meu pensamento tornar-se completamente relativista. Estava no movimento estudantil e estudava Simone de Beauvoir, já não achava possível encontrar verdades puras e nem que Deus tivesse mais algo a ver comigo. Nunca neguei a existência de Deus, pensava em não perder tempo com isso (também não podia negar o que senti na adolescência), mas preferia pensar que minha vida não estava ligada a Ele. Isso relaxava a minha consciência.

Foi quando no penúltimo ano da faculdade, com 21 anos, fui pagar uma cadeira complementar de Estética.  A proposta era fazer uma relação entre Nietzsche e uma obra de Dostoiévski, chamada “Memórias do Subsolo”.  A identificação com a personagem central do romance foi extremamente imediata, era um personagem  que apresentava muitos paradoxos, ele queria ser mal, mas nunca conseguia sê-lo o suficiente. Uma obra rica! Na metade do livro, surge uma outra personagem , a Lisa, e com ela toda uma moral cristã, que aos poucos foi lavando-me interiormente, expressões da minha infância como “alma esposa”  brotou das entrelinhas. Mais à frente, apareceram no romance relações claras com as cartas paulinas, mas o grande estopim foi quando o autor falou sobre a ressurreição, já não podia ler o texto longe da hermenêutica cristã, longe de uma hermenêutica esponsal, uma hermenêutica da ressurreição. Fiquei constrangida quando me dei conta de que tudo que acontecia no meu interior era obra do Espírito Santo que recebi no meu Batismo, e que Ele não me abandonou mesmo com tantas burradas de minha parte, mesmo quando já não queria ter minha vida relacionada ao Sagrado.

Já não podia mais viver da mesma forma, trazia dentro de mim algo Santo! O Belo, Bom e Verdadeiro que tanto busquei,1395320_174518999408562_1849615997_n que já havia cansado de buscar.  Sem mérito algum, Deus me revelou a Sua face… a face do Ressuscitado!

Não consegui permanecer em certas festas, não suportava ler qualquer coisa, e alguns filmes de arte que eu tanto gostava passaram a me dar náusea. Passei a me sentir como um sacrário, não podia me submeter a qualquer coisa. Rapidamente, deu para perceber que eu não iria muito longe só com a minha boa vontade de ter uma vida coerente com o Sagrado que habitava em mim. As quedas começaram a acontecer. Foi quando em agosto passei de ônibus na frente do Shalom de Petrópolis, em Natal, e algo dizia que eu deveria entrar naquela hora, ou jamais entraria novamente. Corri para o Shalom, fui acolhida por um irmão que estava fazendo a faxina, ainda era manhã, mas ele me levou para a capela, e me deixou só, diante do sacrário. Depois de uma longa conversa com o Senhor, num momento de oração que não me foi estranho (havia em mim uma certa intimidade com a Verdade), saí decidida a entrar na Obra Shalom. Não havia para mim outro lugar na Igreja, isso era certo, afinal foram termos que eu só havia ouvido no Shalom que me despertaram.

Acho que ali já era certo todo o resto, até mesmo ser Comunidade de Vida! Parece loucura, mas foi exatamente assim, queria consagrar-me a Deus ali, mesmo sem saber o que era Carisma, quem era Moysés, e pensando que o autor do “Enchei-vos” era um homem. Queria ir ganhar o mundo, queria fazer tudo, queria resgatar a dignidade de tantos jovens que estavam como eu, perdidos em tantas mentiras sedutoras.

Mas foi na vida de oração, na Palavra, que Deus foi vencendo minha razão. Ganhando-me por inteira, me fazendo promessa. Tem uma que Ele me fez enquanto fazia o estudo do “Enchei-vos”, na semana sobre “Pecado e Salvação”, que eu lembro todos os dias quando chego para as Laudes na minha casa comunitária. A profecia foi “Vou tirar você desse lugar e vou levar você para viver comigo, e não importa o que os outros vão pensar”. Ok! Parece um brega, mas foi exatamente assim. Eu moro numa casa que tem sacrário! Eu moro com o Senhor há 4 anos! Sou feliz! Todos os dias, mesmo os mais desafiantes, aqueles que coloca à prova tudo, eu lembro do lugar de onde o Senhor me tirou, lembro de Suas promessas, lembro que sou habitada! Não posso gastar minha vida de outra forma, que não seja pela Igreja, pelos jovens, pelos pobres, pelos “Tomés”, pelos homens.

Com um ano e meio de Obra, ingressei na Comunidade de Vida, passei pelo Rio de Janeiro, Quixadá, Senhor do Bonfim, estou em Aquiraz, no ‘coração da obra’, a Diaconia, trabalhando em favor dos jovens. Sou grata a Deus pela Sua forma inusitada e criativa de resgatar, de me apresentar a sua Ressurreição. Agora uso sem medo as palavras de São João Paulo II :

“Quisera multiplicar-me, dividir-me,
para escrever, pregar,
ensinar Cristo.
E do espírito mesmo do meu espírito
brota contundente e único grito:
Minha vida por Cristo!”

Jussara Marques


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